* ARTUR DE OLIVEIRA SANTOS *
[22/01/1884 - 27/06/1955]
Republicano muito prestigiado em Ourém, Artur de Oliveira Santos testemunhou, em Lisboa, a Revolução de 5 de Outubro de 1910.
Foi Administrador do Concelho de Vila Nova de Ourém quando do fenómeno de Fátima e combateu a Ditadura Militar desde os primórdios.
Participou na Revolta de 20 de Julho de 1928, esteve preso e exilou-se em Espanha em 1931, onde interveio na Guerra Civil, aí permanecendo até 1939/1940.
José Poças das Neves, no livro Artur de Oliveira Santos: um republicano idealista (1884 - 1955), o administrador de Ourém ao tempo das aparições de Fátima, editado pela Colibri em Maio de 2020, traça-lhe, detalhadamente e de forma documentada, o invulgar e sofrido percurso político.
[José Poças das Neves || Artur de Oliveira Santos: um republicano idealista (1884 - 1955) || Edições Colibri, 2020]
Livro recheado de informações e de documentação, nomeadamente a consultada na Torre do Tombo e no riquíssimo espólio familiar minuciosamente explorado por José Poças, importa aqui referir o percurso cívico e político de Artur de Oliveira Santos após a implantação da Ditadura Militar em 28 de Maio de 1926, tornando-se um persistente opositor com diversas consequências, desde a prisão, por várias vezes, ao exílio em Espanha, de onde só regressou em 1940.
Administrador do Concelho de Ourém, já não tinha pactuado com a ditadura sidonista, demitindo-se do cargo em 8 de Dezembro de 1917, aquando da subida de Sidónio Pais ao poder na sequência do movimento iniciado em 5 do mesmo mês. O 28 de Maio de 1926 apanhou-o, novamente, como Administrador do mesmo concelho, tendo sido demitido e substituído em 3 de Junho. Passava, definitivamente, para as fileiras da Oposição e aí se manteve activo, até falecer, no combate possível à ditadura que terminara com a 1.ª República.
Envolveu-se nos preparativos do movimento revolucionário de 20 de Julho de 1928, conhecido como a "Revolta do Castelo", quando era terceiro-oficial do Ministério das Colónias. Depois de ter andado fugido, acabou por ser preso em 1 de Setembro de 1928, em Leiria, e enviado para Santarém para ser interrogado. Em 4 de Setembro, seguiu para Lisboa, onde foi entregue, sob prisão, ao Delegado Especial do Ministério do Interior e, no dia seguinte, foi sujeito a interrogatório pela Polícia de Informação.
Nesse mesmo mês, foi encarcerado em Monsanto e, posteriormente, no Aljube, havendo fotografia com um grupo de presos, datada de 5 de Maio de 1929, onde consta a identificação dos 16 presos [pp. 234-235]: Adelino Magalhães (Lisboa); António Abreu (Lisboa); António Teixeira (Lisboa); Artur de Oliveira Santos (Vila Nova de Ourém); João Rodrigues da Silva (Lisboa - deportado); Manuel [?] (Lisboa); Manuel G. da Silva (Lisboa); Manuel Mota (Lisboa); Manuel Padeiro (Lisboa); Mário Maia (Lisboa); Miguel Monteiro (Espinho); Miguel Picado (Lisboa); Pina Marques (Lisboa); Silva Reis (Porto); Tércio de Miranda (Porto - deportado); e Videira (Sargento - Lisboa).
Libertado em 28 de Maio de 1929, fixou-se, novamente, em Vila Nova de Ourém.
Dois anos depois, durante a revolta da Madeira, iniciada em 4 de Abril de 1931, Artur de Oliveira Santos apareceu como um dos responsáveis pelo corte das linhas férreas e telegráficas em Albergaria dos Doze, ocorrido na noite de 1 para 2 de Maio. Na sequência do falhanço da revolta da Madeira e do envolvimento naquela tentativa de descarrilamento, saiu de Ourém, andou escondido e, em meados de Setembro, refugiou-se em Espanha, entrando por Badajoz, já depois da inconsequente revolta de 26 de Agosto.
O exílio em Espanha acabou por durar dez longos anos, entre 1931 e 1940, sobrevivendo mediante venda pedestre de gravatas e, durante a Guerra Civil, trabalho hospitalar, sempre à espera de poder regressar a Portugal e integrar um movimento revolucionário que acabasse com o regime ditatorial saído do 28 de Maio.
Manterá, durante essa década, intensos contactos com importantes refugiados e exilados portugueses espalhados por Espanha, acompanhando os seus esforços, dissensões e mobilizações para regressarem ao país. Apontado como próximo do "Grupo dos Budas", foi trocando correspondência com Bernardino Machado, a quem tratava por "Presidente da República Democrática de Portuguesa" [p. 252], exortando-o a pôr fim aos sucessivos conflitos entre as chefias, que minavam a união dos exilados, e pugnando pela criação de uma frente única que fizesse a Revolução. Encontra-se documentação no Arquivo Casa Comum, da Fundação Mário Soares, e é possível ler as missivas para Bernardino Machado no Blogue do Dr. Manuel Sá Marques, falecido em Fevereiro deste ano.
Com o início do golpe militar desencadeado por Franco contra o legítimo governo republicano, Artur de Oliveira Santos teve de abandonar a venda avulsa de gravatas e passou a trabalhar em diversos hospitais até à entrada triunfante das tropas daquele em Madrid, em Março de 1939.
São anos de luta pela sobrevivência económica, agravada por problemas de saúde, sempre com a esperança, sucessivamente frustrada, de que algo mudasse entre os exilados e em Portugal.
Entretanto, participou na reunião fundadora da União Anti-Fascista dos Emigrados Portugueses, realizada em Outubro de 1936, e aderiu ao Socorro Vermelho Internacional.
Preso, então, por três vezes, a última das quais por sete meses e meio, solicitou a intervenção do Cônsul português e acabou por voltar a Portugal, sendo preso na fronteira e interrogado pela PVDE em Fevereiro de 1940. Levado para Caxias, seria libertado em 16 de Março desse ano.
Seguem-se anos de dedicação a iniciativas em prol do seu concelho, mantendo algumas intervenções políticas, como a do apoio ao Almirante Quintão Meireles aquando das eleições presidenciais de 1951, na sequência do falecimento de Óscar Carmona.
Utilizou o pseudónimo João de Ourém e casou com Idalina de Oliveira Santos, de quem teve vários filhos, mantendo relevante correspondência com a família durante os anos de exílio.
Faleceu em 27 de Junho de 1955, aos 71 anos, sendo o seu desaparecimento noticiado com destaque de primeira página, incluindo fotografia, pelo jornal República, entre outros.
[José Poças das Neves || Artur de Oliveira Santos: um republicano idealista (1884 - 1955) || Edições Colibri, 2020]
[João Esteves]
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