[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

quinta-feira, 3 de março de 2022

[2734.] CONFLITOS LABORAIS [I] || PADEIRAS - 1823 (VILA VIÇOSA)

 * CONFLITOS LABORAIS *

PADEIRAS || VILA VIÇOSA || 1823

Segundo o Padre Joaquim José da Rocha Espanca, em meados de Abril de 1823, "as padeiras suspendem as suas fábricas e recolhem o pão cozido que tinham exposto nas vendas", exigindo a atualização da tabela das taxas de venda do pão.

Foram consideradas como autoras da greve Mariana Rita e Ana Luísa, as quais foram condenadas na pena de suspensão permanente do seu ofício.

No entanto, a interdição de exercerem o seu ofício acabou por ser levantada em 10 de Maio e, "apesar de tudo, venceram as padeiras nesta contenda, pois de futuro as taxas camarárias aproximaram-se mais dos interesses delas".

«Entretanto como os tempos eram de revolta as padeiras as padeiras fizeram também a sua. Não ouviam senão apregoar Liberdade! Liberdade e por outra parte observavam que, estando abolidas as taxas da Almotaçaria, só a do pão se conservava de pé. Tendo, pois, a Câmara arbitrado o preço de 30 rs ao arrátel de pão alvo porque se vendia o trigo a 630 o alqueire, aconteceu elevar-se logo este a 660 e as padeiras de seu motu próprio trataram de levantar o pão a 35. Era isto em 13 de Abril. Os Procuradores dos Misteres opõem-se ao levante e os Almotacéis proíbem-no por não ser autorizado pela Câmara. Então as padeiras suspendem as suas fábricas e recolhem o pão cozido que tinham exposto nas vendas. O povo quer comprar pão e não o encontra. Soltam-se vozes de rebelião contra a Câmara e há graves receios de se transtornar a ordem pública. Procedendo-se logo a uma devassa pelo Juízo da Almotaçaria, fechou-se esta em 26, dando por autoras da greve a Mariana Rita, moradora na rua da Freira e Ana Luísa, casada com Justiniano José Henriques, as quais foram condenadas na pena de suspensão permanente do seu ofício. Mas entretanto, na vereação de 19 do mesmo Abril, compareceu o Procurados dos Misteres Manuel Joaquim Ribeiro com o seu Escrivão Joaquim José de Oliveira e informaram que os padeiros que contravieram à taxa da Câmara foram: José do Carmo, na aldeia de S. Sebastião; Manuel da Fonseca, na rua dos Gentis, e João Rodrigues Cara-Linda, na rua do Espírito Santo, acrescentando que por isso que os haviam encoimado.
Não seria melhor acabar com as taxas e deixar livre a venda de pão, segundo o que concertassem compradores e vendedores? As padeiras tinham razão de queixa porque a tabela antiga das taxas assinava um real no arrátel de pão por cada vintém de custo do alqueire de trigo e, sendo então o preço deste 660 réis, devia o pão ser vendido a 33 ou 35 réis como elas queriam. O certo é que, apesar de tudo, venceram as padeiras nesta contenda, pois de futuro as taxas Camarárias aproximaram-se mais dos interesses delas e até as duas interditas continuaram a exercer o seu ofício porque lhes foi levantada a inibição em 10 de Maio. Neste mesmo dia, para evitar outra greve, amplia-se a Postura nº 61 impondo a pena de 6.000 réis às padeiras que deixassem de ter sempre pão cozido, posto à venda, e a mesma pena aos vendedeiros que o ocultassem aos compradores, ainda que fosse por ordem das suas donas. Isto mostra que a Câmara não deixava de estar assustada temendo motins do povo.»

[Memórias de Vila Viçosa, vol. 14
Padre Joaquim José da Rocha Espanca
Cadernos Culturais da Câmara Municipal de Vila Viçosa, Abril de 1984, pp 63-6]

[João Esteves]
[investigação datada de 1984]

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