* FAUSTO DA SILVA TEIXEIRA *
Militante do Partido Comunista Português durante a 1ª República, tendo sido preso em 1922, 1923, 1924 e 1925. Deportado neste ano para a Guiné, tal como outros militantes comunistas.
Preso em 06/08/1922, "por andar distribuindo manifestos revolucionários".
Preso em 26/08/1923, "por distribuir manifestos".
Preso em 09/07/1924, "por ser perigoso agitador e bombista"; libertado em 06/08/1924.
Preso em 11/05/1925, "por agitador"; libertado em 19/05/1925.
Deportado, em 29/05/1925, pelo Ministério do Interior para a Guiné, "por delitos sociais e legionário": seguiu a bordo do vapor Carvalho Araújo e desembarcou em 13/06/1925.
A bordo, iam também os militantes comunistas, todos sem julgamento, Alexandre José dos Santos, Luís Ferreira da Silva e o barbeiro Manuel Tavares, que faleceu dois meses depois, vítima dos rigores do clima tropical e da falta de assistência médica.
O blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné" contém informações relevantes sobre o seu percurso na Guiné: era, em 1928, dono de modernas serrações mecânicas e tornou-se exportador de madeiras tropicais, tendo mantido contatos com Amílcar Cabral e Luís Cabral, a quem ajudou a fugir, em 1960, para o Senegal.
Luís Cabral, na sua Crónica da Libertação (O Jornal, 1984), refere-se a Fausto Teixeira, o madeireiro português, como "deportado político [...] muito conhecido pelas suas opiniões contra o governo fascista" (p. 83), tendo tido um papel fundamental na sua fuga ao fornecer-lhe meios de transporte e acompanhando-o até ao Senegal de forma a escapar à vigilância da PIDE:
«Foi uma viagem deveras agradável o meu companheiro falou-me muito da sua vida política em Portugal, da sua prisão e do seu envio para a Guiné. Aqui, o governador deportou-o para a ilha de Bubaque, donde não podia sair. Pouco a pouco a pressão foi no entanto diminuindo, até ele poder viver como toda a gente.
Queria ajudar a luta de libertação da Guiné. Que podia ele fazer? A todo o momento estava pronto a correr os riscos necessários para nos ajudar. Considerava-se devedor dessa contribuição. Para já, estava em condições de tirar do país qualquer militante que tivesse de sair. Mesmo que não estivesse em Bissau, a pessoa que se sentisse em perigo podia tomar um carro e ir ter com ele à serração. Para facilitar a vida aos que não conhecessem o local, tinha pintado uma tira branca numa grande àrvore, a entrada do entroncamento que conduzia à serração, partindo da entrada de Mansabá a Bafatá. Mesmo vindo de Bissau no transporte coletivo, seria sempre possível parar nesse local e fazer o resto do caminho a pé.
Chegámos ao entroncamento e lá estava a árvore pintada de branco. Entrámos na serração e logo a seguir continuámos em direção à fronteira, perto da localidade de Fajonquito. A estrada tinha sido aberta pela Missão Geo-Hidrográfica e nunca era utilizada. A mata era tão cerrada que muitas vezes o caminho parecia de longe não poder dar passagem a um carro. Mas Fausto Teixeira conhecia bem o caminho que tinha sido recentemente reconhecido para servir as necessidades da nossa luta. Pouco depois, passávamos ao lado da tabanca de Fajonquito e em seguida o meu companheiro parava o carro e mostrava-me a tabanca senegalesa de Salekenié.
Com um apertado e fraternal abraço, despedimo-nos. Ele não quis que eu agradecesse. Alguns meses depois, o meu irmão mais novo, Fernando, era conduzido a este mesmo local [...]
Antifascista desde a sua juventude, via-se no comportamento de Fausto Teixeira toda a história de um velho democrata que amou profundamente a liberdade, lutou por ela e acabou por ser vencido pelas forças da repressão e do mal. No entusiasmo e dedicação que pôs no cumprimento desta arriscada missão, sentia-se todo o seu orgulho em poder participar na luta que então travávamos, também pela liberdade, contra os mesmos inimigos.
Devia ser por volta das três horas da madrugada quando nos separámos.» (Luís Cabral, pp. 86-87)
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