* CONFLITOS LABORAIS *
CIGARREIROS / CIGARREIRAS || LISBOA || 1871
Em 17 de Março de 1871, cerca de 150 cigarreiros e 300 cigarreiras da Fábrica de Xabregas da Companhia Nacional de Cigarros entraram em greve, exigindo, inicialmente, aumento de salário.
Numa segunda fase, pedem para serem readmitidos pelo salário antigo, anterior à ordem de diminuição salarial, isto porque os operários pediam aumento de salário e os diretores da Companhia queriam reduzi-lo: menos cinco réis na manufatura de cada quilo de cigarros de rolo e dez réis no de folha, continuando as mulheres a trabalhar pelo preço antigo. No entanto, estas, com exceção de cerca de vinte, aderiram à reivindicação dos homens, fazendo causa comum.
A greve prolongou-se por dez dias, tendo recomeçado a trabalhar no dia 27 de Março, tendo sido nomeadas comissões para levar aos jornais as suas queixa e negociar com os diretores. A imprensa era regularmente informada da evolução da situação.
Das reuniões saiu a decisão de retirar o pedido de aumento e a proposta de serem admitidos pelo salário antigo, sendo readmitidos os onze operários despedidos.
A fábrica chegou a ser cercada pela polícia civil e municipal, não tendo os operários visto satisfeitas as suas pretensões já que acabaram por aceitar a diminuição salarial proposta antes do início da greve.
Ficaram excluídos dois operários da comissão peticionária, acusados de responsáveis pelo tumulto, tendo os tipógrafos da Casa Lallemant promovido uma subscrição a seu favor. Também a Associação União Fraternal dos Operários do Fabrico do Tabaco nomeou uma comissão para angariar fundos.
«Crise Operária
Prosseguem as divergências acerca do salário do trabaho entre os operários e os diretores da fábrica de tabaco de Xabregas.
[...]
Na 6º feira foi publicada uma ordem na oficina dos cigarreiros diminuindo cinco réis em quilograma nos cigarros de rolo e dez réis nos de folha. Os operários, ao verem a ordem, sem tumulto [...] disseram que não podiam trabalhar por aquele preço, e respondeu-se aos seus queixumes que só continuariam a trabalhar os que quisessem submeter-se à ordem publicada, e os que não anuíssem seriam substituídos pelos do Porto que estão sem trabalho. Os operários saíram da fábrica e dirigiram-se aos caixas pedindo-lhes que lhes fosse aumentado o salário que tinham, anterior à redução [...]. A esse tempo já estavam despedidos da fábrica uns onze operários, como cabeças de motim, que não consta ter havido quando os pobres operários se queixavam da redução.
No sábado foram todos à fábrica, alguns acabar o trabalho que ficara de véspera, e todos receber a féria.
Voltaram ontem, esperando achar despacho do seu requerimento, mas respondeu-se-lhes novamente que só teriam trabalho os que se sujeitassem à redução.
Nestas condições, os homens em número de 150 e as mulheres umas 300, recusaram-se a trabalhar.
Tanto no sábado, como ontem, estiveram polícias junto à fábrica, mas não foi necessário a sua intervenção [...].
Reduzem-se as divergências a pedirem os operários aumento de salário e a pretenderem reduzi-lo os diretores da companhia [...].
São 400 operários que de um dia para o outro ficam sem pão [...].»
[O Diário Popular, 21/03/1871, p. 1, cols. 2-3]
«Continua a greve dos operários da fábrica de tabacos de Xabregas. Os srs. diretores não parecem dispostos a [...] cedendo da redução [...].»
[O Diário Popular, 22/03/1871, p. 1, col. 4]
«[...] os operários da fábrica de Xabregas [...] reunindo-se anteontem resolveram desistir do aumento de salário que tinham pedido. [...]
Os operários nomearam uma comissão para ir expor aos diretores a resolução que tinham tomado de ceder do aumento de salário e pedir que fossem admitidos os operários despedidos como cabeças de motim, que não consta que se tivesse dado. O diretor que os recebeu respondeu-lhes que se quisessem trabalhar se haviam de sujeitar à redução, mas que as mulheres poderiam continuar a trabalhar pelo antigo salário.
[...]
À última hora disseram-nos que os diretores da fábrica de Xabregas resolveram admitir os operários na segunda-feira, pelo preço antigo [...].»
[O Diário Popular, 23/03/1871, p. 1, col. 5]
«Não se confirma infelizmente a notícia de terem terminado as divergências entre a companhia de tabacos de Xabregas e os seus operários.
[...]
Ontem, foram à fábrica muitos operários cuidando que fossem melhores as disposições dos diretores, mas voltaram desenganados [...].»
[O Diário Popular, 24/03/1871, p. 1, col. 4]
«Continua no mesmo estado a pendência entre os diretores e os operários da fábrica de Xabregas. Os operários já cederam, mas os diretores ainda não [...].»
[O Diário Popular, 25/03/1871, p. 1, col. 1]
«[...] a miséria acabou com a greve dos operários de Xabregas. Os proprietários não cederam porque esperavam tal resultado e já ontem os operários voltaram para o trabalho, parece que aceitando as condições da companhia. Apenas dois ficaram excluídos, como cabeças de um motim que não existiu.»
[O Diário Popular, 28/03/1871, p. 2, col. 3]
[João Esteves]
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