[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

terça-feira, 15 de março de 2022

[2765.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [CLXII] || 1926 - 1933

 * PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || CLXII *

01106. Manuel Gregório Pestana Júnior [1926, 1926, 1928, 1928, 1931]

[Manuel Gregório Pestana Júnior || F. 11/12/1928 || ANTT || PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

[Intransigente de 1907, Republicano, Carbonário, Maçon, Administrador e Presidente da Câmara do Funchal, Deputado, opositor aos desígnios da "República Nova" de Sidónio Pais, Ministro, membro do diretório do Partido Republicano da Esquerda Democrática, opositor à Ditadura triunfante em 28 de Maio de 1926, preso (1926, 1926, 1928, 1928, 1931) e deportado (1926, 1927, 1929, 1931) por diversas vezes, apoiante das candidaturas de Norton de Matos e de Humberto Delgado, candidato da oposição pelo Funchal, para além de colaborador da imprensa, Manuel Gregório Pestana Júnior nunca se acomodou e acarretou com as duras consequências de quem lutou. Sempre.

Filho de Maria Carolina Ramos de Andrade e de Manuel Gregório Pestana, escrivão de Fazenda que chegou a ser Administrador do Concelho de Porto Santo no final do século XIX, nasceu em 16/08/1886, na freguesia de Nossa Senhora da Piedade, Vila Baleira - Porto Santo.

Fez a instrução primária em Porto Santo e iniciou o liceu no Funchal, prosseguindo-o em Lisboa, no Colégio de Campolide, que frequentou entre 01/10/1899 e meados de 1905. Aí se destacou enquanto estudante, orador, poeta e escritor. 

Matriculou-se, em 1905, na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde enfileirou no grupo de estudantes republicanos e foi um dos "160 intransigentes" da greve académica de 1907, despoletada pela reprovação, por unanimidade, de José Eugénio Dias Ferreira nas provas para obtenção do grau de "doutor" ocorridas em 27 e 28 de Fevereiro.

Em 1908, começou a colaborar no jornal conimbricense A Revolta, surgido em Dezembro sob a direção de Aníbal Ramada Curto. Integrou, no ano seguinte, o grupo coimbrão da carbonária e, em 1910, manteve participação ativa na organização civil e militar do centro do país que ia preparando o derrube da Monarquia.

Formou-se em 20/07/1910 e estava no Funchal quando se deu a revolução republicana, sendo nomeado Administrador do Concelho. Em 1912-1913 foi eleito Presidente da Câmara, iniciando-se na Maçonaria, na loja A Revolta (Coimbra), com o nome simbólico de "Bakunine". 

Eleito deputado pelo círculo do Funchal (1913-1917) e pelo círculo de Lisboa (1922-1926), integrou as listas do Partido Republicano Português, do Partido Democrático e, por fim, do Partido Republicano da Esquerda Democrática. Colaborou,  em 1918-1919, com as iniciativas promovidas pela União dos Sindicatos do Funchal.

Em 1924-1925, colaborou com a Câmara Municipal de Lisboa e, em 1924, foi nomeado pelo Ministro da Justiça,  José Domingues dos Santos, diretor das Cadeias Civis Centrais de Lisboa (Limoeiro), sendo afastado após o 28 de Maio de 1926. No curto ministério daquele, foi seu Ministro das Finanças (22/11/1924-15/02/1925).

Acompanhou-o na dissidência que levou à fundação do Partido Republicano da Esquerda Democrática: integrou o  Diretório e foi eleito deputado por Lisboa nas eleições de 08/11/1925.

Após o Golpe Militar de 28 de Maio de 1926, foi mandado apresentar-se no Ministério da Guerra e preso em 25/06/1926, juntamente com o general Sá Cardoso, coronéis Hélder Ribeiro e Álvaro Poppe, Álvaro Castro e José Eugénio Dias Ferreira, todos levados para bordo da Fragata D. Fernando II e Glória, e libertado em 03/07/1926, devido à indignação causada junto de vários setores. 

[O Século || 29/06/1926 || ANTT || PT-TT-MI-DGAPC-2-697-999]

[03/07/1926 || Libertação da Fragata, Pestana Júnior em companhia de Álvaro de Castro, Sousa Júnior, Oldemiro César e Félix Correia || ANTT ||  PT-TT-EPJS-SF-001-001-0003-0961A]

Neste mesmo mês, em 26/07/1926, seria "desligado do serviço" de Diretor das Cadeias Civis Centrais de Lisboa, passando a receber dois terços dos seus vencimentos.

[Diário de Lisboa || 26/07/1926 || p. 4]

Preso, sem qualquer fundamento, em 24/10/1926, em sua casa, e deportado para o Funchal em 27/10/1926, seguindo a bordo do navio São Miguel. Publicou, então, a folha avulsa Resposta a um miserável - Ao comandante Afreixo, Ministro da Marinha da Ditadura, datada de 11 de Novembro. 

[Manuel Gregório Pestana Júnior a bordo do navio São Miguel || F. 27/10/1926 || ANTT || PT/TT/EPJS/SF/001-001/0003/1215A]

Embora estivesse deportado na Madeira, na sequência da revolta de Fevereiro de 1927, que contou com o apoio da Esquerda Democrática, seria enviado para os Açores, Ponta Delgada, regressando, em meados desse mesmo ano, ao Funchal.

Em 18/04/1928, desembarcou em Lisboa, sendo preso para interrogatório em 15/06/1928, um mês antes da Revolta do Castelo, em cujos preparativos estava implicado, assim como outros elementos do Partido Republicano da Esquerda Democrática.

Continuando a conspirar na preparação de um movimento revolucionário aglutinador que pusesse fim à Ditadura Militar, voltou a ser preso em 18 de Novembro de 1928 e interrogado em 4 de Dezembro. Encarcerado na Penitenciária, seria, em 8 de Janeiro de 1929, deportado mais uma vez para os Açores, juntamente com Adelino António Miranda, António José ChícharoAntónio Neves Rodrigues, Ernesto Carneiro FrancoIlídio NogueiraJoaquim Pinto Lima Jorge Augusto da Silva FigueiredoJosé Lopes Soares, José Santos GraçaLuís de Loureiro da Conceição Melo Borges de CastroManuel Gregório Pestana Júnior Urbano Rocha Dantas.

Em 1931, aquando da Revolta de 4 de Abril, já se encontrava de novo no Funchal, tendo sido incumbido da gestão das finanças após o sucesso inicial do movimento, funcionando, ainda, como porta-voz civil da evolução dos acontecimentos. Desta vez, não tinha conhecimento do que se preparava, aderindo como "liberal, republicano e constitucionalista" e enquanto representante da Esquerda Democrática.

Derrotado o movimento, refugiou-se no navio britânico "London" com outros revolucionários, pedindo asilo. Daí passou para o navio de guerra "Curlew", acabando por ser entregue, dias depois, às autoridades portuguesas e deportado para a ilha do Sal, em Cabo Verde, onde permanecerá até Março de 1932. Devido à contração de uma grave biliosa, acabou por ser transferido de urgência para o Funchal e, de seguida, fixada residência, até meados de 1935, em Porto Santo, não tendo sido explicitamente contemplado na amnistia de 5 de Dezembro de 1932.

[24/08/1935 || ANTT || PT/TT/MI-GM/4-54/348]

Finda aquela obrigatoriedade, instalou-se no Funchal, exercendo a advocacia e integrando todos os movimentos oposicionistas.

Foi, em 1945, um dos organizadores do Movimento de Unidade Democrática (MUD) na Madeira, Em 1949, participou na campanha presidencial de Norton de Matos e, em 1958, na de Humberto Delgado, integrando a Comissão Distrital. Em 1961, foi candidato da oposição pelo Funchal, juntamente com Brito Câmara e Aníbal Trindade.

Faleceu em 19/08/1969, com 83 anos.

[Aires B. Henriques e Catarina Pestana Henriques || Pestana Júnior, «Profeta» Republicano || Edição "Villa Isaura", Pedrógão Grande || 2010]

O livro Pestana Júnior - "Profeta" Republicano (edição Villa Isaura, Pedrogão Grande, 2010), de Aires B. Henriques e de Catarina Pestana Henriques, bisneta de Manuel Gregório Pestana Júnior, é imprescindível na compreensão do seu percurso, para além da profusão de fotografias, muitas delas inéditas.] 

[João Esteves]

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