[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

sábado, 13 de maio de 2023

[3291.] NOTÍCIA CENSURADA SOBRE A VISITA DE JORNALISTAS A PRESOS POLÍTICOS E SOCIAIS || 1 DE ABRIL DE 1933 - O SÉCULO

 * ALGUNS PRESOS POLÍTICOS E SOCIAIS FORAM, ONTEM, OUVIDOS POR UM GRUPO DE JORNALISTAS" *

O SÉCULO || 01/04/1933

Notícia censurada || ANTT || PT-TT-EPJS-A-2-079

«A convite do diretor da Polícia de Defesa Política e Social, sr. dr. Rodrigo Vieira de Castro, um grupo de jornalistas interrogou, ontem, alguns presos políticos e sociais, a fim de verificar se, como se tem dito, esses indivíduos têm sido agredidos.

Na sede daquela Polícia, um redator do Século falou, na presença daquele senhor e de outras individualidades, com alguns dos presos, que estavam a ser interrogados.

O sr. José da Cruz, proprietário dum estabelecimento na Praia do Ribatejo, declarou que fora bem tratado, até àquele momento.

Afonso Martins da Silva, o "Sintra", rapaz novo, preso há 22 dias, disse que não havia sido agredido, mas a sua voz traía-o. O sr. tenente Rosa Mendes, que estava presente, declarou que lhe aplicara algumas bofetadas.

Manuel Jacinto, guarda-livros em Abrantes, gravemente enfermo, pois é diabético e não tem a dieta de que necessita, responde que não tinha de que queixar-se.

No Aljube, Joaquim Rodrigues Sequeira e Otávio Rebelo declararam que não tinham reclamações a fazer, pois ninguém lhes batera. O mesmo disse Joaquim Martinho do Rosário, comerciante em Santarém, cujo estado de saúde é muito precário.

Manuel dos Santos, 19 anos, preso por causa da morte de um polícia, em Alcântara, afirmou que lhe bateram, na Polícia de Segurança, como sucedera com outros rapazes, presos na mesma ocasião. Na Polícia de Defesa Social também lhe bateram com uma régua.

As autoridades policiais presentes confirmaram que, realmente, os presos sociais são castigados à reguada, quando persistem em negar, apesar das provas evidentes dos seus crimes.

O sr. engenheiro Raul Cohen perguntou, em primeiro lugar, ao sr. dr. Vieira de Castro, se o julgavam implicado na apreensão de material de guerra, como parecia depreender-se de uma nota oficiosa. Este senhor declarou que não.

O sr. engenheiro Cohen, em seguida, increpou o sr. tenente Rosa Mendes por, não respeitando a sua idade e a sua categoria, o obrigar a estar de pé, num interrogatório, desde as 3 horas até às 17, não lhe prestando socorro, antes o insultando, quando o viu cair, exausto, em convulsões. Acrescentou que aquele senhor o ameaçara com bofetadas, pelo que encarregara o antigo ministro sr. Bacelar Bebiano de apresentar o seu protesto junto do sr. presidente do Ministério.

O sr. tenente Rosa Mendes confirmou que oferecera bofetadas ao sr. Cohen, mas sem intenção de lhas dar.

Sampaio Cruz, também implicado no caso de Alcântara, disse que apanhou pancada na Polícia de Segurança.

A falta de luz não permitiu que fossem ouvidos mais presos pelos jornalistas.»

[O Século, 01/04/1933 - notícia não publicada por censurada

[João Esteves]

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