[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

quinta-feira, 25 de maio de 2023

[3307.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || CCXXXVI

PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || CCXXXVI * 

01433. Quirino de Oliveira Cabedal [1933]

[Abrantes, c. 1904, carpinteiro. Filiação: Augusta Antónia, Joaquim de Oliveira Cabedal. Casado. Residência: Rua dos Cascalhos - Tramagal. Preso em 13/04/1933 e entregue à SPS em 22/04/1933, por estar filiado no Partido Comunista, a que aderiu por intermédio de Zeferino Seabra Esteves, ingressando na organização do Tramagal: integrava o Comité Local, onde era o Secretário do Socorro Vermelho Internacional, e colaborava com António Paulo Mineiro, António Rodrigues Grácio Rosa e Eleutério Dias Pinheiro. Transferido para o Aljube em 06/10/1933. Julgado pelo TME em 07/03/1934, considerou-se que estava abrangido pela amnistia de 05/12/1932 e foi libertado no mesmo dia.]

[alterado em 22/03/2024]

01434. Raul de Meneses Correia [1933]

["O Sem Medo". Lisboa, c. 1909, criado no Albergue dos Inválidos do Trabalho. Filiação: Maria da Conceição Crespo, Joaquim de Jesus Meneses Correia. Solteiro. Residência: Rua Possidónio da Silva, 204. Preso em 18/02/1933, por pertencer às Juventudes Comunistas, a que aderiu por intermédio de Júlio Agostinho da Silva. A sua célula, a N.º 47, reunia nas terras do Sabido, a Campo de Ourique, e era controlada por Adolfo Teixeira Pais. Transferido para o Aljube em 06/10/1933. Julgado pelo TME em 02/03/1934, foi absolvido e libertado em 05/03/1934.]

[alterado em 22/03/2024]

01435. Serafim Rosa [1933]  

[Abrantes, c. 1893, trabalhador rural. Filiação: Vicência Maria, Francisco Cristóvão Rosa. Casado. Residência: Rio de Moinhos - Abrantes. Preso em 14/04/1933 e entregue à SPS em 22/04/1933, "por fazer parte da célula comunista de Rio de Moinhos", tendo aderido através de Zeferino Seabra Esteves. Mantinha ligações com Domingos Jorge Leitão. Transferido para o Aljube em 06/10/1933. Julgado pelo TME em 07/03/1934, por ter na sua posse uma pistola "Savage", foi condenado em 360 dias de prisão correcional e perda dos direitos políticos por cinco anos. Libertado em 10704/1934, por ter terminado a pena imposta pelo TME.] 

[alterado em 22/03/2024]

01436. João da Silva [1933]

[Preso pela Seção Política e Social em 02/10/1933. Transferido de prisão em 10/10/1933. Novamente transferido de cárcere em 11 ou 12/10/1933, provavelmente para o Forte de S. Julião da Barra. Transferido, em 07/11/1933, de S. Julião para o Porto. Transferido, em 10/11/1933, da SPS do Porto para o Aljube local. Pode tratar-se do escultor e medalhista João da Silva.]

[alterado em 22/03/2024]
[alterado em 23/03/2024]
[alterado em 10/04/2024]
[alterado em 13/04/2024]

01437. Pedro Batista da Rocha [1933, 1936, 1943]

[Pedro Batista da Rocha || F. 06/12/1943 || ANTT || RGP/288 || PT-TT-PIDE-E-010-2-288]

[Filho único de Hermínia do Carmo Batista e de António José da Rocha, músico militar preso por estar envolvido na Revolta Republicana de 31 de Janeiro de 1891, no Porto, Pedro Batista da Rocha nasceu em 25 de Julho de 1912, em Lisboa, Anjos, e cresceu em Alfama. Frequentou o Liceu Gil Vicente, tendo os amigos, as greves estudantis, as leituras, as dificuldades económicas e o ambiente familiar em torno dos ideais da República, contribuído para a sua adesão à luta contra a Ditadura Militar e militância comunista desde 1929. Usou os pseudónimos de "Hélder", nas Juventudes Comunista, de "Osvaldo", no Socorro Vermelho Internacional, e "José Pedro da Rocha". Segundo as suas memórias, intituladas Escrito com paixão [Caminho, 1991], com 18 anos era já membro das Juventudes Comunistas, tendo aderido por influência de César Maurício e trabalhado diretamente com Francisco de Paula Oliveira e, depois, com Fernando Quirino. Participou, então,  nas greves estudantis e nos comícios relâmpago. Detetado e procurado como ativista comunista desde 1932, Pedro Rocha desempenhou ainda trabalho partidário, entre outros, com Afonso Henriques VenturaAfonso Martins da SilvaÁlvaro Duque da FonsecaBento GonçalvesBernard FreundCarolina Loff da FonsecaCassiano Nunes DiogoEliseu MonteiroIsaac SoaresJoaquim Domingos LisboaJúlio dos Santos PintoManuel Augusto da Rosa AlpedrinhaMário Rodrigues PioTogo da Silva Batalha e Virgínio de Jesus Luís. Em 1933, integrou o Secretariado Político e Executivo das Juventudes Comunistas. Foi, simultaneamente, ativista, desde 1929, do Socorro Vermelho Internacional, em Lisboa, sendo funcionário da sua sede clandestina instalada no Regueirão dos Anjos. Posteriormente, em 1933, foi encarregado da sua reorganização no Alentejo e Algarve, assim como dos Comités Locais do Partido Comunista e das suas Juventudes: saiu de Lisboa em 19 de Junho e passou por Vale de Vargos, Aldeia Nova de São Bento, Beja, Aljustrel, Portimão, Lagos, Odeceixe, Monchique, Silves e Faro. Integrou, ainda, diversas agremiações, como a Associação dos Amigos da União Soviética, criada em 1931, Caixa Económica Operária e Clube Naval de Lisboa. Enquanto empregado comercial, foi delegado do seu sindicato, filiado na Comissão Intersindical (CIS). Preso, pela primeira vez, em 23 de Julho de 1933, juntamente com Rodrigo Ollero das Neves, na casa da Rua Bernardim Ribeiro, 57, 4.º, foi julgado pelo Tribunal Militar Especial em 22 de Janeiro de 1934, juntamente com mais vinte jovens, e condenado em dezoito meses de prisão correccional e perda dos direitos políticos por dois anos. Libertado em 27 de Janeiro do ano seguinte, tinha passado pela Penitenciária de Lisboa, Aljube e Peniche, mantendo colaboração em periódicos feitos, clandestinamente, pelos presos. Voltou a ser preso, «para averiguações», em 16 de Maio de 1936 e libertado em 26 do mesmo mês. Em Abril de 1937, dando seguimento ao apelo do Partido Comunista para que militantes e simpatizantes se juntassem às forças republicanas de Espanha e/ou porque tivesse sido enviado pela Frente Popular Portuguesa para se especializar em assuntos militares, Pedro Rocha saiu legalmente de Portugal para França, aproveitando a organização da Exposição Internacional de Artes e Técnicas Aplicadas à Vida Moderna. Embarcou no paquete "Aurigny", desembarcou no Havre, passou por Paris, onde contactou com os portugueses antifascistas residentes em França, assistiu ao 1.º de Maio em Lyon e, depois, atravessou os Pirenéus a pé e chegou a Figueras, na Catalunha, em Maio, após uma atribulada e tormentosa viagem. Em Espanha, manteve contactos estreitos com os portugueses Caetano JoãoCarolina Loff da FonsecaCésar de AlmeidaJaime de MoraisJosé RamosManuel Roque JúniorMário Batista ReisMiguel RamosÓscar MoraisUtra Machado e Telmo dos Santos, entre outros. Aí também se cruzou com Luís António Soares, "um homem de meia-idade", pai de Pedro Soares, seu camarada das Juventudes Comunistas. Por usar óculos, não pode ser piloto de caça, passando para a artilharia. Frequentou, segundo as suas memórias dactilografadas, a escola pré-militar de Pins del Vallès, em Sant Cugat del Vallès; a escola de comissários, cujo responsável militar era o major César de Almeida; e, por fim, a Escola de Artilharia N.º 2, em Lorca, perto de Valência, onde estavam mais cinco portugueses: Caetano JoãoManuel Roque JúniorMário Batista ReisMiguel Ramos e Óscar MoraisConcluído aquele curso, foi promovido a tenente de artilharia. Adstrito à Reserva Geral de Artilharia e colocado no 2.º Grupo de Canhões de 7.62, Pedro Rocha participou em combates no sector Tremp/Blaguer; Lérida; frente do Levante (Sagunto), entre outros. Foi quando estava em Lorca que, em Outubro de 1937, aderiu ao Partido Comunista de Espanha, talvez por intermédio de Mário Batista Reis, delegado português no Partido Socialista Unificado da Catalunha, integrando a célula da Escola Popular de Guerra N.º 2. Em finais de Outubro de 1938, terá passado a capitão, como consta do Certificado passado em nome de Juan Negrín López, Presidente do Governo de Espanha e Ministro de Defesa Nacional. Em Fevereiro de 1939, juntamente com Jaime CortesãoJaime de MoraisMário Fernandes e outros portugueses, saiu de Espanha e começou, durante cerca de dois anos e meio, a prolongada passagem pelos campos de internamento franceses: Argelès-sur-Mer, Gurs, novamente Argelès e, por fim, Vernet d'Arriège, vigiado por milícias de Vichy. Forçado pelas condições desumanas e políticas deste último campo, inscreveu-se para trabalhar, como voluntário, na Alemanha nazi, onde esteve como carregador na IGFarben, em Bitterfeld e, depois, em Berlim, no escritório da editora da revista “O Espelho de Berlim”, de propaganda nazi. Também terá trabalhado como locutor de rádio, ganhando razoavelmente. Invocando a necessidade de visitar os pais, regressou a Portugal no Verão de 1942, entrou em contacto com os antigos camaradas de Partido, agora sujeito a nova reorganização, e viveu numa semiclandestinidade até ser preso, «para averiguações», em 4 de Dezembro de 1943. Enviado para o Aljube, foi libertado em 19 de Janeiro de 1944. Nesse mesmo ano, em Maio, partiu para Angola, onde se manteve por mais de dois anos e continuou a ser vigiado e perseguido pela PIDE. Seguiu, então, para Brazaville e aí permaneceu, durante 14 anos, como locutor da RTF. Em fins de 1959, fixou-se no Brasil, trabalhando no Estado de São Paulo. Logo que eclodiu a Revolução de 25 de Abril, Pedro Rocha ofereceu, por carta, os seus préstimos profissionais ao Movimento das Forças Armadas, não tendo obtido qualquer resposta. Em 1976, ao fim de 28 anos de exílio e de 43 de militância antifascista, regressou a Portugal. João Varela Gomes, em artigo publicado no Diário de Lisboa de 9 e 10 de Setembro de 1983, dá amplo destaque ao percurso político de Pedro Rocha, inserindo documentação sua enquanto participante na Guerra Civil de Espanha. Voltou a dedicar um capítulo a Pedro Rocha no livro Guerra de Espanha. Achegas ao redor da participação portuguesa - 70 anos depois [Fim de Século, 2006.]

[João Esteves]

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