[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

segunda-feira, 8 de junho de 2020

[2376.] ANASTÁCIO GONÇALVES RAMOS [I] || PRESO, ENTRE 1927 e 1938, 10 VEZES

* ANASTÁCIO GONÇALVES RAMOS *
[26/02/1898 - 01/06/1957]

Operário metalúrgico no Porto, Anastácio Gonçalves Ramos desenvolveu importante intervenção sindical e política durante a 1.ª República, sendo considerado um orador que galvanizava os comícios realizados naquela cidade devido aos seus dotes de oratória. Preso por diversas vezes, tornou-se militante do Partido Comunista Português aquando da sua implantação no Porto, participou no movimento revolucionário de 3 Fevereiro de 1927, foi deportado para os Açores e para a Madeira, de onde se evadiu, e esteve exilado, por pouco tempo, em Vigo. Preso dez vezes entre 1927 e 1938, conheceu, entre outros estabelecimentos prisionais, o Aljube do Porto e Peniche, voltando a ser detido pela última vez em 1949. Nome muito respeitado entre o operariado e o sector intelectual, esteve associado à fundação da Sociedade Editora do Norte e, quando esta foi encerrada pela PIDE, criou a biblioteca itinerante "Afonso Ribeiro". Faleceu em 1957, tendo, em 1958, José da Silva, seu camarada um pouco mais velho, escrito o opúsculo Anastácio Ramos - Um Operário com História [Edição do Autor, 1958]. Em 1968, foi organizado uma romagem ao cemitério de S. Mamede de Infesta, onde está a sua campa, sendo oradores vários antifascistas.


[Anastácio Gonçalves Ramos || 03/07/1932 || ANTT || RGP/382 || PT-TT-PIDE-E-010-2-382]

Filho de Albina Gonçalves Ramos, Anastácio Gonçalves Ramos nasceu em 26 de Fevereiro de 1898, em Vizela. 

Operário funileiro / zinqueiro, cedo se destacou enquanto organizador de greves sócio-profissionais no Porto - tipógrafos, construção civil, Carris, manipuladores do pão - e orador em comícios. Em 1919, era um dos dirigentes do movimento operário do Porto, representando os operários funileiros na União Sindical Operária, tendo discursado, em 14 de Outubro desse ano, no comício realizado contra a carestia de vida, a par de Joaquim Silva, Secretário-Geral da USO, David Oliveira, Domingos Pereira, Frederico Tavares, Guilherme Gonçalves BaptistaJosé da Silva Miranda (classe dos tecelões de seda), Maciel Barbosa e Serafim Cardoso Lucena. Ainda nesse período, assinou, pontualmente, um texto no semanário A Bandeira Vermelha, órgão da Federação Maximalista Portuguesa, publicado em 1919-1920.

Dentro do movimento sindical, Anastácio Ramos tornou-se partidário da Internacional Sindical Vermelha e integrou o Núcleo Sindicalista Revolucionário do Porto, dinamizado pelo sapateiro José da Silva. Pouco depois, passou a militar no Partido Comunista e integrou a sua primeira direcção local, presidida por José da Silva e composta, ainda, por António Nunes, chefe de armazém, e José Moutinho, empregado de escritório.

Enquanto membro da direcção do Norte do Partido Comunista, interveio, em Março e Abril de 1926, no Bloco de Defesa Social criado no Porto para denunciar as deportações por motivos sociais e combater o avanço do fascismo, sendo um dos oradores nas sessões e comícios então realizados. No dia 4 de Abril, no comício realizado na Alameda das Fontainhas, foi um dos que discursou, juntamente com oradores que representavam outras formações e sensibilidades políticas e sindicais: Américo Cardoso (Partido Republicano Radical); Cerdeira Paiva (republicano liberal); Jerónimo de Sousa (da Confederação Geral do Trabalho, mas que falou a título pessoal); José Domingues dos Santos (Esquerda Democrática); Marcelino Pedro (Câmara Sindical do Trabalho do Porto e redactor de A Comuna); e Raul Tamagnini Barbosa (do Partido Republicano Radical, mas que também tomou a palavra enquanto ).

Durante as comemorações do 1.º de Maio de 1926, interveio, enquanto membro do Partido Comunista, no comício realizado nas Fontainhas, tendo sido alvo de ataques de sectores anarco-sindicalistas. Segundo José da Silva relata nas suas Memórias de um operário, Anastácio Ramos, «com a sua voz de trovão, chamou a si a atenção geral da grande assembleia» e, «como era do seu estilo [...] abriu as suas considerações com um violento ataque ao Capitalismo, lançando-lhe os seus anátemas ao jeito de excomunhões, táctica que sempre levava ao rubro os trabalhadores que o escutassem, o que desde logo lhe granjeou uma formidável ovação». 

Ainda no mesmo mês, fez parte dos sete delegados do Porto ao II Congresso do Partido Comunista, realizado em Lisboa nos dias 29 e 30. Preso e libertado várias vezes durante a 1.ª República, Anastácio Ramos terá sido o principal promotor do Socorro Vermelho Internacional na cidade do Porto e as prisões iriam suceder-se com o triunfo da Ditadura Militar e a fascização do país. 

Participou, com o seu grupo, na revolução de 3 Fevereiro de 1927, refugiou-se em Espanha na sequência do seu fracasso (Processo 37/Porto) e terá sido preso ainda em 1927, disso dando conta Augusto Alves Rito em carta a Bernardino Machado, datada de 17 de Setembro desse ano: «[...] no Porto foi também preso o Anastácio Ramos, que esteve na Corunha também emigrado. Este Ramos é aquele rapaz comunista, para quem eu pedi a V. Ex.ª que o Cônsul lhe passasse um salvo-conduto» [(1927), Sem Título, Fundação Mário Soares / DBG - Documentos Bernardino Machado, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_100433 (2020-6-8)]. 

O seu Cadastro Político, arquivado na Torre do Tombo, começa por indicar a influência que, enquanto sindicalista comunista, Anastácio Gonçalves Ramos tinha na mobilização dos operários, datando de 9 de Fevereiro de 1928 a primeira prisão registada enquanto preso pela Delegação do Porto, «por ser revolucionário avançado» e «elemento comunista».

Libertado em 29 de Abril de 1928, manteve-se sob vigilância do «agente secreto N.º 39» e voltaria a ser preso pela Delegação do Porto em 1 de Outubro de 1930, a pedido da Polícia de Lisboa. Enviado para a capital no dia seguinte, acusado de fazer «parte de um grupo organizado pelo Comité Secreto do Partido Comunista e dedicado à prática de atentados pessoais», foi deportado para os Açores em 8 de Outubro [Processo 4695-J]. Seguiu na embarcação "Lima" juntamente com os militantes comunistas António Nunes, Bento Gonçalves, Francisco Pereira de Sousa e José da Silva, para além de outros deportados políticos, tendo sido cantada a Internacional pelos «presos e muitos seus familiares e amigos que deles se foram despedir à praia de Santos, em Lisboa» ["Comunistas deportados", Avante N.º 1735, 01/03/2007]. 

Evadiu-se, em 13 de Abril de 1931, da Ilha da Madeira, onde estava com residência fixada, a bordo do vapor "Guiné", juntamente com o comandante Sebastião da Costa e outros. Desembarcou em frente de Tavira, seguiu para o Norte, onde permaneceu alguns dias em Espinho e, depois, seguiu para Vigo, onde permaneceu até próximo do Natal. Regressou a Portugal e refugiou-se em sua casa, onde foi preso em 26 de Junho de 1932. Por despacho do Ministro do Interior, foi mandado restituir à liberdade em 14 de Julho [v. Processo 96/Porto]. 

Preso, no Porto, em 10 de Maio de 1933, «por fazer distribuição de propaganda comunista», e libertado em 24 de Maio. 

[Anastácio Gonçalves Ramos || 03/07/1932 || ANTT || RGP/382 || PT-TT-PIDE-E-010-2-382]

Preso pela Delegação do Porto em 17 de Janeiro de 1935 e libertado em 19 de Janeiro, voltou a ser detido em 2 de Fevereiro, por «manter ligações com comunistas foragidos das Astúrias» [Processo 16/Porto, Processo 1388/SPS]. Enviado para o Aljube do Porto e libertado em 25 de Abril, voltou a a conhecer a prisão pela terceira vez nesses ano. 

Preso em 2 de Dezembro e enviado para Peniche em 22 de Dezembro. Aí permaneceu seis meses e foi tirada esta fotografia, cedida pelo seu primo Tiago Casal Ribeiro, onde constam, também, os presos políticos Manuel Casal Ribeiro, António Gomes da Silva, "O Russo", Horácio Monteiro Barbosa e Carlos Dias da Fonseca. 

[Fortaleza de Peniche || 1.º Semestre de 1936 || Em cima: Manuel Casal Ribeiro, António Gomes da Silva "O Russo" e Anastácio Gonçalves Ramos; em baixo: Horácio Monteiro Barbosa e Carlos Dias da Fonseca]
[Fotografia disponibilizada por Tiago Casal Ribeiro, neto de Manuel Casal Ribeiro e primo de Anastácio Ramos]

Voltaria ao Porto em 28 de Maio de 1936, onde foi julgado pelo TME em 5 de Junho e libertado no dia seguinte [Processo 2220/35].

As prisões sucediam-se e, em 17 de Outubro, seria detido pela Delegação do Porto e libertado em 23 de Dezembro de 1936. Novamente preso pela Delegação do Porto em 14 de Janeiro de 1938 e julgado pelo TME em 10 de Agosto, foi absolvido e libertado em 17 do mesmo mês [Processo 1184/37].

[Anastácio Gonçalves Ramos || 03/07/1932 || ANTT || RGP/382 || PT-TT-PIDE-E-010-2-382]

A sua última prisão, a décima primeira sob a Ditadura, data de 12 de Fevereiro de 1949, em Vila Nova de Gaia, onde vivia, sendo libertado em 26 de Março [Processo 1167/949].

Segundo depoimento de Carlos Pereira Soares, Anastácio Ramos terá sido «o homem mais espectacular que eu conheci em toda a minha vida. Ele deu-se muito bem com o Abel Salazar; com essa gente que parava ali na Brasileira, e no Rialto, e com outros fez uma associação, que era a SEN - Sociedade Editora do Norte. Tinham sócios, e era através dessa sociedade que a gente requisitava livros, toda a gente. A PIDE investe contra isso e acaba a SEN. E esse Anastácio Ramos faz uma biblioteca itinerante, chamada Afonso Ribeiro. Pegado ao Piolho, havia um café que era de um homem da oposição, e aí se juntavam os elementos da direcção dessa biblioteca itinerante, emprestavam livros, a gente pagava 5 tostões ou 2 tostões ou 3 tostões, já não sei quanto era, e levava o livro para casa. Se não pagasse também levava» [http://cdi.upp.pt/cgi-bin/mostra_entrevista.py?doc=E06r].

Faleceu em 1 de Junho de 1957, ano em que José da Silva editou, por conta própria, o opúsculo Anastácio Ramos (um operário com história).

 
[José Pacheco Pereira || Ephemera|| http://officialjpp.com/bio-r.html]

Dez anos depois, em 1968, Sérgio Valente fotografou a romagem feita ao túmulo de Anastácio Gonçalves Ramos, localizado no cemitério de S. Mamede de Infesta - Matosinhos, tendo discursado vários oposicionistas ao regime, como Neves Fernandes e Zé "Barbeiro".




[Sérgio Valente, um fotógrafo na oposição || Edições Afrontamento || 2010]

NOTA I: Agradeço a Tiago Casal Ribeiro a relevante correcção do ano do falecimento de Anastácio Gonçalves Ramos, localizando-o em 1957 e não 1958. Segundo a mesma informação, datada de 11 de Agosto de 2020, o primo direito Manuel Casal Ribeiro também esteve preso em Peniche em 1935/36.

NOTA II: Novo agradecimento a Tiago Casal Ribeiro pela fotografia dos cinco presos políticos na Fortaleza de Peniche, datada do 1º semestre de 1936 e enviada em 3 de Fevereiro de 2022.

[João Esteves]
[corrigida data de falecimento em 11/08/2020]
[alterada em 04/02/2022]

domingo, 7 de junho de 2020

[2375.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS - DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [XLI] || 1926 - 1933

* PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || XLI *

00386. Anastácio Gonçalves Ramos [1927, 1928, 1930, 1932, 1933, 1935, 1935, 1935, 1936, 1938, 1949]

[Anastácio Gonçalves Ramos || F. 03/07/1932 || ANTT || RGP/382 || PT-TT-PIDE-E-010-2-382]

[Operário metalúrgico no Porto, Anastácio Gonçalves Ramos desenvolveu importante intervenção sindical e política durante a 1.ª República, sendo considerado um orador que galvanizava os comícios realizados naquela cidade devido aos seus dotes de oratória. Preso por diversas vezes, tornou-se militante do Partido Comunista Português aquando da sua implantação no Porto, participou no movimento revolucionário de 3 Fevereiro de 1927, foi deportado para os Açores e para a Madeira, de onde se evadiu, e esteve exilado, por pouco tempo, em Vigo. Preso dez vezes entre 1927 e 1938, conheceu, entre outros estabelecimentos prisionais, o Aljube do Porto e Peniche, voltando a ser detido pela última vez em 1949. Nome muito respeitado entre o operariado e o sector intelectual, esteve associado à fundação da Sociedade Editora do Norte e, quando esta foi encerrada pela PIDE, criou a biblioteca itinerante "Afonso Ribeiro". Faleceu em 1957, tendo, em 1958, José da Silva, seu camarada um pouco mais velho, escrito o opúsculo Anastácio Ramos - Um Operário com História (Edição do Autor, 1958). Em 1968, foi organizado uma romagem ao cemitério de S. Mamede de Infesta, onde está a sua campa, sendo oradores vários antifascistas.

Vizela, 26/02/1898, metalúrgico: funileiro / zinqueiro - Porto. Filiação: Albina Gonçalves Ramos. Casado. Residência: Rua da Glória, 76 (Ilha) - Porto / R. Camilo Castelo Branco - Candal, Vila Nova de Gaia. Cedo se destacou enquanto organizador de greves socioprofissionais no Porto - tipógrafos, construção civil, Carris, manipuladores do pão - e orador em comícios. Em 1919, era um dos dirigentes do movimento operário do Porto, representando os operários funileiros na União Sindical Operária, tendo discursado, em 14 de Outubro desse ano, no comício realizado contra a carestia de vida, a par de Joaquim Silva, Secretário-Geral da USO, David OliveiraDomingos PereiraFrederico TavaresGuilherme Gonçalves BaptistaJosé da Silva Miranda (classe dos tecelões de seda), Maciel Barbosa e Serafim Cardoso Lucena. Ainda nesse período, assinou, pontualmente, um texto no semanário A Bandeira Vermelha, órgão da Federação Maximalista Portuguesa, publicado em 1919-1920. Dentro do movimento sindical, Anastácio Ramos tornou-se partidário da Internacional Sindical Vermelha e integrou o Núcleo Sindicalista Revolucionário do Porto, dinamizado pelo sapateiro José da Silva. Pouco depois, passou a militar no Partido Comunista e integrou a sua primeira direcção local, presidida por José da Silva e composta, ainda, por António Nunes, chefe de armazém, e José Moutinho, empregado de escritório. Enquanto membro da direcção do Norte do Partido Comunista, interveio, em Março e Abril de 1926, no Bloco de Defesa Social criado no Porto para denunciar as deportações por motivos sociais e combater o avanço do fascismo, sendo um dos oradores nas sessões e comícios então realizados. No dia 4 de Abril, no comício realizado na Alameda das Fontainhas, foi um dos que discursou, juntamente com oradores que representavam outras formações e sensibilidades políticas e sindicais: Américo Cardoso (Partido Republicano Radical); Cerdeira Paiva (republicano liberal); Jerónimo de Sousa (da Confederação Geral do Trabalho, mas que falou a título pessoal); José Domingues dos Santos (Esquerda Democrática); Marcelino Pedro (Câmara Sindical do Trabalho do Porto e redactor de A Comuna); e Raul Tamagnini Barbosa (do Partido Republicano Radical, mas que também tomou a palavra enquanto ). Durante as comemorações do 1.º de Maio de 1926, interveio, enquanto membro do Partido Comunista, no comício realizado nas Fontainhas, tendo sido alvo de ataques de sectores anarcossindicalistas. Segundo José da Silva relata nas suas Memórias de um operárioAnastácio Ramos, "com a sua voz de trovão, chamou a si a atenção geral da grande assembleia» e, «como era do seu estilo [...] abriu as suas considerações com um violento ataque ao Capitalismo, lançando-lhe os seus anátemas ao jeito de excomunhões, táctica que sempre levava ao rubro os trabalhadores que o escutassem, o que desde logo lhe granjeou uma formidável ovação". Ainda no mesmo mês, fez parte dos sete delegados do Porto ao II Congresso do Partido Comunista, realizado em Lisboa nos dias 29 e 30. Preso e libertado várias vezes durante a 1.ª República, Anastácio Ramos terá sido o principal promotor do Socorro Vermelho Internacional na cidade do Porto e as prisões iriam suceder-se com o triunfo da Ditadura Militar e a fascização do país. Participou, com o seu grupo, na revolução de 3 Fevereiro de 1927, refugiou-se em Espanha na sequência do seu fracasso (Processo 37/Porto) e terá sido preso ainda em 1927, disso dando conta Augusto Alves Rito em carta a Bernardino Machado, datada de 17 de Setembro desse ano: "[...] no Porto foi também preso o Anastácio Ramos, que esteve na Corunha também emigrado. Este Ramos é aquele rapaz comunista, para quem eu pedi a V. Ex.ª que o Cônsul lhe passasse um salvo-conduto" [(1927), Sem Título, Fundação Mário Soares / DBG - Documentos Bernardino Machado, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_100433 (2020-6-8)]. O seu Cadastro Político, arquivado na Torre do Tombo, começa por indicar a influência que, enquanto sindicalista comunista, Anastácio Gonçalves Ramos tinha na mobilização dos operários, datando de 09/02/1928 a primeira prisão registada enquanto preso pela Delegação do Porto, "por ser revolucionário avançado" e "elemento comunista". Libertado em 29/04/1928, manteve-se sob vigilância do "agente secreto N.º 39" e voltaria a ser preso pela Delegação do Porto em 01/10/1930, a pedido da Polícia de Lisboa. Enviado para a capital no dia seguinte, acusado de fazer "parte de um grupo organizado pelo Comité Secreto do Partido Comunista e dedicado à prática de atentados pessoais", foi deportado para os Açores em 08/10/1930 (Processo 4695-J). Seguiu na embarcação "Lima" juntamente com os comunistas António NunesBento GonçalvesFrancisco Pereira de Sousa e José da Silva, para além de outros deportados políticos, tendo sido cantada a Internacional pelos "presos e muitos seus familiares e amigos que deles se foram despedir à praia de Santos, em Lisboa" ("Comunistas deportados", Avante  1735, 01/03/2007). Evadiu-se, em 13/04/1931, da Ilha da Madeira, onde estava com residência fixada, a bordo do vapor "Guiné", juntamente com o comandante Sebastião da Costa e outros. Desembarcou em frente de Tavira, seguiu para o Norte, onde permaneceu alguns dias em Espinho e, depois, refugiou-se em Vigo, onde permaneceu até próximo do Natal. Regressou a Portugal e refugiou-se em sua casa, onde foi preso em 26/06/1932. Por despacho do Ministro do Interior, foi mandado restituir à liberdade em 14/07/1932 (v. Processo 96/Porto). Preso, no Porto, em 10/05/1933, "por fazer distribuição de propaganda comunista", e libertado em 24/05/1933. Preso pela Delegação do Porto em 17/01/1935 e libertado em 19/01/1935. Preso pela Delegação do Porto em 02/02/1935, por "manter ligações com comunistas foragidos das Astúrias" (Processo 16/PortoProcesso 1388/SPS), enviado para o Aljube do Porto e libertado em 25/04/1935. Preso em 02/12/1935, enviado para Peniche em 22/12/1935, transferido para o Porto em 28/05/1936, julgado pelo TME em 05/06/1936 e libertado em 06/06/1936 (Processo 2220/35). Preso pela Delegação do Porto em 17/10/1936 e libertado em 23/12/1936. Preso pela Delegação do Porto em 14/01/1938, julgado pelo TME em 10708/1938 absolvido e libertado em 17/08/1938 (Processo 1184/37).

[Anastácio Gonçalves Ramos || 14/02/1949 || ANTT || RGP/382 || PT-TT-PIDE-E-010-2-382]

A sua última prisão, a décima primeira sob a Ditadura, data de 12/02/1949, em Vila Nova de Gaia, onde vivia, sendo libertado em 26 de Março (Processo 1167/949). Segundo depoimento de Carlos Pereira Soares, Anastácio Ramos terá sido "o homem mais espectacular que eu conheci em toda a minha vida. Ele deu-se muito bem com o Abel Salazar; com essa gente que parava ali na Brasileira, e no Rialto, e com outros fez uma associação, que era a SEN - Sociedade Editora do Norte. Tinham sócios, e era através dessa sociedade que a gente requisitava livros, toda a gente. A PIDE investe contra isso e acaba a SEN. E esse Anastácio Ramos faz uma biblioteca itinerante, chamada Afonso Ribeiro. Pegado ao Piolho, havia um café que era de um homem da oposição, e aí se juntavam os elementos da direcção dessa biblioteca itinerante, emprestavam livros, a gente pagava 5 tostões ou 2 tostões ou 3 tostões, já não sei quanto era, e levava o livro para casa. Se não pagasse também levava" (http://cdi.upp.pt/cgi-bin/mostra_entrevista.py?doc=E06r). Faleceu em 01/06/1957, tendo José da Silva editado em 1958, por conta própria, o opúsculo Anastácio Ramos (um operário com história)Dez anos depois, em 1968, Sérgio Valente fotografou a romagem feita ao túmulo de Anastácio Gonçalves Ramos, localizado no cemitério de S. Mamede de Infesta - Matosinhos, tendo discursado vários oposicionistas ao regime, como Neves Fernandes e Zé "Barbeiro".]
[alterado em 20/12/2021]

[João Esteves]

[2374.] AGOSTINHO ANDRÉ MENDES DE CARVALHO - UANHENGA XITU [I] || JOSÉ LUÍS - MARINHA DE GUERRA PORTUGUESA (1962)

* AGOSTINHO ANDRÉ MENDES DE CARVALHO || UANHENGA XITU *
[29/08/1924 - 13/02/2014]

[Uanhenga Xitu || Os sobreviventes da máquina colonial depõem... || União dos Escritores Angolanos - Edições 70 || 1980]

Preso pela PIDE em 1959 e julgado pelo Tribunal Militar, tendo sido condenado a doze anos de prisão maior, medidas de segurança de seis meses a três anos prorrogáveis e perda de direitos políticos por quinze anos. Enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal, rebaptizado por Adriano Moreira, enquanto Ministro do Ultramar, Campo de Trabalho de Chão Bom [Portaria N.º 18539, de 17 de Junho de 1961], onde permaneceu durante oito anos, de 1962 a 1970.

Nas "Dedicatórias e Memorações" do livro Os sobreviventes da máquina colonial depõem... [União dos Escritores Angolanos - Edições 70, 1980], Agostinho André Mendes de Carvalho / Uanhenga Xitu evoca o soldado português José Luís que, durante o transporte da Ilha do Sal para o Tarrafal, se mostrou solidário com os nacionalistas angolanos presos e ajudou a suportar a viagem.


[Uanhenga Xitu || Os sobreviventes da máquina colonial depõem... || União dos Escritores Angolanos - Edições 70 || 1980]

sábado, 6 de junho de 2020

[2373.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS - DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [XL] || 1926 - 1933

* PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || XL *

0380. Américo Rodrigues [1928, 1930, 1937]

[Ponte de Lima, 08/06/1901, barbeiro - Lisboa. Segundo apontamento referente a 1920, estaria ligado ao integralismo. Vigiado, em 1928, pelo informador Barreira, que dá conta de reuniões no seu estabelecimento com o alferes Quaresma e os tenentes Seixas e Gonçalves. Preso em 07/11/1928 e solto em 23/11/1928 (Processo 4089). Preso em 09/01/1930, por suspeita de distribuir os panfletos clandestinos "À última hora", e libertado em 13/01/1930. Preso pela Secção Política e Social da PVDE em 05/07/1937, recolheu à 1.ª Esquadra e levado para uma esquadra, incomunicável. Transferido, em 26/07/1937, para a 1.ª Esquadra e enviado para o Aljube em 09/08/1937. Libertado em 01/10/1937].

0381. Américo Rodrigues [1929] 

[Porto, 1905, 1.º Cabo de Caçadores 7. Preso em 27/03/1929, por fazer parte da organização revolucionária do Batalhão de Caçadores 7. Entregue às autoridades militares em 18/04/1929 (Processo 4275). Deportado para a Guiné em 30/05/1929. Deixou de ser considerado deportado em 16/11/1929, tendo declarado não querer regressar ao Continente].

0382. Américo Soares de Sousa [1933]

[Por despacho de 07/10/1933, foi determinado que lhe fosse fixada residência obrigatória na freguesia de Guilhufe, concelho de Penafiel].

0383. Amílcar Pereira Dias [1928, 1938, 1938]

[Arcos de Valdevez, 29/06/1876, sapateiro / agente comercial - Porto. Identificado, em 1927, como anarquista, tendo participado no movimento revolucionário de Fevereiro de 1927. Vigiado, foi à porta da sua casa que, em 23/02/1928, terá sido assassinado um agente da polícia e ferido outro. Preso em 29/02/1928, no Porto, por ter guardado em sua casa bombas. Levado para o Aljube local (Processo 350/Porto) e enviado, em 25/03/1928, à Polícia de Informações de Lisboa (v. Processo 57/Porto). Deportado para a Guiné em 04/05/1928 (v. Processo 3691).  Preso pela Delegação do Porto da PVDE em 14/02/1938 (Processo 1496/37). Libertado em 26/02/1938 e preso em 29/04/1938, para ir a julgamento. Julgado pelo TME em 12/07/1938 e libertado em 30/08/1938 por ter sido indultado].

0384. Amílcar Pinheiro da Rocha [1927 (?), 1933]

[Lisboa, 1901, ex-1.º Sargento Condutor de Máquinas da Marinha de Guerra - Lisboa. Participou no movimento revolucionário de 07/02/1927, em Faro, a bordo da canhoneira "Bengo", tendo sido, então, afastado da Marinha. Preso pela PSP e entregue à PVDE em 23/11/1933 (Processo 857). Libertado em 02/12/1933. Requereu a sua reintegração em Junho de 1936].

0385. Amílcar Rebelo Ribeiro [1933]

[Bombarral, 1906, ferroviário - Bombarral. Preso em 24/04/1933 (Processo 720) e libertado em 26/04/1933].
 
[João Esteves]

sexta-feira, 5 de junho de 2020

[2372.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS - DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [XXXIX] || 1926 - 1933

* PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || XXXIX *

00370. Américo Halley Ferreira [1930, 1931, 1934]

[Lisboa, 1910, ex-1.º Cabo de Caçadores 7. Preso em 28/07/1930 e entregue às autoridades militares em 07/09/1930 (Processo 4670). Reenviado, em 30/11/1930, à Polícia pelas entidades militares, por ter sido eliminado dos Quadros do Exército. Libertado em 01/01/1931. Preso, em 28/10/1931, pela Secção de Justiça e Informações do Comando da PSP de Lisboa e libertado em 06/11/1931 (Processo 176). Preso pelo Comando da PSP de Lisboa e entregue em 18/04/1934 (Processo 1116). Libertado em 18/04/1934].

00371. Américo Jorge [1926 (?)] 

[2.º Sargento do R. A. C. N.º 2. Deportado nas colónias - apresentou-se, em 15/11/1929, no Ministério do Interior].

00372. Américo José Coelho [1932]

[Massarelos, 1896, serralheiro. Preso pela Delegação do Porto em 03/09/1932. Libertado em 10/10/1932 (Processo 118/Porto].

00373. Américo José [1933]

[1914, pintor - Lisboa. Preso pela PSP de Lisboa e enviado à Polícia de Defesa Política e Social pela Polícia de Investigação Criminal em 15/11/1933 (Processo 4015/PIC)].

00374. Américo Martins Cardoso [1933, 1939]

[Américo Martins Cardoso || 16/02/1939 || ANTT || RGP/ 11096 || PT-TT-PIDE-E-010-56-11096]

[Pará - Brasil, 19/11/1897, servente de pedreiro - Lisboa. Preso pela PSP de Lisboa em 20/08/1933 e entregue em 21/08/1931 (Processo 779). Libertado em 04/09/1933. Preso pela PSP e entregue à PVDE em 15/02/1939, recolhendo à 1.ª Esquadra. Entregue ao Governo Militar de Lisboa em 18/03/1939 (Processo 183/939)].

00375. Américo Martins da Costa [1932]

[Porto, 1894, ferroviário reformado - Porto. Preso em Lisboa em 02/04/1932, seguiu, nesse mesmo dia, para o Porto].

00376. Américo Mendes Quaresma [1931]

[Figueiró dos Vinhos, 1911, empregado no comércio. Preso, em 12/11/1931, pela Secção de Justiça e Informações do Comando da PSP de Lisboa. Libertado em 23/11/1931 (Processo 156)].

00377. Américo Pereira Barbosa [1931, 1932, 1934]

[Lisboa, 1906, empregado comercial - Lisboa. Filiação: Maria Joana Barbosa e Francisco Alves Barbosa. Solteiro. Preso, em 20/07/1931, em Coruche e libertado em 22/07/1931. Preso em 27/05/1932 (Processo 393), juntamente com António Isidoro, Ernesto SilvaManuel Amoedo dos Santos e Mário César Costa Santos, todos levados para o Aljube. Em 26/06/1932, foi-lhe aplicada a pena de deportação. Transferido, em 29/11/1932, da Penitenciária para o Hospital do Desterro, continuando sob prisão. Abrangido pela amnistia de 05/12/1932, foi libertado em 10/12/1932. Preso em 11/10/1934 (Processo 1251), libertado em 13/10/1934.]
[alterado em 06/12/2021]
[alterado em 26/03/2023]

00378. Américo Pires [1928, 1931]

[Nelas, 1898, trabalhador. Preso em 04/05/1928 e deportado, no mesmo dia, para a Guiné. Preso pela GNR em 08/09/1931, libertado em 09/12/1931 (Processo 14)]. 

00379. Américo Roberto Fernandes Rigor [1927]

[1.º Sargento. Preso em 16/11/1927. Até 12/10/1937, nada mais constou na ficha da PVDE.]

[João Esteves]