[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

terça-feira, 30 de novembro de 2021

[2626.] EMÍDIO GUERREIRO [II] || LUÍS FARINHA - "EMÍDIO GUERREIRO SOB O DESPOTISMO DA LIBERDADE"

 * EMÍDIO GUERREIRO *

[06/09/1899 - 29/06/2005]

LUÍS FARINHA 

EMÍDIO GUERREIRO: SOB O DESPOTISMO DA LIBERDADE

Assembleia da República || Outubro de 2021

[Luís Farinha || Emídio Guerreiro: sob o despotismo da liberdade || 2021]

A vida política de Emídio Guerreiro revelou-se intensa, atribulada e duradoura, iniciada em 1918, através da oposição, enquanto militar e paisano, à experiência ditatorial de Sidónio Pais, o que lhe valeu a prisão em Outubro desse ano e o afastamento do Regimento de Infantaria 20, sediado em Guimarães, onde se alistara como voluntário em 1916. 

Depois, seriam 48 anos de combate à Ditadura Militar e Fascista surgida em Portugal na sequência do 28 de Maio de 1926, só derrubada em Abril de 1974, tendo, pelo meio, "aquele período tumultuoso de descida aos Infernos", correspondendo às décadas de 1930 e de 1940 na Europa: experienciou-o, primeiro, em Espanha, até 1939 e, de seguida, em França. 

Por fim, após décadas de resistência(s), com prisões (1931, 1932 e, talvez, 1935), internamento nos Campos de Arles-sur-Tech (1939), Argèles-sur-Mer (1941-1942) e de Septfonds (1944), fugas/evasões (1932 - Aljube, 1942, 1944) e 42 anos de exílio, chegara o tempo de ser, também, um construtor de novos tempos. 

Por nunca descurar o essencial, centrado na Liberdade, individual e de um povo, Emídio Guerreiro não hesitou em correr riscos, assumir rupturas, tornadas inevitáveis consoante os combates a que se propunha, e apreender e incorporar, continuadamente, as diferentes dinâmicas que, nos mais diversos domínios, atravessaram e transformaram o século XX.

Até 1974, foi sobretudo, um "homem de acção", com intervenção tripartida gradualmente (re)conhecida: contra a Ditadura portuguesa; ao lado dos republicanos que, no final dos anos 30, enfrentaram o golpismo militar franquista; e na Resistência francesa contra o ocupante nazi na sequência da fuga, forçada, de Espanha para França através dos Pirenéus.

O exílio, em 1932, na sequência da fuga colectiva do Aljube em 4 de Abril de 1932, levou-o ao refúgio em Espanha e, inevitavelmente, à participação na guerra desencadeada em 1936 pelo levantamento militar franquista contra o legítimo governo republicano. Depois, com a subsequente derrota, sucederam-se as passagens por Campos de Internamento franceses, de onde soube evadir-se, e a integração na Resistência contra o ocupante nazi e seus colaboracionistas, estando na libertação de Montauban, em 20 de Junho de 1944. 

Terminada a Guerra, quando tinha 45 anos, sobrevieram mais 30 longos anos de exílio: desmultiplicou-se em iniciativas de denúncia e combate do fascismo português, atento ao que se passava nos diferentes grupos de exilados pátrios, nomeadamente daqueles em torno de Humberto Delgado, e disposto a enfrentar novos desafios, como o recurso à luta armada para derrubar o regime através da criação, em 1967, da LUAR - Liga de Unidade e Acção Revolucionária.

O regresso ao Porto dar-se-á só em 12 de Maio de 1974, numa recepção apoteótica, quando caminhava para os 75 anos e fora "sempre um lutador contra a corrente dominante do seu tempo" [p. 17].

Recomeçaria uma outra vida, com o mesmo fôlego de sempre. Aderiu ao PPD, quando este assumia uma via social-democrata para o socialismo em Portugal, foi eleito Constituinte por aquela cidade e tornou-se, em Maio de 1975, Secretário-geral substituto daquele Partido, devido questões de saúde de Francisco Sá Carneiro. Em Dezembro desse mesmo ano, abandoná-lo-ia.

Suceder-se-iam mais 30 anos de muitas outras lutas, com a mesma intensidade e capacidade de rupturas de outros tempos.

Nesta obra, que em muito transcende a preocupação biográfica, apesar do objectivo principal ser "a vida política de Emídio Guerreiro no período pós-25 de Abril" [p. 19], Luís Farinha consegue dar-nos uma visão multifacetada e exaustiva do que foi a sua trajectória entre 1899 e 2005, com as sucessivas vivências cívicas e políticas, devidamente contextualizadas, tendo como fim último a Liberdade, esse bem tão precioso que tantos custos humanos comportou a alguns e deveria incomodar os que optaram por nada fazer, mas souberam usufruir e, não raras vezes, apropriar-se dela quando chegou o dia libertador.

Um tão longo e riquíssimo percurso humano, associado à sua invulgar longevidade, foram-lhe proporcionando o devido reconhecimento enquanto cidadão interveniente. 

Por isso, o livro de Luís Farinha se torna imperdível. Pelo biografado, pelos ambientes históricos a que está associado, integrando-o em cada um dos tempos em que (sobre)viveu mediante recurso a vasta e inédita documentação, e pelo papel desempenhado enquanto tribuno Constituinte, afinal o objectivo primordial da Colecção onde Emídio Guerreiro: sob o despotismo da liberdade está incluído.


[Luís Farinha || Emídio Guerreiro: sob o despotismo da liberdade || 2021]

[João Esteves]

[2625.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [XCVIII] || 1926 - 1933

 PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || XCVIII *

00744António Guerreiro [1927]

[Painzela - Cabeceiras de Basto, 20/05/1873, Capitão - Metralhadoras 2 / Lisboa. Filiação: Angelina de Jesus e Joaquim Guerreiro. Casado com Maria da Oliveira. Iniciou a carreira militar em 16/12/1892, como voluntário no Regimento de Infantaria 20, de Guimarães; concluiu, em 16/08/1911, o Curso de Sargentos, e, em 1922, atingiu o posto de capitão,  chegando a estar em Angola enquanto militar. Talvez por o Regimento de Infantaria 20 não ter apoiado Gomes da Costa durante o golpe militar de 28/05/1926, foi colocado, em 31/12/1926, em Lisboa, no Batalhão de Metralhadoras N.º 2, uma das unidades que interveio na Revolta contra a Ditadura Militar de 7-9/02/1927. Por ter participado neste movimento, "foi separado de serviçoem 06/02/1927 e preso na Penitenciária de Lisboa, onde ainda se encontraria em 11/05/1927. Como o processo que lhe foi instaurado tivesse sido mandado arquivar pelo Ministro da Guerra, apresentou-se, em 10/10/1927, no Comando da 1.ª Região Militar. Reintegrado em 1929, faleceu em 03/06/1956. Pai de Emídio Guerreiro. Dados retirados de Luís FarinhaEmídio Guerreiro: sob o despotismo da liberdade, Assembleia da República, Outubro de 2021).]

00745. Manuel Luís Guedes Pinheiro [1928, 1928, 1929, 1930, 1930, 1931, 1931, 1938, 1938, 1944, 1962

[Manuel Luís Guedes Pinheiro || F. 01/05/1962 || ANTT || RGP/9816 || PT-TT-PIDE-E-010-50-9816]

[Murça, 29/04/1904, estudante / médico - Porto. Filiação: Maria Guedes Pinheiro e Manuel Pinheiro. Casado. Preso diversas vezes quando estudante da Escola Médica do Porto e, depois, como médico. Vice-Presidente do Centro Académico Republicano do Porto, constituído em Fevereiro de 1928 e presidido por José Figueiredo Lopes, também estudante de medicina. Preso em 17/05/1928, pela Polícia de Informações do Porto, "por andar a distribuir manifestos de incitamento à greve", no âmbito do movimento académico iniciado em Lisboa, em Abril, tendo a Academia do Porto aderido em 12 de Maio; libertado em 18/05/1928. Preso em 21/07/1928, pela Polícia de Informações do Porto, "por tentar agredir agentes desta Corporação"; libertado em 31/07/1928. Iniciado, em 20/07/1929, na loja maçónica "Comuna", adoptando o nome simbólico de Galois. Preso em 20/10/1929, pela Polícia de Informações do Porto por, durante o funeral do ex-sargento Manuel Fernandes de Almeida, realizado no dia anterior no Cemitério do Repouso, "ter dado morras à Ditadura, ao Exército e à Polícia de Informações" e acusado de "ter sido um dos autores do motim efectuado no Cemitério"; libertado em 05/11/1929. Em 10/04/1930, o Informador 35 reporta que "é contrário em absoluto à actual Situação Política do País", sendo, "dentro da organização revolucionária académica, um dos mais audaciosos filiados de acção, porque, possuindo um temperamento enérgico e decidido, lança-se em todas as empresas arruaceiras com denodo e valentia, pelo que está sempre atento às ligações e ordens da sua organização, o grupo República. É radical e está indicado na conjura para chefiar um grupo misto de estudantes e civis que, na sua própria expressão, terá por missão o assalto à Polícia de informações". Preso em 25/04/1930, no Porto, "para averiguações"; libertado em 02/05/1930. Preso, no Porto, em 05/10/1930, "por dar vivas subversivos" e integrar o grupo "República", sendo transferido no mesmo dia para Lisboa; libertado em 17/10/1930 (Processo 4697-K). Eleito no mês seguinte, por unanimidade, para o Senado Universitário da Academia do Porto. Preso em 02/04/1931, no Porto, "por fazer parte da greve académica e ser elemento revolucionário agitador"; libertado em 20/04/1931. Participou, em 28/04/1931, na Assembleia Geral realizada na Escola Médica do Porto, convocada pela Associação Profissional dos Estudantes de Medicina do Porto (APEM), onde morreu o estudante João Martins Branco devido à intervenção da GNR. Considerado, nesse mesmo dia, "como um dos elementos mais audaciosos e perigosos no meio académico, com grandes simpatias entre os revolucionários", "o seu afastamento da cidade do Porto torna-se urgente" e, por isso, foi preso em 29/04/1931 e transferido para Lisboa, juntamente com António Barros Machado e Luís Eduardo Canossa Moreira, dando entrada na Penitenciária da capital. Libertado em 11/05/1931, foi-lhe fixada residência em Murça (Processo s/n.º). Por continuar a sua intensa actividade política contra a Ditadura, a autoridade administrativa de Murça enviou, em 25/05/1931, um ofício ao Governador Civil de Vila Real solicitando o seu afastamento da localidade. Referenciado, em Março de 1933, como fazendo parte de "uma organização civil revolucionária académica que tem como chefe um indivíduo de apelido Calhano". Preso em 23/04/1938, no Porto, acusado de "fazer propaganda subversiva", "distribuindo o jornal clandestino Avante"; saiu em liberdade condicional em 10/06/1938 (Processo 401/38Processo 446/38). Preso em 02/08/1938, no Porto, a pedido do Tribunal Militar Especial, foi absolvido e libertado em 04/08/1938 (Processo 985/38). Preso em 15/01/1944, no Porto, "por manejos revolucionários e distribuição contra a actual situação", teve de ser internado, em 28/03/1944, no Hospital da Ordem Terceira da Trindade e seguiu, depois, para o Sanatório do Caramulo, de onde regressou em 08/07/1944 para ser julgado pelo TME (Processo 60/44). Condenado na pena de multa de 25.000$00 e perda dos direitos políticos por cinco anos, foi libertado naquele mesmo dia. Continuou a sua militância antifascista e, em 1954/1955, foi uma das testemunhas de defesa do processo que envolveu Albertino Duarte MacedoAntónio Lobão VitalJosé Cardoso Morgado JúniorRuy Luís GomesVirgínia de Faria Moura, na sequência da “Nota Oficiosa do Movimento Nacional Democrático sobre o problema de Goa, Damão e Diu” publicada em 11/08/1954 e enviada a vários jornais do Porto. Enquanto médico, deu apoio a presos políticos e, nas eleições de 12/11/1961 para a Assembleia Nacional, integrou a lista C da Oposição candidata pelo Círculo Eleitoral de Braga, composta, também, por António Pinheiro Braga, Elísio Guilherme de Azevedo, Francisco Alberto Pinto Rodrigues, Joaquim Victor Baptista Gomes de Sá e Mem Tinoco Verdial: inicialmente, a lista não foi aceite pelo Governador Civil, acabou por ser aprovada pelo Supremo Tribunal Administrativo. Preso em 28/04/1962, no Porto, "para averiguações por crimes contra a segurança do Estado, tendo recolhido às suas prisões privativas", seguiu, em 03/05/1962, para a Cadeia Central do Norte e, em 29/06/1962, regressou às cadeias privativas da PIDE naquela cidade. Julgado pelo Tribunal Plenário Criminal da Comarca do Porto em 05/12/1962 e condenado a 18 meses de prisão, acabou por ser libertado nesta mesma data por a restante pena que faltava cumprir ter sido convertida em multa (Processo 298/62). Faleceu em 05/03/1997, com 92 anos de idade.] 

00746. José Manuel de Oliveira [1931, 1931, 1932, 1932, 1935, 1935, 1937, 1939]

[José Manuel de Oliveira || F. Porto - 03/02/1935 || ANTT || RGP/1811 || PT-TT-PIDE-E-010-10-1811]

[Porto - Sé, 26/06/1900 ou 1901, empregado bancário / contabilista - Porto. Filiação: Adelaide Rosa de Oliveira e José Manuel. Solteiro. Preso, pela Delegação do Porto, em 27/08/1931, "para averiguações de carácter avançado"; libertado em 28/08/1931. Era, então, referenciado como empregado bancário. Preso, pela Delegação do Porto, em 19/09/1931, "por ter afirmado numa taberna da Rua da Fábrica, conhecer o autor do lançamento da bomba que explodiu junto ao Quartel de Infantaria 18, afirmando também saber que estava preparado um outro atentado do mesmo género"; libertado em 26/09/1931. Preso pela Delegação do Porto em 13/03/1932, "por, a pedido de Emídio Guerreiro, ter feito entrega de um embrulho contendo panfletos de carácter subversivo". Trata-se do panfleto da autoria daquele e distribuído aquando da visita, em 12/03/1932, do Presidente Óscar Carmona ao Porto, onde se convidava o povo da cidade a recebê-lo "com merda às mãos cheias" (Luís Farinha, Emídio Guerreiro: sob o despotismo da liberdade, p. 39). Enviado para Lisboa em 24/03/1932, "a fim de ser acareado com Emídio Guerreiro", regressou ao Porto em 26/03/1932 e foi libertado na mesma data (v. Processo 309 - Processo 69/Porto). Preso pela Delegação do Porto em 06/09/1932, "por fazer parte do S.V.I." e estar filiado no Partido Comunista desde há três anos, tendo aderido por intermédio de José Moutinho. Membro do Comité Local do Socorro Vermelho Internacional, foi seu Secretário Administrativo e desenvolveu tarefas organizativas. Manteve contactos com Joaquim Augusto Mendes Braga, para casa de quem levou o espanhol Antonio Cândido Moreira, e Rodrigo Gonçalves Lopes. Autor de "uma exposição dirigida a Sua Exa. o Presidente do Ministério, na qual afirmava existirem na Polícia instrumentos de tortura, entre eles capacetes e algemas eléctricas", negando estes procedimentos sob interrogatório (Processo 116/Porto). Libertado em 10/12/1932, por ter sido abrangido pela amnistia de 05/12/1932. Referenciado como contabilista, preso pela Delegação do Porto em 02/02/1935, "para averiguações"; libertado em 25/02/1935. Preso em 24/09/1935, "por andar fugido à acção da Polícia e estar envolvido num processo enviado ao TME" - fazia parte do SVI (Processo 83/Porto e 1569). Transferido, em 22/12/1935, do Porto para a Fortaleza Militar de Peniche; regressou ao Aljube do Porto em 28/05/1936, para aguardar julgamento. Absolvido pelo TME em 09/06/1936 e libertado em 11/06/1936 (Processo 1726/35). Preso pela PSP do Porto em 03/04/1937, "para averiguações de carácter político", por lamentar, publicamente, a prisão de Francisco Soares, e entregue à PVDE em 05/04/1937 (Processos 76/937 - Porto, 456/37). Terão sido apreendidos em sua casa propaganda relacionada com o Partido Comunista (livros, folhetos, jornais, dísticos impressos a vermelho com frases), só tendo sido libertado em 22/07/1939 (Processo 1156/37). Preso pela Delegação do Porto, "para averiguações", em 12/09/1939; libertado em 23/09/1939 (Processo 1136/39).]
[alterado em 06/04/2023]

[João Esteves]

domingo, 28 de novembro de 2021

[2624.] DAVID DE CARVALHO [I] || 1899 - 1985: DO SINDICALISMO DA 1.ª REPÚBLICA À MILITÂNCIA ANTIFASCISTA

 * DAVID DE CARVALHO *

[06/11/1899 - 26/11/1985]

[David de Carvalho || Fotografia cedida pelo neto David de Carvalho]

Há Homens e Mulheres que, mesmo tardiamente, rompem o anonimato e surpreendem pelo percurso, coragem, abnegação, integridade e generosidade em tempos adversos, mantendo-se coerentes com os ideais que cedo perfilharam.

David de Carvalho é um desses nomes que importa resgatar, carregando consigo dezenas de anos de luta e de lutas, desde a já longínqua 1.ª República, onde se envolveu, através do sindicalismo e do jornalismo, nas lutas por melhores condições de vida dos mais desfavorecidos e do operariado, até aos 48 anos de fascismo, durante os quais se bateu, ininterruptamente, pela Liberdade.

Nos dois regimes, conheceu, com excessiva frequência, as arbitrariedades das detenções, os regimes prisionais, as perseguições, com tudo o que acarretavam quanto à instabilidade profissional, económica e familiar. Desempenhou várias profissões e, entre 1920 e 1959, terá vivenciado cerca de 20 prisões: seis, durante a República; catorze, durante o fascismo.

Tinha 74 anos aquando do 25 de Abril de 1974 e durante onze anos, até ao seu falecimento em 26 de Novembro de 1985, continuou a militância em prol dos mais desfavorecidos e a defesa do seu acesso à cultura e usufruto do conhecimento. Aquando da sua morte, a imprensa soube evocar o invulgar percurso de resistente.

Importa, de novo, dar-lhe vida e reencontrá-lo na História do século  XX.

Filho de Adelina da Conceição Santos e de Adriano de Carvalho, alfaiate, David de Carvalho nasceu em 6 de Novembro de 1899, em Lisboa.

Cedo conheceu o mundo do trabalho e das desigualdades e, por influência familiar ou necessidade, começou por seguir a profissão de alfaiate, tendo-a abandonado quando já era meio-oficial. Depois, foi empregado de livraria, ajudante de soldador, ajudante de serralheiro, operário sem trabalho e, quando ingressou nas Juventudes Sindicalistas, era escriturário na Companhia de Gás. 

Numa carta a António Ventura, datada de 26 de Julho de 1977, David de Carvalho não só procura clarificar o seu relacionamento com Alexandre Vieira, as discordâncias com os anarcossindicalistas quanto às suas opções no seio do movimento sindical e as diversas divisões que enfraqueceram este durante a 1.ª República e início da Ditadura Militar, como descreve parte do seu percurso desde muito jovem e a sua consequente adesão às Juventudes Sindicalistas no início dos anos 20:

«Desde a adolescência acompanhei as lutas dos operários, assisti a lutas que eles travavam com a polícia nas ruas, logo nos primeiros anos da República, passei a devorar toda a literatura revolucionária que topava, deixei-me absorver pela literatura anarquista, que outra não havia no tempo. Aprendi a cantar a Internacional nas manifestações de rua e nos comícios do Primeiro de Maio.»

 [Carta de David Carvalho a António Ventura, datada de 26/07/1977: FMS - Casa Comum / Fundo Alberto Pedroso

Terá aderido às Juventudes Sindicalistas quando tinha 20 anos, ganhando destaque no núcleo de Lisboa, a cuja comissão administrativa pertenceu: ficou «incumbido dos trabalhos de propaganda e de organização e assistência a secções de bairro e de profissões» e começou a colaborar, com artigos doutrinários, no órgão O Despertar.

Participou, enquanto delegado do Núcleo de Lisboa, no Conselho Federal convocado por José de Sousa, então Secretário-Geral da Federação das JS, para propor a sua transformação em Juventudes Comunistas, o que foi recusado: na sequência das demissões que sucederam ao fracasso daquela proposta, David de Carvalho foi eleito para o Comité Federal das Juventudes Sindicalistas, juntamente com Fernando de Almeida Marques, que passou a ser o seu Secretário-Geral, José Maria Esteves e Raul dos Santos. Assumiu, então, a direcção de O Despertar e, enquanto redactor-principal, procurou torná-lo mais abrangente e diversificado quanto ao conteúdo.

[David de Carvalho || A gestão sindical no período revolucionário || 1922 || ANTT]

Em 1922, estava já como redactor de A Batalha, assinou o folheto A gestão sindical no período revolucionário, editado pela Federação das Juventudes Sindicalistas, e foi delegado, juntamente com Fernando de Almeida Marques e Luís de Carvalho, ao Congresso Nacional da CGT realizado na Covilhã em Outubro, tendo sido o relator da Tese "Relações das Juventudes Sindicalistas com a Organização Operária", contribuindo para que aquela organização operária reconhecesse a existência formal da Federação. O sucedido nessa reunião ficou descrito no relatório manuscrito da sua autoria, intitulado "A conquista duma posição. Relatório da delegação das Juventudes Sindicalistas aos III Congresso Operário Nacional e à Confederação Gráfica Nacional". 

[David de Carvalho || Relações das Juventudes Sindicalistas com a Organização Operária || 1922]

Em 18 de Março de 1923, assistiu à reunião de 45 anarquistas em Alenquer, de onde saiu a resolução de criar a União Anarquista Portuguesa (UAP), e nesse mesmo ano aparece como Secretário da revista anarquista Claridade

À medida que se evidenciava enquanto sindicalista com ligações aos grupos anarquistas, surgiam as perseguições e sucessivas prisões, abrangendo os anos de 1920, 1921, 1922 e 1923. Embora as informações sejam imprecisas, na primeira, era acusado de atentar contra a vida do director da Polícia de Investigação Criminal, José Reis, «que muito se evidenciava na perseguição a elementos operários»: após cinco meses de cativeiro, foi absolvido, tal como os restantes jovens indiciados, por falta de provas.

[David De Carvalho || ANTT || PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-1-NT-8902 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Voltaria a ser detido uma e outra vez: da terceira vez, o motivo era o suposto envolvimento no atentado ao consulado americano na sequência do julgamento e condenação à morte dos anarquistas Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti. Novamente absolvido ao fim de escassos meses, «por um tribunal sumário, o famoso tribunal de defesa social, que os plenários do fascismo muito me fariam recordar mais tarde, pela sua semelhança de métodos e organização.» [Carta a António Ventura, 26/07/1977].

Segundo escreveu David de Carvalho na missiva já referida, as prisões subsequentes durante a 1.ª República estiveram associadas a momentos de atentados pessoais ou rebentamento de bombas, procurando-o inculpar, sendo libertado ao fim de uns dias, por falta de provas.

Com as detenções, vinham os despedimentos e as dificuldades em arranjar emprego por oposição dos patrões, passando a ser identificado como jornalista. Na sequência do agravar das discordâncias com os seus militantes, abandonou as Juventudes Sindicalistas e  ingressou, em 1922, na redacção do jornal A Batalha, de onde saiu em conflito com Manuel Joaquim de Sousa, que o dirigia, e outros anarquistas. Regressou em 1925, depois de ter tentado o jornalismo em periódicos republicanos, colaborando no seu Suplemento e na revista Renovação, editada pelo mesmo periódico, aí permanecendo até à sua destruição e encerramento pela Ditadura Militar em 27 de Maio de 1927.

Depois de ter sido um dos anarquistas mais activos dos anos 20, acabou por romper ideologicamente com o anarquismo e aproximou-se do Partido Comunista, de que terá passado a fazer parte a partir de 1927, conservando, «ao contrário do que infelizmente aconteceu com muitos [...] as mesmas relações de amizade e camaradagem, com os anarquistas que se mantinham e com os comunistas que se afastavam.» [Carta a António Ventura, 26/07/1977] O Diário de Lisboa, aquando do seu falecimento, corrobora esse percurso: «Libertário de formação, activista do movimento anarcossindicalista, David de Carvalho aproximou-se do Partido Comunista» [Diário de Lisboa, 27/11/1985], sendo militante durante a clandestinidade e após Abril de 1974. 

Apesar das divergências quanto às orientações do movimento sindical, manteve uma relação cordial e de amizade com Alexandre Vieira, a quem tratava por camarada, não esquecendo «a influência tão benéfica que o Vieira exerceu no conhecimento que hoje suponho ter das coisas que nos interessam, em relação às questões sociais» [Carta a Alexandre Vieira, datada de 01/08/1932].

Tornado jornalista profissional, esteve na origem do Sindicato dos Profissionais da Imprensa, aderente à Federação do Livro e do Jornal e, com o triunfo da Ditadura e a destruição de A Batalha, David de Carvalho foi um dos fundadores, juntamente com Alfredo Marques, Baptista Dinis, Mário Quintela e Mário Salgueiro, «grupo de jornalistas que à causa da Liberdade se têm dedicado com ardor, e continuam dedicando-se, apesar de todas as vicissitudes», de O Povo (1928-1930), Diário Republicano da Tarde com sede no Largo do Calhariz, 17: «a união de todos os republicanos, em defesa da República, seria o primeiro e imediato objectivo de O Povo, ao mesmo tempo combatendo todas as manifestações reaccionárias que pretendessem asfixiar as conquistas da Democracia e da Liberdade, expressas na fórmula República». No entanto, Mário Salgueiro,  o redactor-principal, entendeu dar outra orientação ao jornal, «atacando pessoalmente certos vultos republicanos», o que esteve na origem de uma circular, datada de 22 de Janeiro de 1930, dos restantes redactores societários a demarcarem-se daquele, procurando que o jornal retomasse «a sua característica republicana, liberal e anti-clerical» [Circular de "O Povo", 22/01/1930, FMS - Casa Comum / Fundo Alberto Pedroso].

Após este insucesso, David de Carvalho esteve no Diário Liberal, Jornal Republicano da Manhã a funcionar no mesmo edifício de O Povo, participou no periódico clandestino O Rebelde e, em 1933 ou 1934, ingressou na Emissora Nacional, através de Mário Neves, envolvendo-se, activamente, na luta contra o Fascismo: (re)começavam décadas de prisões e perseguições, sem que alterasse o rumo e os princípios.

[David de Carvalho || ANTT || RGP/5842 || PT-TT-PIDE-E-010-30-5842_P5] 

Preso em 25 de Janeiro de 1937, «para averiguações», e levado para a 1.ª Esquadra, foi entregue à SPS da PVDE em 29 de Janeiro: transferido para o Aljube em 1 de Março, foi libertado no dia 10 [Processo 110/937].

Em Outubro de 1945, estava entre os 300 signatários da moção aprovada no Centro Almirante Reis aquando da criação do Movimento de Unidade Democrática, tendo colaborado com a sua Comissão Central, o que levou à expulsão, por motivos políticos, da Emissora Nacional.

Trabalhou, então, às escondidas, como tarefeiro em serviços do Estado e tornou-se tradutor e revisor em editoras, a par da sua militância antifascista. Participou activamente nas campanhas presidenciais de Norton de Matos (1949) e de Ruy Luís Gomes (1951) e esteve envolvido no Movimento Nacional Democrático, quer nas comissões de Lisboa, quer na Comissão Central, colaborando, entre outros, com Albertino Macedo, José Morgado, Maria Isabel Aboim Inglês, Maria Lamas, Ruy Luís Gomes e Virgínia Moura

[David de Carvalho || F. 25/06/1951 || ANTT || RGP/5842 || PT-TT-PIDE-E-010-30-5842_P4]

Novamente preso, «para averiguações», em 23 de Junho de 1951, levado para o Aljube e libertado em 4 de Agosto [Processo 109/951].

As prisões sucediam-se, mesmo que por poucos meses e com escassos intervalos de tempo. No ano seguinte, em 19 de Fevereiro, seria detido em S. João do Estoril, sempre com a informação de «para averiguações»: levado para o Aljube, três dias depois estava em Caxias, de onde foi libertado em 22 de Março [Processo 25/952].

[David de Carvalho || F. 21/12/1953 || ANTT || RGP/5842 || PT-TT-PIDE-E-010-30-5842_P3]

Nova prisão no mesmo ano, em 25 de Setembro, com a mesma rotina: primeiro Aljube, depois Caxias, em 2 de Outubro, e a liberdade em 10 de Fevereiro de 1953 [Processo 164/952]. E o ano não acabaria sem outra detenção, sempre «para averiguações», em 20 de Dezembro, seguindo directamente para Caxias e libertado em 23 de Janeiro de 1954 [Processo 160/53].

[David de Carvalho || F. 22/11/1955 || ANTT || RGP/5842 || PT-TT-PIDE-E-010-30-5842_P2]

No ano seguinte, em 9 de Novembro de 1955 [Processo 106/955], David de Carvalho retornaria ao Aljube e passaria para Caxias em 30 do mesmo mês, sendo punido, em 11 de Janeiro de 1956, com «cinco dias de prisão em cela disciplinar a pão e água», «por se ter dirigido por escrito ao Director da prisão,  ao mesmo tempo e nos mesmos termos que outros, o que constitui manifestação colectiva [...] além de ser em manifesta indisciplina os termos empregados» [ANTT, RGP/5842].

Esta prisão, juntamente com a de Domingos Jorge da Costa Gomes, Fernando Pais Lopes Cipriano, Júlio da Conceição Silva Martins, Mário Vítor Cardoso de Sena Lopes, Natália Costa Gomes e Salomão Lemos Figueiredo, estava relacionada com as actividades no âmbito do Movimento Nacional Democrático, a cuja Direcção pertencia, e foi denunciada publicamente por um folheto, assinado por "Um patriota", no qual se referia que aqueles, ao «fim de seis meses de quase completo sequestro e desumanos maus-tratos», estavam a ser alvo de um «iníquo processo em que à falta de elementos de culpa os acusa de dirigentes comunistas, atribuindo-lhes estas funções à mistura com actividades democráticas», com a finalidade de «acabar com a actividade legal da oposição» ["Concidadãos", s/d, FMS - Casa Comum / Arquivo Mário Soares].

Desta vez, David de Carvalho foi julgado, condenado a pena de prisão maior e ficando abrangido pelas medidas de segurança que, ainda mais arbitrariamente, podiam prolongar aquela. Assim, em 26 de Julho de 1956, o 4.º Juízo Criminal de Lisboa condenou-o em 2 anos e 15 dias de prisão maior, com medidas de segurança [Processo 44/956] e, embora tenha recorrido, o Supremo Tribunal de Justiça, por acórdão de 23 de Janeiro de 1957, confirmou a sentença: David de Carvalho foi transferido para o Aljube em 3 de Fevereiro, seguiu para Peniche em 16 de Março e, em 7 de Julho de 1958, iniciou o cumprimento de medidas de segurança por mais 14 meses, só saindo em liberdade condicional em 5 de Setembro de 1959, embora a última fotografia que consta do RGP/5842 tenha gravado a data de 8 de Setembro. Tinha, então, quase 60 anos e o envelhecimento em casa prisão torna-se notório. A passagem da liberdade condicional a definitiva só seria concedida pelo tribunal em Setembro de 1964.

[David de Carvalho || F. 08/09/1959 || ANTT || RGP/5842 || PT-TT-PIDE-E-010-30-5842_P1]

Em Peniche, foi companheiro de cela, entre outros, de Carlos Brito: «unia-os uma profunda amizade», referindo este que «o número de prisões do "velho David"» foi «excepcionalmente grande» [informação do neto David de Carvalho].

David de Carvalho andou, pelo menos, 40 anos a caminho das prisões, a primeira que se conhece data de 1920 e a última foi em 1955, sendo libertado em 1959.

Após o 25 de Abril, foi jornalista no jornal O Diário, onde manifestou a sua preocupação e reservas quanto a textos do seu "Suplemento Cutural" por evidenciarem certo elitismo de conteúdos, mais destinados «a camadas ilustradas e sem nenhuma ligação com as massas», e integrou a Célula dos Escritores da Organização Regional de Lisboa do Partido Comunista.

[David de Carvalho || Os Sindicatos Operários e a República Burguesa (1910-1926) || Seara Nova || 1977]

Em 1977, publicou o livro Os Sindicatos Operários e a República Burguesa (1910-1926) - Crónicas vividas de um imenso conflito [Seara Nova], essencial para a compreensão das consequências do divórcio entre a República triunfante e o Operariado, bem como das dissensões entre as diferentes correntes do sindicalismo da época, sublinhando «que o povo não tem ainda os seus historiadores como os tem a burguesia, embora se diga sempre que é o povo que faz a história; ele a faz, na verdade, porém, ninguém a escreveu ainda» [p. 13].

A vida atribulada de David de Carvalho, com todos os sacrifícios pessoais e políticos que a militância sindical e antifascista acarretou durante décadas, não podia deixar de influir na vida familiar, tanto mais que em 1932, tinha uma filha pequena, Carmen, «que é todo o meu encanto na vida», como confessava a Alexandre Vieira em carta onde lhe oferecia a sua casa, na Rua Buenos Aires, 27 [Carta a Alexandre Vieira, 01/08/1932]. Posteriormente, nasceria o filho Adriano, nome do avô paterno.

Aquando do seu desaparecimento físico aos 86 anos, em 26 de Novembro de 1985, num artigo intitulado "Um sindicalista da velha guarda - Faleceu o jornalista David de Carvalho", o Diário de Lisboa, jornal onde na década de 30 chegara a ser, «por necessidade», revisor, evocou o «homem que desde jovem se dedicou, corajosamente, à luta pela emancipação dos trabalhadores e pela Liberdade», «uma personalidade estimada pela sua delicadeza, lealdade, convívio aberto e agradável» e que deixou nos jornais operários, «dispersa, acaso esquecida, a sua produção como jornalista» [Diário de Lisboa, 27/11/1985]. Já O Jornal, acrescentava «o seu espírito lúcido, penetrante e culto», sendo «um inveterado contador de histórias, nomeadamente nas tertúlias políticas e intelectuais do Chiado».

[David de Carvalho || Fotografia cedida pelo neto]

Aos netos deixou uma grata e inesquecível memória, contida numa saudade duradoura: se «deixou, certamente, uns grãos de herança política», «aos descendentes, deixou uma gigantesca montanha de cultura e de valores».

NOTA: Este texto não teria sido possível sem a confiança e amizade de David de Carvalho que, há uns meses, disponibilizou informações, documentação e fotografias do seu avô. Uma História incompleta, tantas são as peças de vida de David de Carvalho que estão, ainda, por revelar.

[João Esteves]

terça-feira, 23 de novembro de 2021

[2623.] JOÃO SÉRIO [I] || DEPORTADO PARA ANGRA DO HEROÍSMO EM 19/11/1933

 * JOÃO SÉRIO *

[09/06/1904 - ?]

Preso em 1933 e 1943, tendo integrado o numeroso grupo de deportados políticos para Angra do Heroísmo (Fortaleza de São João Batista) em 19 de Novembro de 1933.

[João Sério || F. 1943 || ANTT || RGP/77 || PT-TT-PIDE-E-010-1-77]

Filho de Lucrécia Ramos e de Alexandre Francisco Sério, João Sério nasceu em Portimão, em 9 de Junho de 1904.

Desenvolveu, entre 1931 e 1933, actividade política em Portimão, onde militaria na sua Organização Juvenil, reunindo numa célula por intermédio de Álvaro dos Santos

Por ter participado activamente numa manifestação contra o desemprego, organizada pelos operários da cidade em Fevereiro ou Março, refugiou-se em Lisboa a partir do mês de Abril de 1933, cidade onde deu continuidade à sua militância. 

Integrou, então, a Comissão Central das Juventudes Comunistas, juntamente com Adelino dos Santos, Fernando Quirino, Júlio Vítor Ferreira e Pedro Batista da Rocha, de forma a regressar a Portimão afim de estruturar uma organização local. 

Enquanto se manteve na capital, foi subsidiado pelo Socorro Vermelho Internacional quanto à alimentação e aluguer do quarto. Interveio na manifestação e agitação realizada no Largo do Chafariz de Dentro no 1.º de Maio desse ano e desempenhou tarefas de propaganda com José Borges e José Gilberto Florindo de Oliveira, nomeadamente no âmbito da Comissão Intersindical. 

Preso, juntamente com Fernando Quirino e outros, em 9 de Julho, quando participava numa reunião clandestina no Sindicato dos Compositores Tipográficos, continuava a manter ligações com a organização de Portimão através de Álvaro dos Santos, utilizando o pseudónimo “Júlio Reis” [v. Processo 798]. 

Acusado de "estar envolvido em organização comunista", o processo foi enviado ao TME em 24 de Outubro de 1933 e, em 19  de Novembro, integrou o grupo de centena e meia de presos políticos que embarcou de Peniche para Angra do HeroísmoFortaleza de S. João Batista, onde chegou três dias depois. 

Julgado pelo TME/Secção dos Açores em 20 de Agosto do ano seguinte, pelo conjunto de actividades desenvolvidas em 1931, 1932 e 1933, foi condenado em 18 meses de prisão [Processo 87/933, do TME]. 

Terminou o cumprimento da pena em 1 de Janeiro de 1935, embarcou no vapor Lima em 16 de Fevereiro e apresentou-se na PVDE em 23 de Fevereiro, indo residir para Portimão. 

Voltou a ser detido em 22 de Setembro de 1943, acusado de emigração clandestina. Recolheu à 1.ª Esquadra e foi entregue, em 30 de Outubro, aos Tribunais Criminais de Lisboa [Processo 1219/43]. 

Viveria, então, em Lisboa e trabalhava no comércio. 

[João Esteves]

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

[2622.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [XCVII] || 1926 - 1933

 * PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || XCVII *

00741. Emílio Figueiredo Macedo [1927] 

[Emílio Figueiredo Macedo || F. 29/11/1927 || ANTT || PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

[Porto, 1905, electricista - Lisboa. Filiação: Deolinda Macedo e Elísio Augusto Macedo. Solteiro. Preso em 11/11/1927, "por conspirar contra a situação" e "fazer parte do grupo civil do Alto do Pina, chefiado por Francisco Brás e João Lopes, estando encarregado de transportar os caixotes de bombas para casa do Obuz, com quem também conspirava"; deportado para Timor em 22/11/1927. Transferido, depois, para Angola, de onde partiu para os Açores, no vapor "Mouzinho", em 10/09/1930. Em 1931, encontrava-se na Madeira, sendo deportado para Cabo Verde em 12/05/1931, ficando na Ilha de S. Nicolau. Abrangido pela amnistia de 05/12/1932.]

00742. Eduardo Guilherme Faria [1929, 1929, 1930, 1933, 1933, 1935, 1935]

[Eduardo Guilherme Faria || F. 29/01/1929 || ANTT || PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

[Caldas da Rainha, c. 1899. Funcionário do Conselho de Arte e Arqueologia da 1.ª Circunscrição / escriturário. Filiação: Jacinta da Silva Faria, Joaquim Guilherme de Faria. Solteiro. Preso em 16/01/1929, «por ter ligações com vários elementos revolucionários»; libertado em 05/03/1929 [Processo 4222]. Preso em 05/08/1929, «por fazer parte de uma comissão editorial com o fim de fazer imprimir e distribuir panfletos contra a Ditadura Militar, sendo-lhe encontrado em sua casa alguns» [Processo 4379]; libertado em 24/12/1929. Preso em 17/07/1930, «por estar implicado no movimento revolucionário em preparação e por distribuir panfletos contra a Situação», e deportado para os Açores em 20/07/1930 [Processo 4658-A]. Preso em 12/07/1933, «para averiguações de carácter político»; libertado em 13/07/1933 [Processo 737]. Preso em 01/11/1933, «sob acusação de estar envolvido em manejos revolucionários e de ser agente de ligação do ex-Major Sarmento de Beires» [Processo 827]. Transferido, em 16/11/1933, da 22.ª esquadra para o Aljube. Enviado, em 19/11/1933, do Aljube para Peniche, onde embarcou para Angra do Heroísmo – Fortaleza de S. João Baptista. Regressou de Angra e apresentou-se na PVDE em 23/05/1934, voltando a viver na Rua 1.º de Dezembro - Lisboa.

[Eduardo Guilherme Faria || ANTT || RGP/448 || PT-TT-PIDE-E-010-3-448]

Preso em 21/02/1935, acusado de estar envolvido no movimento revolucionário em preparação, em cumplicidade com o Coronel Norberto Guimarães, o ex-Sargento Raul Batista Dinis e Joubert Rodrigues Dinis Pereira [Processo 1372]. Levado para uma esquadra, seguiu para o Aljube em 05/04/1935, foi transferido para 1.ª Esquadra em 03/10/1935 e libertado em 29/10/1935. Preso pela Secção Política e Social da PVDE em 02/11/1935, «para averiguações de carácter político», e entregue, no mesmo dia, ao Comando da PSP de Lisboa [Processo 1645].

Pode ter estado deportado em Cabo Verde em 1931-1932 na sequência da Revolta das Ilhas, já que o  nome consta na lista da autoria do Major António Fernandes Varão"Lista Geral dos Deportados pela Ditadura para Cabo Verde embarcados em Lisboa, S. Miguel (Ponta Delgada), St.ª Maria, Angra do Heroísmo (Ilha Terceira), Horta (Faial), Pico, Luanda (Angola), Lourenço Marques, Guiné" - manuscrito As revoltas contra  a Ditadura nas Ilhas Adjacentes e Colónias em Abril de 1931).]
[alterado em 20/04/2024]

00743. João Sério [1933, 1943]

[João Sério || F. 1943 || ANTT || RGP/77 || PT-TT-PIDE-E-010-1-77]

[Portimão, 09/06/1904, trabalhador – Portimão / empregado no comércio - Lisboa. Filiação: Lucrécia Ramos e Alexandre Francisco Sério. Solteiro. Preso em 09/07/1933, "por estar envolvido em organização comunista" - integraria a Organização Comunista Juvenil de Portimão, onde reunia numa célula por intermédio de Álvaro dos Santos. Por ter participado ativamente numa manifestação contra o desemprego, organizada pelos operários da cidade em Fevereiro ou Março, refugiou-se em Lisboa, onde estava desde o mês de Abril e onde deu continuidade à sua militância. Integrou, então, a Comissão Central das Juventudes Comunistas, juntamente com Adelino dos Santos, Fernando Quirino, Júlio Vítor Ferreira e Pedro Batista da Rocha, de forma a regressar a Portimão, onde estruturaria uma organização local. Enquanto se manteve em Lisboa, era subsidiado pelo Socorro Vermelho Internacional quanto à alimentação e aluguer do quarto. Interveio na manifestação e agitação realizada no Largo do Chafariz de Dentro em 01/05/1933 e desempenhou tarefas de propaganda com José Borges e José Gilberto Florindo de Oliveira, nomeadamente no âmbito da Comissão Intersindical. Preso, juntamente com Fernando Quirino e outros, em 09/07/1933, quando participava numa reunião no Sindicato dos Compositores Tipográficos, continuando a manter ligações com a organização de Portimão através de Álvaro dos Santos. Usava o pseudónimo “Júlio Reis” [v. Processo 798]. Transferido, em 13 ou 14.10/1933. O processo foi enviado ao TME em 24/10/1933 e, em 19/11/1933, embarcou de Peniche para Angra do Heroísmo – fortaleza de S. João Batista, onde chegou em 22/11/1933. Julgado pelo TME/Secção dos Açores em 20/08/1934, por atividades desenvolvidas em 1931, 1932 e 1933, foi condenado em 18 meses de prisão [Processo 87/933, do TME]. Terminou o cumprimento da pena em 01/01/1935, embarcou no vapor Lima em 16/02/1935 e apresentou-se na PVDE em 23/02/1935, indo residir para Portimão. Preso em 22/09/1943, por emigração clandestina, quando viveria em Lisboa e trabalhava no comércio. Recolheu à 1.ª Esquadra e entregue, em 30/10/1943, aos Tribunais Criminais de Lisboa [Processo 1219/43.]
[alterado em 25/03/2024]

[João Esteves]

domingo, 21 de novembro de 2021

[2621.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [XCVI] || 1926 - 1933

PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || XCVI *

00737. Bernardino Sebastião Paiva [1927, 1928] 

[Bernardino Sebastião Paiva || ANTT || PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-1-NT-8902 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

[Montemor-o-Novo, 1893, funileiro - Évora. Filiação: Natália de Jesus e Bernardino Paiva. Solteiro. Admitido, em 28/12/1912, como sócio do Centro Republicano Evolucionista de Évora e, em Maio de 1914, estava no Exército (PT/ADEVR/ASS/SHE/H/002-004/0001/000126). Considerado, no início da década de 1920, como "bolchevista", foi acusado de ser o autor de um atentado bombista em Évora ocorrido em 10/08/1920. Preso em 09/10/1922, "por ser grevista", utilizar "bombas contra várias fábricas em Évora" e autor de "fogo posto posto na fábrica de cortiça do Banco Nacional Agrícola em Évora". Assinou, enquanto adepto do "comunismo libertário", o "Manifesto aos trabalhadores conscientes" dos sindicalistas revolucionários presos por delito social no Limoeiro, datado de 01/11/1922. 


Preso em 19/07/1928, quando tinha 35 anos, "por ter cooperado no fabrico de bombas de grande potência com Américo Vilar" e deportado, em 21/08/1928, para Moçambique (Processo 3836). Américo Vilar estava associado aos acontecimentos ocorridos em Moncarapacho em 17/02/1928, quando uma violenta explosão o matou, juntamente com António Calhabotas, dois anarcossindicalistas idos do Barreiro que se encontravam a preparar bombas num pardieiro. Em 1932, estava, por motivos políticos, com residência obrigatória em Cabo Verde, não tendo sido abrangido pela amnistia de 5 de Dezembro desse ano. A deportação terá sido levantada em Agosto de 1944, só regressando em Junho do ano seguinte: apresentou-se em 19/06/1945 e declarou ir residir para Évora. Segundo Rosalina Carmona, em "José Nobre Madeira. Um militante libertário condenado à deportação para Cabo Verde (1929)", comunicação apresentada ao Congresso Trabalho e Movimento Operário realizado no Barreiro em 28, 29 e 30/11/1913, Bernardino Sebastião Paiva já fora preso em 1927: conseguiu fugir do calabouço do Hospital, refugiou-se em Lisboa e na Parede, antes de se fixar no Barreiro, onde vivia em casa de José Baltazar e trabalhava numa fábrica. Em Julho de 1928, foi preso, juntamente com José Nobre Madeira, ambos acusados de participação no movimento de Fevereiro de 1927.] 

00738. Bruno Evangelista [1927, 1931]

[Bruno Evangelista || F. 12/02/1927 || ANTT || PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

[Funcionário público. Preso em Fevereiro de 1927, por ter participado no movimento revolucionário desse mês. Deportado para Cabo Verde em 1931, segundo a lista do Major António Fernandes Varão (
"Lista Geral dos Deportados pela Ditadura para Cabo Verde embarcados em Lisboa, S. Miguel (Ponta Delgada), St.ª Maria, Angra do Heroísmo (Ilha Terceira), Horta (Faial), Pico, Luanda (Angola), Lourenço Marques, Guiné" - manuscrito As revoltas contra  a Ditadura nas Ilhas Adjacentes e Colónias em Abril de 1931). Libertado pela Secção de Vigilância em 19/05/1932, no mesmo dia que Francisco dos Santos, João Moreira, José da Costa, José Martins e Miguel da Silva, todos presos políticos envolvidos noutros processos.]
[alterado em 04/12/2021]

00739. Cândido Marques da Silva [1927, 1928, 1931]  

[Aveiro, 1897, empregado no comércio / manipulador de pão - Lisboa. Filiação: Maria Augusta Marques e Francisco Marques da Silva. Solteiro. Preso em 15/04/1925, "por suspeita de cumplicidade no lançamento de uma bomba na Calçada da Estrela"; libertado em 21/04/1925 (Processo 2511-16/PSE). Preso em 23/11/1927, "por ser agitador da classe dos Manipuladores de Pão e incitador de atentados pessoais", e deportado para a Guiné em 15/01/1928 (Processo 3405), de onde se evadiu. Preso em 11/04/1928, enviado pelo Cônsul português em Dakar, e deportado para a Guiné em 04/05/1928 (Processo 3637). Apresentou-se, em 05/07/1930, no Quartel-General do Governo Militar da Madeira, aguardando transporte para a Ilha Graciosa. Por ter participado na Revolta das Ilhas, foi deportado para Cabo Verde em meados de 1931. Por não ter sido abrangido pela amnistia de 05/12/1932, manteve-se em Cabo Verde. Em Março de 1937, solicitou transferência da Ilha de S. Nicolau para a cidade da Praia, por se encontrarem ali os seus filhos. A  deportação só seria levantada em Agosto de 1944.]

00740. Carlos Alberto Coque [1928]

[Porto, 1878, professor - Porto. Filiação: Maria Cândida da Encarnação Coque e Custódio José Coque. Casado. Em 1920, "fazia parte da GNR" e "entrou no 27 de Abril". Vogal do Grémio dos Professores do Ensino Primário Superior, dirigiu, com Oliveira Cabral, O Ensino do Povo, quinzenário consagrado aos interesses do ensino primário superior, editado entre 01/03/1925 e 15/09/1925, onde assinou diversos textos. Preso no Porto em 25/03/1928, quando teria cerca de 50 anos, "por guardar bombas destinadas ao próximo movimento revolucionário".

Numa carta datada de 09/04/1928, escrita da prisão de Monsanto e dirigida a Luís Cardim, Carlos Alberto Coque dá conta do que passou a seguir à sua prisão, nomeadamente as torturas a que foi sujeito:

«De prisão em prisão aqui vim parar. Uns dizem que embarcaremos para a África; outros afirmam que não. Os tormentos que tenho passado, assemelham-se aos que se aplicavam na Santa Inquisição. Nove dias incomunicável nas salas da Polícia de Informação (...) obrigaram-me a andar a pé 20 horas seguidas, sem parar, sem dormir, sem descansar, enfim. Três vezes caí no chão. A mão esquerda inchou, porque eu agarrava-me às paredes e aos frisos das portas para arrastar os pés. (...) Esta carta tem um fim único, meu caro Doutor. É a Alina, é a Alda que eu tenho no pensamento. (...) Meu querido doutor, peço-lhe que as proteja. A sua proteção agora é que é mais precisa às pobres pequenas do que nunca. Eu abençoarei a sua memória, meu querido amigo. Peça também aos seus colegas, sim? Então a Faculdade fechada! Parece impossível! O futuro há de repor tudo no seu lugar. Eu naturalmente é que não verei chegar essa hora, porque o clima de África acabará comigo mais depressa que os meus perseguidores.»
(José Manuel Martins Ferreira, "O Dr. Luís Cardim e a primeira Faculdade de Letras do Porto", in 
Comemorações do Centenário da Faculdade de Letras da Universidade do Porto - Conferências, Porto, FLUP, 2020)
(Alina del Negro Coque era a sua filha e concluiu a licenciatura em Filologia Germânica em 02/08/1928) 

Deportado, em 04/05/1928, para São Tomé (Processo 3690), foi transferido para Angola e, em Janeiro de 1930, para a Madeira. Por ter participado na revolta de 04/04/1931, embarcou, em 13/05/1931, no vapor "João Belo", com destino a Cabo Verde, onde lhe foi fixada residência. Encontrava-se, em 1932, em Ponta do Sol, Ilha de Santo Antão, juntamente com o general Adalberto Gastão de Sousa Dias. Permaneceu em Cabo Verde, por não ter sido abrangido pela amnistia de 05/12/1932. O Tribunal Militar Especial, em ofício de 05/05/1933, informou a Polícia de que o processo, na parte que envolvia Carlos Alberto Coque, tinha sido arquivado, tendo sido autorizado a regressar por despacho do Ministro do Interior, de 06/05/1933: embarcou no vapor "Cabo Verde" em 08/06/1933 e apresentou-se na Polícia em 17/06/1933, regressando ao Porto, onde vivia. Esteve presente aquando da chegada a Lisboa dos restos mortais do general Sousa Dias (Dezembro de 1935).]

[João Esteves]

[2620.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [XCV] || 1926 - 1933

* PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || XCV * 

00729. António Elvas [1930]

[1901, contínuo do Banco Inglês - Lisboa. Solteiro. Filiação: Piedade Rosa e Januário Elvas. Preso em 10/12/1930, "por suspeita de conspirar contra a Situação"; libertado em 11/12/1930.]

00730. António Duarte Azadinho [1932]

[S. Paulo - Brasil, \917, aprendiz de tipógrafo - Aveiro. Solteiro. Preso pela PSP de Aveiro em 08/06/1932, "por se ter prestado a fazer recados aos indivíduos que trabalhavam na confecção dos manifestos distribuídos de incitamento à greve, que foram distribuídos naquela cidade"; libertado "devido à sua pouca idade" (v. Processo 398).]

00731. António Duarte Pega [1930]

[Mealhada - Vacariça, 1898, tesoureiro municipal - Mealhada. Solteiro. Filiação: Felícia Augusta e Joaquim Duarte Pega. Director, em 1920, do periódico "Mealhadense", publicado trimestralmente na Mealhada. Preso em 11/06/1930, "por ter sido surpreendido numa reunião secreta de carácter maçónico, com mais 17 maçons, na Rua das Covas, n.º 15, pelas 22 horas." Libertado em 13/06/1930, "por ter oferecido a importância de mil e quinhentos escudos (1.500$00) para a Assistência Pública." Por determinação superior, ficou sem efeito esta doação (Processo de Coimbra 175).]

00732. Jaime Augusto Abrunhosa [1927, 1928, 1932]

[Jaime Augusto Abrunhosa || F. 01/12/1928 || ANTT || PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

[1889, funcionário de biblioteca. Casado, com residência em Almada. Filiação: Emília Miranda Valente e César Augusto Abrunhosa. Considerado "revolucionário civil" durante a 1.ª República, requereu ao Senado, em meados de 1912, para ser colocado como "funcionário público". Preso em 26/02/1927, "por suspeita de conspirar"; libertado em 01/03/1927 (Processo 3013). Preso em 26/07/1928, "por suspeita de ter tomado parte no movimento revolucionário de 20 do mesmo mês"; libertado em 24/08/1928 (Processo 3921). Preso em 29/04/1932, por estar envolvido em actividades com Nestor de Assunção; libertado em 12/05/1932, por nada se ter provado (Processo 364). Libertado pela Secção de Vigilância no mesmo dia que Adão DuarteAntónio José FernandesAntónio Maria, César Aires Ferreira QuaresmaFrancisco dos Santos ViolanteFrancisco José da CruzFrancisco VenturaJosé PiresKropotkine Lopes de OliveiraMartinho OsórioPaulino de Vilhena e Vlademiro Mendes Coelho, todos eles presos por diferentes motivos políticos e envolvidos noutros processos.]

00733. Jaime Barata [1929, 1932]

[Jaime Barata || F. 09/09/1929 || ANTT || PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

[Arcos de Valdevez, c. 1903, escoveiro. Filiação: Maria Vieira Antunes e António Antunes. Solteiro. Residência: Beco das Lages, 4. Terá sido preso uma primeira vez em 1929, segundo fotografia que consta dos "Livros de Cadastrados" datada de 09/09/1929. Preso em 16/06/1932, juntamente com Armando Antunes, «por ter tentado fomentar a greve entre os seus colegas que, como ele, trabalham na fábrica "A Modelar"», recolheu, incomunicável, a uma esquadra; libertado em 22/07/1932 (v. Processo 453). Era da mesma terra de Armando Antunes, vivendo ambos na mesma casa.]

00734. João Eduardo Mendes Júnior [1928, 1928, 1937]

[João Eduardo Mendes Júnior || F. 06/09/1928 || ANTT || PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

[Évora, 01/09/1873, pedreiro / construtor civil - Évora. Casado. Filiação: Generosa Augusta Mendes e Joaquim António Mendes. Preso pela Polícia de Segurança do Estado em 01/10/1921, "por delito político". Preso em 21/07/1928, "acusado de ter ajudado a fazer as chaves para desaparafusar os carris da linha férrea"; libertado em 24/08/1928. Preso em 21/08/1928 (?), "por ser agente de ligação entre elementos revolucionários de Évora"; libertado em 04/10/1928. Enviado pelo TME, deu entrada na SPS da PVDE em 30/06/1937 e levado para o Aljube. Julgado em 07/07/1937, foi condenado na pena de 300$00 de multa, que não pagou; libertado em 12/07/1937.]

00735. Adelino Teixeira da Rocha [1931]

[Comerciante. Deportado para Cabo Verde em 1931 (António Fernandes Varão, "Lista Geral dos Deportados pela Ditadura para Cabo Verde embarcados em Lisboa, S. Miguel (Ponta Delgada), St.ª Maria, Angra do Heroísmo (Ilha Terceira), Horta (Faial), Pico, Luanda (Angola), Lourenço Marques, Guiné" - manuscrito As revoltas contra  a Ditadura nas Ilhas Adjacentes e Colónias em Abril de 1931).]

00736. Aires Filipe de Freitas [1931]

[Funchal, c. 1896, comerciante - Funchal. Filiação: Maria dos Passos de Vasconcelos e António Filipe Tiago de Freitas. Casou, em 23/10/1919, com Elisa da Piedade de Freitas. Terá sido opositor do Partido Democrático no Funchal, chegando a estar preso, por umas horas, no Palácio do Governador, na sequência de umas eleições para a Junta local realizadas em 1921. Presidente, na década de 1920, do União Futebol Clube. Preso na sequência da Revolta da Madeira e deportado para Cabo Verde (António Fernandes Varão, "Lista Geral dos Deportados pela Ditadura para Cabo Verde embarcados em Lisboa, S. Miguel (Ponta Delgada), St.ª Maria, Angra do Heroísmo (Ilha Terceira), Horta (Faial), Pico, Luanda (Angola), Lourenço Marques, Guiné" - manuscrito As revoltas contra  a Ditadura nas Ilhas Adjacentes e Colónias em Abril de 1931). Faleceu em 16/06/1944.]

[João Esteves]