[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

domingo, 14 de novembro de 2021

[2614.] FLORA CARLOTA ALVES TAVARES MAGRO [II] || 1896 - 1980

* FLORA CARLOTA ALVES TAVARES MAGRO *

[18/11/1896 - 1980]

Eis um nome que não consta dos livros, mas cuja História simboliza o que muitas famílias sofreram por ousarem bater-se contra uma Ditadura que se ia prolongando no tempo, com a cumplicidade passiva de muitos.  

Juntamente com Herculana de Jesus da Costa Dias Carvalho e Maria da Conceição Rodrigues Pato, Flora Magro, já viúva, passou parte da vida a caminho das prisões políticas fascistas, onde estiveram, enquanto presos políticos, o filho José Alves Tavares Magro [1920-1980], a nora Aida de Freitas Loureiro Magro [1918-2011] e o genro Joaquim Pires Jorge [1907-1984], todos militantes ou dirigentes do Partido Comunista. 

[Flora Magro || Fotografia in Elas estiveram nas prisões do fascismo || URAP || 2021]

Flora Carlota Alves nasceu em 18 de Novembro de 1896, em Lisboa, e era casada com Francisco Félix Tavares Magro [1896-1946], natural de Arronches, estudante de Medicina entre 1915 e 1935, comerciante e maçon. 

Como refere Gina de Freitas na entrevista que lhe fez logo a seguir ao 25 de Abril de 1974 e publicada no Diário de Lisboa de de 18 de Dezembro, “é um exemplo de grande coragem, resistência física e moral” em defesa das condições prisionais dos familiares e tomou conta, juntamente com o filho João, das netas Manuela e Clara, filhas, respectivamente, de José e Aida Magro e de Maria Helena Magro e Pires Jorge

Então com 78 anos, declarou naquela entrevista que “durante 23 anos andei sempre a caminhar para as cadeias” e, entre 1951 e 1974, “só tive três meses de férias”, já que, alternadamente ou em simultâneo, chegaram a estar todos presos, à excepção da filha Helena, que entrou para a clandestinidade em 1945 e aí morreu em 1956, “no termo de uma gravidez muito difícil” [Margarida Tengarrinha, Quadros da Memória, Edições Avante!, 2004, p. 61], sem mais voltar a vê-la e só sabendo do triste desenlace três meses depois:

«Não a vi viva nem fui ao enterro. É uma mágoa que nunca mais me sairá [...]. Se ela tivesse sido presa ao menos vi-a. A Aida esteve presa seis anos, e eu ia visitá-la todas as semanas a Caxias. [...] Era o que também podia ter acontecido à minha filha. E só soube da morte passados três meses de ela ter falecido.»

 [Entrevista a Gina de Freitas]

[Os visitantes habituais das cadeias tinham um cartão || Diário de Lisboa || 18/12/1974]

Assistiu ao julgamento de José Magro em 1952, onde este se referiu às dificuldades económicas da família e à mãe, “precocemente envelhecida”, e deslocou-se constantemente à Rua António Maria Cardoso, sede da PIDE, onde a conheciam muito bem, ao Aljube, a Caxias e ao Forte de Peniche, já que o filho esteve 21 anos preso, a nora seis e o genro, quando o conheceu, dez. 

Faleceu em Agosto de 1980, apenas seis meses depois do filho, com 83 anos de idade.  

[João Esteves]

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