[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

[0212.] SARA BEIRÃO [I] || 1880 - 1974

* SARA BEIRÃO *
[30/07/1880 - 21/05/1974]

[Sara Beirão || 1928 || Pormenor de uma fotografia do II Congresso Feminista]

Filha do médico Francisco de Vasconcelos de Carvalho Beirão, a jornalista e escritora Sara de Vasconcelos Carvalho Beirão nasceu em Tábua em 30 de Julho de 1880.

Para além da notoriedade enquanto autora foi, desde a Monarquia, propagandista republicana e militou na Liga Republicana das Mulheres Portuguesas e no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas.

A sua estreia no jornalismo deu-se no periódico Tabuense fundado pelo pai, servindo-se do pseudónimo Álvaro de Vasconcelos. Passou por Coimbra, onde colaborou no jornal Humanidade e, quando se fixou em Lisboa, manteve colaboração diversificada na imprensa: Boletim da Câmara Municipal de Lisboa, O Comércio do Porto, Diário de Coimbra, Diário de Lisboa, Diário de Notícias, Eva, Figueirense, Ilustração, Jornal da Mulher, Jornal de Notícias, Modas e Bordados, Portugal Feminino, O Primeiro de Janeiro, O Século, O Século Ilustrado, Serões, Vértice.

Assinou textos em jornais brasileiros - Diário Português e Vida Carioca - e proferiu conferências sobre temas educativos e femininos.

[O Mundo || Maio de 1909]

Embora menos conhecida, a intervenção política é igualmente significativa. Em 2 de Maio de 1909, secretariou, juntamente com Teresa Henriques Gomes, o primeiro comício republicano realizado em Tábua, a que se seguiu a inauguração do Centro Republicano Tabuense, presidido pelo pai, o que mereceu destaque no jornal O Mundo, que inseriu a fotografia de Sara Beirão.

Nesse mesmo mês de Maio, dinamizou a constituição do núcleo de Tábua da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, tornou-se sua Presidente em reunião por si convocada (23/05/1909) e, segundo confidenciou Beatriz Pinheiro de Lemos a Ana de Castro Osório, era “uma fervorosa propagandista”.

Nessa qualidade, subscreveu a saudação ao novo Directório do Partido Republicano Português (1909) e assinou, entre 1912 e 1914, textos no jornal A Madrugada, onde apelava à solidariedade entre as mulheres.

Depois de um interregno, prosseguiu a militância feminista no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas.

Assumiu, a partir de 1925, grande protagonismo mediante o desempenho de cargos dirigentes: Vogal (1925, 1927, 1928), Vice-Presidente (1931-1934, 1943-1945), Presidente (1936-1941) e Presidente-Honorária (1942) da Direcção; Presidente da Assembleia Geral (1929, 1930); e Presidente da Secção de Sufrágio (1926). Também integrou as Secções da Paz (1931), do Sufrágio (1932-1934) e da Imprensa (1933, 1934).


No Segundo Congresso Feminista e de Educação, realizado em 1928, apresentou a tese “A mulher portuguesa no comércio” e, na assembleia geral de 30 de Dezembro de 1928, foi indigitada para integrar a comissão responsável por organizar um plano de conferências feministas. Era então cronista de O Primeiro de Janeiro, onde manteve durante anos a secção “Confessionário Feminino”.

Durante a década de 30, e até à viragem protagonizada por Maria Lamas, em 1945, tornou-se no rosto mais visível do CNMP. Com a partida de Adelaide Cabete para Angola, passou a desempenhar as funções de Presidente em Exercício e, em 1936, surgiu como Presidente.

Na qualidade de dirigente, angariou dezenas de sócias, muitas delas escritoras (Maria Amélia Teixeira) e artistas e, entre 1934 e Maio de 1946, assumiu as funções de Directora e Editora da revista Alma Feminina, onde escreveu regularmente. Muitos dos textos eram dedicados a feministas portuguesas (Adelaide Cabete, Ana de Castro Osório, Elina Guimarães) e estrangeiras (Avril de Sainte-Croix, Jane Addams, Luise Ey, Marquesa de Aberdeen, Simone Beauvoir).

Discursou, em nome do Conselho, na homenagem à escritora brasileira Iveta Ribeiro (1931) e na sessão comemorativa da Paz, realizada no Grémio Beirão (15/06/1932); foi a autora do folheto de propaganda a favor da Paz (1934); participou na recepção promovida a Adelaide Cabete quando do seu regresso de África; presidiu à sessão evocativa do 67.º aniversário desta médica, organizada na Universidade Popular Portuguesa; pertenceu à Comissão que entregou na Assembleia Nacional um requerimento pedindo que as competências da Tutoria da Infância sobre as raparigas fosse alargada dos 16 para os 21 anos, de forma a impedir o registo de toleradas antes desta idade, como estava sucedendo (10/02/1940); realizou, a convite do núcleo numeroso de sócias do Concelho de Vila da Feira, a conferência “A Mulher na civilização de hoje” (1940); fez parte do grupo encarregado de recolher os donativos a favor da Cruz Vermelha Inglesa (1940); e integrou a delegação que visitou o Jardim-Escola João de Deus, com a finalidade de se estudar o sistema de ensino adoptado naquele estabelecimento (24/03/1941).

Esteve representada na importante “Exposição de Livros Escritos por Mulheres” organizada pela agremiação em 1947, na Sociedade Nacional de Belas Artes, até porque nunca abandonou a actividade de escritora.

Em 1961, fundou em Tábua, com António Costa Carvalho, seu marido, a Casa de Repouso e Assistência para Artistas e Intelectuais.

Morou em Lisboa, na Av. Duque de Ávila, 94, 3.º, e faleceu em Tábua, em 21 de Maio de 1974, com quase noventa anos.

[v. JE, "Sara Vasconcelos de Carvalho Beirão", Dicionário no Feminino (Séculos XIX-XX), Livros Horizonte, 2005, pp. 846-848]

Em 2012, FÁTIMA PAIS publicou um texto biográfico de Sara Beirão na revista Arganilia, III série, Nº 25.



[João Esteves]

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostaria de ajudar com este pequeno comentário para a correcção da data de nascimento desta grande senhora: Sarah Beirão, nasceu no ano de 1880, conforme assento de baptismo referido na revista cultural Beira Serra "Arganilia" nº 25, 2012, por Fátima Pais

João Esteves disse...

Obrigado por esta relevante informação e correcção, verificando-se, com alguma frequência, imprecisões nas datas de nascimento e falecimento de diversas activistas.