[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

domingo, 31 de março de 2019

[2091.] MANUEL TOMÁS BARRETO [I] || PRESO NO ALJUBE, ONDE TERÁ ENLOUQUECIDO

* MANUEL TOMÁS BARRETO *

PRESO EM ARRAIOLOS EM 1932 || "ENLOUQUECEU" NO ALJUBE EM 1933

Filho de Engrácia de Jesus e de Mário Monteiro Barreto, Manuel Tomás Barreto terá nascido em 1888, em Nossa Senhora da Graça do Divor, concelho de Évora.

Cantoneiro, com residência na Estrada  Nacional Nº 18 - Casa do Cantoneiro, foi preso pela Polícia de Segurança Pública de Évora por motivos sociais [Processo 570] e entregue à Polícia de Defesa Política e Social em 30 de Novembro de 1932, tendo o respectivo processo sido enviado ao Tribunal Militar Especial para se proceder ao seu julgamento [ANTT, Cadastro Político 4518].

Segundo um comunicado da Federação Regional Portuguesa das Juventudes Anarco-Sindicalistas, datado de Março de 1933, Manuel Tomás Barreto tinha sido preso em Arraiolos, juntamente com outro modesto trabalhador de estradas, «sob a única acusação de pertencerem aos corpos gerentes da sua Associação de Classe cujo funcionamento estava autorizado por todas as leis vigentes». 

[Março de 1933 || ANTT || PT-TT-PIDE-001-00538_m0001]

Ainda segundo o mesmo documento, os dois presos, «Levados para a cadeia de Évora, foram ali sujeitos aos maiores vexames e torturas físicas e morais, as quais continuaram em Lisboa na tenebrosa sede da moderna inquisição. // Nos infames calabouços policiais sofreram largos dias de rigorosa incomunicabilidade – suficiente só por si para transtornar o cérebro mais forte – sendo, por fim, arremessados para a tétrica Cadeia do Aljube onde impera o mais infame dos regimes penitenciários!».

Em 3 de Março de 1933, o Director da Cadeia do Aljube informou a Polícia de Defesa Política e Social que Manuel Tomás Barreto começara a «apresentar indícios de alienação mental», sendo-lhe comunicado que o preso se encontrava à disposição do Tribunal Militar Especial de Lisboa, «única entidade que poderá modificar a sua situação»  [ANTT, Cadastro Político].

No dia seguinte, o TME autorizou a transferência de Manuel Tomás Barreto para a Enfermaria da Cadeia do Limoeiro. Atendendo ao agravamento do seu estado de saúde, entrou, em 13 de Março, no Miguel Bombarda, onde ficou internado.

No comunicado da Federação Regional Portuguesa das Juventudes Anarco-Sindicalistas, intitulado AO POVO // A DITADURA E A SUA OBRA // Um preso que enlouquece no Aljube de Lisboa, afirmava-se que «Manuel Tomás Barreto talvez consciente da desgraça que o liquidava ainda gritou no princípio da sua loucura violentos morras à Ditadura e vivas à Revolução Social. Os tiranos que o desgraçavam não o esqueciam! O Ideal que, embora rudemente tinha concebido, tardava a apagar-se-lhe da mente!», denunciando-se que «À extensa e negra lista de assassinatos, torturas, violências que a Ditadura já tinha escrito foi-lhe acrescentado um crime mais, cuja características horríveis não podem deixar ninguém, ninguém indiferente!».

O julgamento de Manuel Tomás Barreto e do companheiro, só terá ocorrido no ano seguinte, em 13 de Outubro de 1934.

Fontes:
ANTT, Cadastro Político 4518 [Manuel Tomás Barreto / PT-TT-PIDE-E-001-CX14_m0190, m0190a].
ANTT, Federação Regional Portuguesa das Juventudes Anarco-Sindicalistas, "AO POVO // A DITADURA E A SUA OBRA // Um preso que enlouquece no Aljube de Lisboa" [PT-TT-PIDE-001-00538_m0001].

[João Esteves]

sábado, 30 de março de 2019

[2090.] CARTA ABERTA DOS PRESOS DO ALJUBE [I] || 30 DE MARÇO DE 1933

* HÁ 86 ANOS || CARTA ABERTA AO EX.MO SR. MINISTRO DO INTERIOR || ALJUBE || 30 DE MARÇO DE 1933 *

Em resposta a uma visita do Ministro do Interior [Albino Soares Pinto dos Reis Júnior (30/09/1888 - 14/05/1983)] ao Aljube e à respectiva nota oficiosa publicada nos jornais, 56 dos 75 presos no Aljube de Lisboa esclarecem e denunciam, em Carta Aberta impressa datada de 30 de Março de 1933, as torturas sofridas, sendo que «foram espancados 49, e alguns duma  maneira bastante selvagem».

[30/03/1933 || ANTT || PT-TT-PIDE-001-00546_m0001]

Neste documento, que consta do ANTT, elucida-se que os presos «foram barbaramente espancados uns, conservados em rigorosa incomunicabilidade por longos dias outros, e insultados quase todos»; «foram uns torturados por espancamento, outros por algemas, muitos conservados de pé sem comer e sem beber, alguns proibidos de utilizarem as retretes para satisfazerem as suas necessidades durante alguns dias».

O texto refere, ainda, que o Ministro «se fez acompanhar de alguns dos principais verdugos policiais, como por exemplo o Subdirector da Polícia de Informações, tenente Rosa Mendes, Sargento ajudante António Augusto Pires e o sádico Fernando Gouveia, chefe da brigada da polícia de informações, um dos maiores facínoras que fazem parte daquela corporação».

Assinam o documento «republicanos, comunistas e sindicalistas, alguns dos quais foram combatentes da Grande Guerra tendo já, à Pátria e à República, prestado relevantes serviços»:

[30/03/1933 || ANTT || PT-TT-PIDE-001-00546_m0001]

Adolfo Correia da Fonseca, Médico
Adolfo Teixeira Pais, Trabalhador
Afonso Henriques, Empregado Comercial
Albino Salgado, Estudante
Alfredo Crepim Duarte,
António Castanheira, Servente
Américo Gomes, Operário
Aníbal dos Santos Nunes Rosário,
António da Piedade Cipriano, Comércio
António de Melo Pimentel, Professor
António Francisco, Carpinteiro
António João Mendes
António Silva, Marceneiro
Armando Carvalho
Arménio da Silva, Ferroviário
Carlos Filipe Rodrigues Consiglieri, Ferroviário
Carlos Norberto
Cassiano Nunes Diogo, Operário do Arsenal da Marinha
Custódio Rodrigues Ferreira, Descarregador
Emílio Miguel Valoroso, Caixeiro
Eurico Pinto Mateus, Estucador
Floriano Sampaio Luz, Estudante
Francisco Cardoso Pires, Sapateiro
Francisco Ferreira Dias,
Francisco Nóbrega Quintal Júnior, Viajante Comercial
Horácio da Silva Alves, Serralheiro
Isaac Soares, Caixeiro
Jacinto Rodrigues da Silva, Serralheiro
João Augusto, Pintor
João Batista Coelho, Sapateiro
João Ferreira de Abreu, Serralheiro
João Marques Lustosa, Barbeiro
Joaquim Miquelino da Silva, Torneiro
Jorge Brehs de Almeida Teixeira, Aluno de Direito
Jorge Monteiro
José António Correia de Sousa, Escriturário
José Augusto de Castro, Carpinteiro
José de Sousa,
José Manuel Saraiva de Aguiar, Alfaiate
José Maria Videira, Operário Metalúrgico
José Paulo Loia, Trabalhador
José Vitorino
Leonildo de Assunção Felizardo, Chofer
Manuel Augusto da Rosa Alpedrinha, Aluno da Escola Colonial
Manuel do Nascimento Viegas Raposo, Empregado de Escritório
Manuel dos Santos, Marceneiro
Manuel dos Santos Sardinha, Industrial
Manuel Francisco Pires, Industrial
Manuel Francisco Roque Júnior, Serralheiro
Manuel Joaquim de Sousa, Sapateiro
Manuel Lourenço,
Mário Rodrigues Pio, Operário
Raul Correia, Chapeleiro
Valério da Cruz, Estivador
Victor Hugo Velez Grilo, Estudante de Medicina
Virgínio de Jesus Luís, Barbeiro

[João Esteves]

[2089.] SÃO PEDRO DE MOEL [I] || MARÇO DE 2019

* SÃO PEDRO DE MOEL || 2019 *



[S. Pedro de Moel || Março de 2019]

sexta-feira, 29 de março de 2019

[2088.] MARINHEIROS A CAMINHO DO TARRAFAL || OUTUBRO DE 1936

* MARINHEIROS DA REVOLTA DE 8 DE SETEMBRO DE 1936 A CAMINHO DO BARCO QUE OS LEVARIA PARA O CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DO TARRAFAL *

"OS MARINHEIROS QUE PARTICIPARAM NA REVOLTA DE 1936 SÃO TRANSPORTADOS PARA O PORTO PARA SEREM DEPORTADOS PARA O CAMPO PRISÃO DO TARRAFAL EM CABO VERDE."
[Outubro de 1936 || ANTT || PT/TT/SNI/ARQF/RP-003/35045]

Em 8 de Setembro de 1936, centenas de marinheiros dos navios Afonso de Albuquerque, Bartolomeu Dias e Dão, liderados pela Organização Revolucionária da Armada, estrutura ligada ao Partido Comunista, revoltaram-se com o objectivo de conter as perseguições que se sucediam na Marinha, libertar os presos políticos que estavam em Angra do Heroísmo e juntarem-se às forças republicanas de Espanha.

Esmagada pelas forças salazaristas, morreram 12 marinheiros, centenas foram presos, dezenas foram deportados no mês seguinte para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde permaneceram muitos anos, e muitos outros foram expulsos da Marinha.

quinta-feira, 28 de março de 2019

[2087.] NÚMERO DE PRESOS POLÍTICOS EM 25 DE SETEMBRO DE 1936 || DOCUMENTO DA PVDE

* PRESOS POLÍTICOS || 25 DE SETEMBRO DE 1936 *

Número de presos políticos nas Cadeias de Angra do Heroísmo, Beja, Lisboa, Peniche, Porto e Santarém: 1191. 

[25/09/1936 || ANTT ||  PT-TT-AOS-D-G-8-4-1_m0003]

Presos políticos deportados para Cabo Verde, Guiné, Moçambique e Timor: 157.

 [25/09/1936 || ANTT ||  PT-TT-AOS-D-G-8-4-1_m0004]

Presos estrangeiros em Barrancos, Bragança, Campo Maior, Castelo Branco, Caxias, Chaves, Elvas, Moura, Valença e Vilar Formoso: 500 [496 espanhóis, 1 uruguaio, 2 argentinos e 1 inglês].

 [25/09/1936 || ANTT ||  PT-TT-AOS-D-G-8-4-1_m0005]

terça-feira, 26 de março de 2019

[2085.] JOANA QUEIROGA DE ALMEIDA [I] || 1885 - 1965

* MARIA JOANA MORAIS PERDIGÃO QUEIROGA DE ALMEIDA *
[09/03/1885 - 27/06/1965]

[17/07/1926 || ANTT || PT/TT/EPJS/SF/001-001/0003/1003A]

Natural do Redondo, Maria Joana Perdigão Queiroga de Almeida [1885 - 1965], «filha dum senhor que fora lavrador e autor de vários inventos que chegaram a ser expostos» [Vital Fontes, Servidor de Reis e de Presidentes, 1945], desposou António José de Almeida [27/07/1866 - 31/10/1929] em Dezembro de 1910 e nunca se mudou, tal como o marido, para as instalações de Belém, ficando-se pela casa da Avenida António Augusto de Aguiar.

Considerada «esposa dedicadíssima, em todas as boas ou adversas situações políticas» [Américo Lopes de Oliveira, Dicionário de Mulheres Célebres, 1981], manteve sempre uma acção discreta enquanto o marido exerceu as funções de Presidente da República: presenciou eventos relacionados com a passagem dos Reis da Bélgica por Lisboa, em Novembro de 1920, onde «fez muito boa figura» [Vital Fontes], mas não integrou a comitiva do marido na histórica viagem oficial ao Brasil por ocasião das comemorações do primeiro centenário da independência [1922], embora lhe tenha sido dado destaque quando, no momento do regresso, o foi receber ao cais. 

Pertenceu à Cruzada das Mulheres Portuguesas, fundada em Março de 1916, sendo a Presidente da Comissão de Assistência às mulheres e mães dos mobilizados.

Em 1923, presidiu à Comissão organizadora da Festa da Flor, visando angariar donativos para a Cruz Vermelha Portuguesa, instituição de que foi Presidente Honorária e, em 5 de Setembro, por proposta do Ministro do Interior, foi agraciada com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo. 

Em 1928, sob a Ditadura Militar que tinha posto fim à 1.ª República, Maria Joana Queiroga de Almeida, juntamente com outras esposas de antigos governantes republicanos, aderiu e empenhou-se corajosamente no primeiro grande movimento nacional de apoio às famílias dos presos, deportados e emigrados políticos, promovido pelo jornal O Rebate. Então com 42 anos, presidiu à Comissão de Honra, que contava entre as Vogais Adelina Antónia Marques de Lemos, casada com o engenheiro António Maria da Silva, Maria Ângela Rego dos Santos Pestana, esposa de Manuel Gregório Pestana Júnior, Maria da Piedade Topinho de Almeida Ginestal Machado, cônjuge de António Ginestal Machado, Maria José Videira, consorciada com Francisco Pinto da Cunha Leal e a esposa de Domingos Pereira [O Rebate, 31/05/1928]. 

[João Esteves]

[2084.] MONTE REAL [I] || MARÇO DE 2019

* MONTE REAL || 2019 *



[Monte Real || Março de 2019]

sábado, 23 de março de 2019

[2083.] ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA E JOANA QUEIROGA DE ALMEIDA [I] || 17/07/1926

* ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA [17/07/1866 - 31/10/1929] | MARIA JOANA PERDIGÃO QUEIROGA DE ALMEIDA [1885 - 1965] *

17 DE JULHO DE 1926 

60.º ANIVERSÁRIO DE ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA || COM A DIRECÇÃO DO CENTRO REPUBLICANO DE QUE ERA PATRONO

[17/07/1926 || ANTT || PT/TT/EPJS/SF/001-001/0003/1003A]

sexta-feira, 22 de março de 2019

[2082.] AMÉLIA ALMEIDA BRANDÃO DE CAL OU AMÉLIA ALMEIDA CAL BRANDÃO [VI] || 1935

* AMÉLIA DE ALMEIDA BRANDÃO DE CAL || CARLOS CAL BRANDÃO *

Resposta da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado ao requerimento de Amélia de Almeida Brandão de Cal ao Ministro do Interior, onde reclamava da situação do seu filho Carlos Cal Brandão [1906 - 1973] que se encontrava há anos deportado: primeiro em Cabo Verde, seguindo depois para Timor.

Em 25 de Maio de 1930, Carlos Cal Brandão foi preso em Coimbra por aí ter presidido a uma sessão no Centro Académico Republicano, «onde foi atacada a actual Situação Militar» e «ter assinado um telegrama de saudação e de protesto aos emigrados políticos». 

Foi, então, condenado a seis meses de prisão, seguiu para Lisboa em 18 de Maio e libertado em 2 de Agosto de 1930.

Voltou a ser preso em Março de 1931, «por andar envolvido em manejos revolucionários, sendo acusado de ter ligações com ex-oficiais do Exército e outros elementos conhecidos como adversários da Situação, tendo sido intermediário da entrega, a que assistiu, de 12 bombas, feitas por um ex-oficial».

Em Junho de 1931, «foi deportado para Cabo Verde, embarcando a bordo do vapor "Pedro Gomes"».

A informação da PVDE, assinada pelo tenente José Catela, seu Secretário-Geral, termina informando que Carlos Cal Brandão não fora abrangido pela amnistia de 5 de Dezembro de 1932.


[2081.] AMÉLIA ALMEIDA BRANDÃO DE CAL OU AMÉLIA ALMEIDA CAL BRANDÃO [V] || 1935

* AMÉLIA ALMEIDA BRANDÃO DE CAL OU AMÉLIA ALMEIDA CAL BRANDÃO *

Assinatura em Requerimento ao Ministro do Interior, datado de Janeiro de 1935

quinta-feira, 21 de março de 2019

[2080.] AMÉLIA ALMEIDA BRANDÃO DE CAL OU AMÉLIA ALMEIDA CAL BRANDÃO [IV] || 1935

* AMÉLIA DE ALMEIDA BRANDÃO DE CAL || CARLOS CAL BRANDÃO *

Requerimento de Amélia de Almeida Brandão de Cal ao Ministro do Interior, datado de Janeiro de 1935, reclamando da situação do seu filho Carlos Cal Brandão [1906 - 1973] que se encontrava há anos deportado: primeiro em Cabo Verde, seguindo depois para Timor.

Preso no Porto em Março de 1931, Carlos Cal Brandão passou para as cadeias de Lisboa e, em Maio desse mesmo ano, integrou o grupo de presos políticos embarcado no navio Pedro Gomes para São Nicolau, Cabo Verde. Meses depois, seguiu para Timor no navio Gil Eanes, só regressando em meados de Fevereiro de 1946, altura em que desembarcou em Lisboa.

O Ministro do Interior enviou o requerimento à Polícia de Vigilância e Defesa do Estado.


terça-feira, 19 de março de 2019

[2079.] ALEXANDRE VIEIRA [I] || O CASO DA BIBLIOTECA NACIONAL - MARÇO DE 1927

* ALEXANDRE FERNANDES VIEIRA *
[11/09/1880 - 26/12/1973]

[Alexandre Vieira || 04/03/1927 || ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-1-NT-8902_m0042 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Operário gráfico / tipógrafo e jornalista, Alexandre Vieira destacou-se enquanto figura relevante do movimento operário e do sindicalismo revolucionário nos últimos anos da Monarquia e durante toda a 1.ª República, tendo sido o primeiro director do periódico A Batalha, esbatendo-se a sua intervenção sindical e política a partir da década de 1930.

Filho do ferroviário José Fernandes Vieira, nasceu no Porto, na freguesia de Santo Ildefonso, em 11 de Setembro de 1880, com apenas dez anos era aprendiz de latoeiro em Viana do Castelo e aos quinze iniciou, em Coimbra, a sua vida de tipógrafo, profissão a que ficou sempre associado. 

Dirigiu, em Viana do Castelo, O Lutador, órgão local da Federação das Associações Operárias e filiou-se na Associação dos Compositores Tipográficos quando se fixou em Lisboa.

Conviveu com Adolfo Lima [28/05/1874 - 27/11/1943], António Tomás Pinto Quartin [15/01/1887 - 07/02/1970], Aurélio Pereira da Silva Quintanilha [24/04/1892 - 27/06/1987], Emílio Martins Costa [21/02/1877 - 17/02/1952], João Evangelista Campos Lima [1877 - 1956] e Neno Vasco [09/05/1878 - 15/09/1920], quase todos da sua geração, e tornou-se activista do sindicalismo revolucionário. 

Em 1908, durante escassos seis meses, dirigiu o diário A Greve, em colaboração com o anarquista Pinto Quartin e o socialista Fernandes Alves, periódico substituído, em Novembro de 1910, pelo semanário O Sindicalista.

Alexandre Vieira esteve activo durante os dezasseis anos da 1.ª República: participou no Congresso Operário de 1911 e no Congresso Nacional Operário de Tomar, realizado em Março de 1914, assembleia onde se deliberou a criação da União Operária Nacional e seria eleito secretário-geral da Comissão Executiva; integrou, em 1916/1917, a  Comissão de Sindicalistas que diligenciou junto de Afonso Costa devido à galopante carestia de vida; foi o primeiro director do jornal A Batalha, cujo primeiro número saiu em 23 de Fevereiro de 1919; e interveio como delegado ao II Congresso Operário Nacional, realizado em Setembro de 1919, em Coimbra, reunião que criou a Confederação Geral do Trabalho (CGT) em substituição da União Operária Nacional.

Preso por oito vezes, sem nunca ir a julgamento, passou pelas prisões do Limoeiro e do Governo Civil, tendo também permanecido detido no Forte de Elvas, Alexandre Vieira manteve um trajecto muito peculiar no movimento sindical, não procurando rupturas com os diferentes intervenientes da época e convivendo com alguns dos principais intelectuais republicanos e socialistas.

Chefiou a tipografia da Seara Nova e, depois, a da Biblioteca Nacional quando Jaime Cortesão [29/04/1884 - 14/08/1960] e Raul Proença [10/05/1884 - 20/05/1941] assumiram a sua direcção. Foi aqui que, já depois de instituída a Ditadura Militar e demitidos aqueles, Alexandre Vieira seria preso pela nona vez, na sequência de um conflito laboral com Fidelino de Figueiredo [20/07/1888 - 20/03/1967], o novo director da instituição nomeado em 16 de Fevereiro. 

[Alexandre Vieira || 04/03/1927 || ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-1-NT-8902_m0042 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Em defesa dos direitos laborais que o novo Director resolveu retirar aos gráficos, Alexandre Vieira e mais doze operários foram recebidos por Fidelino de Figueiredo no seu gabinete, em 3 de Março de 1927. Perante a ordem de expulsão de Alexandre Vieira do edifício e a agressividade crescente de Fidelino Figueiredo, aquele, sentindo-se ameaçado fisicamente, deu-lhe dois murros. 

Alexandre Vieira foi detido, juntamente com os doze operários, e levado para o Governo Civil, onde permaneceu uma semana e foi submetido a diversos interrogatórios policiais. Em 10 de Março, passou para o Forte de Monsanto e, em 14 de Maio, seguiu, sozinho, para a Cadeia do Limoeiro, sendo libertado, sob fiança e a aguardar julgamento, dois dias depois.

O SR. ALEXANDRE VIEIRA, QUE AGREDIU O SR. DR. FIDELINO DE FIGUEIREDO (DIRECTOR DA BIBLIOTECA) COM UM TINTEIRO, RESPONDENDO PERANTE O TRIBUNAL

[Alexandre Vieira || Junho de 1927 || ANTT || PT/TT/EPJS/SF/001-001/0005/0769B]

O julgamento realizou-se no Tribunal da Boa Hora em 23 de Junho de 1927, sendo o advogado de defesa Amílcar da Silva Ramada Curto [06/03/1886 - 15/10/1961] e tendo por testemunhas Afonso Lopes Vieira [26/01/1878 - 25/01/1946], António Augusto Ferreira de Macedo [1887 - 1959], Aurélio Quintanilha e José de Figueiredo [21/12/1872 - 18/12/1937]. Foi condenado a 30 dias de prisão.

No ano seguinte, participou, "como delegado fraternal", no Congresso da Internacional Sindical Vermelha realizado em Moscovo, disso dando conta no livro Delegacia a um congresso sindical [1960].

Alexandre Vieira continuou a intervir civicamente no âmbito da Universidade Popular Portuguesa, conjuntamente com Augusto Carlos Rodrigues, Avelino Henriques da Costa Cunhal [28/10/1887 - 19/12/1966], Bento de Jesus Caraça [18/01/1901 - 25/06/1948], José Carlos de Sousa e Luís Hernâni Dias Amado [19/01/1901 - 22/01/1981]. 

Faleceu em 26 de Dezembro de 1973, com 93 anos de idade e a 4 meses de viver em plena Liberdade.

[João Esteves]

domingo, 17 de março de 2019

[2076.] ALBERTO VILAÇA [VI] || À MESA D'A BRASILEIRA

* ALBERTO DE OLIVEIRA VILAÇA *

À MESA D'A BRASILEIRA. CULTURA, POLÍTICA E BOM-HUMOR

Calendário de Letras || Dezembro de 2005

Por muitas destas "pequenas histórias" narradas por Alberto Vilaça [1929 - 2007] passam muitos dos antifascistas de Coimbra vigiados ou presos pela PIDE e a quem Paulo Marques da Silva, no seu recente livro A PIDE e os seus informadores - O caso de Inácio [Palimage, 2019] se refere com mais detalhe por via do informador "Inácio".









[Calendário das Letras || Dezembro de 2005]

terça-feira, 12 de março de 2019

[2075.] PAULO MARQUES DA SILVA [I] || A PIDE E OS SEUS INFORMADORES. O CASO DE INÁCIO

* PAULO MARQUES DA SILVA

A PIDE E OS SEUS INFORMADORES. O CASO DE INÁCIO

Apresentação: Luís Reis Torgal

[Palimage || 2019]

Em “A PIDE e os seus informadores. O caso de Inácio”, Paulo Marques da Silva descreve, com minúcia, a actvidade de um informador de Coimbra que durante três dezenas e meia de anos, entre 1935 e 1971, vigiou e prestou informações detalhadas sobre os oposicionistas daquela cidade, sem nunca ser detectado pelos antifascistas com quem se encontrava e de quem ouviria confidências como se fosse um deles.

Não deixa de impressionar a facilidade com que “Inácio” se movimentava por (quase) todos os ambientes oposicionistas locais, desde a Academia às instituições culturais e desportivas, passando por cafés, via pública e espaços privados, até aos eventos de natureza pública como sessões, comícios e datas comemorativas, relatando aos seus superiores, sempre com enfâse persecutória, tudo o que dizia ter ouvido ou observado de dezenas de nomes, mesmo que tal não fosse necessariamente fidedigno, «identificando explicitamente nesses documentos os indivíduos que lhas tinham fornecido» [p. 46]. 

Os seus relatórios «são sistemáticos e cadenciados […] com nomes, acções ambiente “político” e contactos» [p. 51], contendo opiniões e orientações que os seus superiores deveriam seguir, para além de insinuações, suposições infundadas e muita adjectivação, terminando, quase sempre, com a referência «[a]o ódio à nossa polícia» que os visados partilhariam, de forma a instigar a PVDE/PIDE a actuar segundo as suas apreciações.

Nos relatórios redigidos sobressai, ainda, antipatia pessoal e política sobre os vigiados, havendo a preocupação constante de enfatizar a responsabilidade política de Albano Rodrigues Cunha, Francisco Salgado Zenha, Joaquim Vitorino Namorado ou Manuel Deniz Jacinto, todos conotados com o Partido Comunista e que tudo manobrariam na cidade, transcrevendo fragmentos de conversas, por vezes claramente inverosímeis conhecendo-se os envolvidos.  

Não estamos perante um informador qualquer, sendo que lidava directamente com Manuel Nogueira Branco e, depois, José Barreto Sacchetti, responsáveis pela Delegação da PVDE/PIDE de Coimbra, elencando Paulo Marques da Silva «mais de duzentos nomes de indivíduos denunciados por Inácio» [p. 46].

Nesta investigação exaustiva e minuciosa, com Apresentação de Luís Reis Torgal, o Autor evidencia quão importante foi o papel dos informadores ao serviço da PVDE/PIDE/DGS e como ele se revelou eficaz na perseguição e condicionamento das actividades oposicionistas, assim como dá a conhecer parte significativa das redes locais antifascistas, embora apenas as mais visíveis, pois houve outras que se mantiveram intocáveis e passaram despercebidas ao informador e ao regime. 

E apesar de conhecer muitíssimo bem o terreno em que se movia, constata-se que “Inácio” desconheceria o percurso anterior aos anos 30 de alguns dos nomes referenciados, bom como o percurso de outros que, em determinado momento, mudariam de campo. O facto de nunca referir as reuniões e encontros tidos nas casas de campo de alguns intelectuais, nomeadamente as que se realizavam regularmente na de João José Cochofel, pode indiciar que não estaria tão informado como faria crer aos seus superiores.

Embora não fosse esse o objectivo do livro, Paulo Marques da Silva revela a identidade de quem se escondia por trás do pseudónimo “Inácio”, «um informador que provocou grandes malefícios em Coimbra» [p. 315] no dizer de Alberto Vilaça: um funcionário dos Caminhos de Ferro Portugueses nascido em 19 de Novembro de 1899 e que fez grande parte da sua carreira naquela cidade. No dia 19 de Dezembro de 1974, foi inquirido pelos Serviços de Coordenação e Extinção da PIDE/DGS e LP de Coimbra, assinou um relatório sobre as suas actividades, confessando «que, por vezes, romanceava um pouco» [p. 318] e, perante a Ordem de Captura datada do dia seguinte, ter-se-á suicidado em 21 de Dezembro na zona da Pedrulha, arredores de Coimbra.

O Índice Onomástico constitui um importante auxiliar para quem quiser estudar o Antifascismo em Portugal.

Leitura igualmente inadiável para quem reconhece vivências de muitos dos nomes referenciados em memórias recuadas, alguns dos quais familiares ou convivas próximos.

Como Benedita Vasconcelos [1947 – 2017] gostaria de ter lido este livro! 

[João Esteves]

  




segunda-feira, 11 de março de 2019

[2074.] MULHERES E ASSOCIATIVISMO EM PORTUGAL (1914 - 1974) [II] || ICS - ULisboa

* 8 DE MARÇO DE 2019 *

"1914/1974 - 60 anos de intervenção associativa feminina e feminista: continuidades e rupturas"

[2073.] HELENA NEVES [II] || VIDAS PRISIONÁVEIS NO MUSEU DO ALJUBE

* VIDAS PRISIONÁVEIS || HELENA NEVES *

MUSEU DO ALJUBE, DA LIBERDADE E DA RESISTÊNCIA

CONVERSA CONDUZIDA POR ANA ARANHA || 13 DE MARÇO DE 2019 || 16 HORAS


«Vidas Prisionáveis

De jovem estudante contra o regime a lutadora pelos direitos das mulheres no quadro do Movimento Democrático de Mulheres. Pelo meio as prisões da Ditadura e depois a vida de empenhamento político no Portugal de Abril. Assim se fez, em traços muito largos, a vida de Helena Neves que vamos ouvir contar em Vidas Prisionáveis.»

domingo, 10 de março de 2019

[2072.] HELENA NEVES [I] || SEARA NOVA - OUTUBRO DE 1972

* HELENA NEVES *

"A MULHER PORTUGUESA NO ADVENTO DA REPÚBLICA"

Seara Nova || 1524 || Outubro de 1972 

Em 1972, Helena Neves introduziu na revista Seara Nova a problemática “A mulher portuguesa no advento da República”, com destaque de capa. 

Posteriormente, entre 1979 e 1981, traçou na extinta revista Mulheres, em mais de duas dezenas de artigos de divulgação junto do público feminino, a evolução dos movimentos de mulheres em Portugal, caracterizando a imprensa, organizações, ideologias, reivindicações e lutas durante a Monarquia, República e Estado Novo. 




[Seara Nova || 1574 || Outubro de 1972]

[João Esteves]