[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

domingo, 21 de novembro de 2021

[2621.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [XCVI] || 1926 - 1933

PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || XCVI *

00737. Bernardino Sebastião Paiva [1927, 1928] 

[Bernardino Sebastião Paiva || ANTT || PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-1-NT-8902 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

[Montemor-o-Novo, 1893, funileiro - Évora. Filiação: Natália de Jesus e Bernardino Paiva. Solteiro. Admitido, em 28/12/1912, como sócio do Centro Republicano Evolucionista de Évora e, em Maio de 1914, estava no Exército (PT/ADEVR/ASS/SHE/H/002-004/0001/000126). Considerado, no início da década de 1920, como "bolchevista", foi acusado de ser o autor de um atentado bombista em Évora ocorrido em 10/08/1920. Preso em 09/10/1922, "por ser grevista", utilizar "bombas contra várias fábricas em Évora" e autor de "fogo posto posto na fábrica de cortiça do Banco Nacional Agrícola em Évora". Assinou, enquanto adepto do "comunismo libertário", o "Manifesto aos trabalhadores conscientes" dos sindicalistas revolucionários presos por delito social no Limoeiro, datado de 01/11/1922. 


Preso em 19/07/1928, quando tinha 35 anos, "por ter cooperado no fabrico de bombas de grande potência com Américo Vilar" e deportado, em 21/08/1928, para Moçambique (Processo 3836). Américo Vilar estava associado aos acontecimentos ocorridos em Moncarapacho em 17/02/1928, quando uma violenta explosão o matou, juntamente com António Calhabotas, dois anarcossindicalistas idos do Barreiro que se encontravam a preparar bombas num pardieiro. Em 1932, estava, por motivos políticos, com residência obrigatória em Cabo Verde, não tendo sido abrangido pela amnistia de 5 de Dezembro desse ano. A deportação terá sido levantada em Agosto de 1944, só regressando em Junho do ano seguinte: apresentou-se em 19/06/1945 e declarou ir residir para Évora. Segundo Rosalina Carmona, em "José Nobre Madeira. Um militante libertário condenado à deportação para Cabo Verde (1929)", comunicação apresentada ao Congresso Trabalho e Movimento Operário realizado no Barreiro em 28, 29 e 30/11/1913, Bernardino Sebastião Paiva já fora preso em 1927: conseguiu fugir do calabouço do Hospital, refugiou-se em Lisboa e na Parede, antes de se fixar no Barreiro, onde vivia em casa de José Baltazar e trabalhava numa fábrica. Em Julho de 1928, foi preso, juntamente com José Nobre Madeira, ambos acusados de participação no movimento de Fevereiro de 1927.] 

00738. Bruno Evangelista [1927, 1931]

[Bruno Evangelista || F. 12/02/1927 || ANTT || PT-TT-PVDE-Polícias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

[Funcionário público. Preso em Fevereiro de 1927, por ter participado no movimento revolucionário desse mês. Deportado para Cabo Verde em 1931, segundo a lista do Major António Fernandes Varão (
"Lista Geral dos Deportados pela Ditadura para Cabo Verde embarcados em Lisboa, S. Miguel (Ponta Delgada), St.ª Maria, Angra do Heroísmo (Ilha Terceira), Horta (Faial), Pico, Luanda (Angola), Lourenço Marques, Guiné" - manuscrito As revoltas contra  a Ditadura nas Ilhas Adjacentes e Colónias em Abril de 1931). Libertado pela Secção de Vigilância em 19/05/1932, no mesmo dia que Francisco dos Santos, João Moreira, José da Costa, José Martins e Miguel da Silva, todos presos políticos envolvidos noutros processos.]
[alterado em 04/12/2021]

00739. Cândido Marques da Silva [1927, 1928, 1931]  

[Aveiro, 1897, empregado no comércio / manipulador de pão - Lisboa. Filiação: Maria Augusta Marques e Francisco Marques da Silva. Solteiro. Preso em 15/04/1925, "por suspeita de cumplicidade no lançamento de uma bomba na Calçada da Estrela"; libertado em 21/04/1925 (Processo 2511-16/PSE). Preso em 23/11/1927, "por ser agitador da classe dos Manipuladores de Pão e incitador de atentados pessoais", e deportado para a Guiné em 15/01/1928 (Processo 3405), de onde se evadiu. Preso em 11/04/1928, enviado pelo Cônsul português em Dakar, e deportado para a Guiné em 04/05/1928 (Processo 3637). Apresentou-se, em 05/07/1930, no Quartel-General do Governo Militar da Madeira, aguardando transporte para a Ilha Graciosa. Por ter participado na Revolta das Ilhas, foi deportado para Cabo Verde em meados de 1931. Por não ter sido abrangido pela amnistia de 05/12/1932, manteve-se em Cabo Verde. Em Março de 1937, solicitou transferência da Ilha de S. Nicolau para a cidade da Praia, por se encontrarem ali os seus filhos. A  deportação só seria levantada em Agosto de 1944.]

00740. Carlos Alberto Coque [1928]

[Porto, 1878, professor - Porto. Filiação: Maria Cândida da Encarnação Coque e Custódio José Coque. Casado. Em 1920, "fazia parte da GNR" e "entrou no 27 de Abril". Vogal do Grémio dos Professores do Ensino Primário Superior, dirigiu, com Oliveira Cabral, O Ensino do Povo, quinzenário consagrado aos interesses do ensino primário superior, editado entre 01/03/1925 e 15/09/1925, onde assinou diversos textos. Preso no Porto em 25/03/1928, quando teria cerca de 50 anos, "por guardar bombas destinadas ao próximo movimento revolucionário".

Numa carta datada de 09/04/1928, escrita da prisão de Monsanto e dirigida a Luís Cardim, Carlos Alberto Coque dá conta do que passou a seguir à sua prisão, nomeadamente as torturas a que foi sujeito:

«De prisão em prisão aqui vim parar. Uns dizem que embarcaremos para a África; outros afirmam que não. Os tormentos que tenho passado, assemelham-se aos que se aplicavam na Santa Inquisição. Nove dias incomunicável nas salas da Polícia de Informação (...) obrigaram-me a andar a pé 20 horas seguidas, sem parar, sem dormir, sem descansar, enfim. Três vezes caí no chão. A mão esquerda inchou, porque eu agarrava-me às paredes e aos frisos das portas para arrastar os pés. (...) Esta carta tem um fim único, meu caro Doutor. É a Alina, é a Alda que eu tenho no pensamento. (...) Meu querido doutor, peço-lhe que as proteja. A sua proteção agora é que é mais precisa às pobres pequenas do que nunca. Eu abençoarei a sua memória, meu querido amigo. Peça também aos seus colegas, sim? Então a Faculdade fechada! Parece impossível! O futuro há de repor tudo no seu lugar. Eu naturalmente é que não verei chegar essa hora, porque o clima de África acabará comigo mais depressa que os meus perseguidores.»
(José Manuel Martins Ferreira, "O Dr. Luís Cardim e a primeira Faculdade de Letras do Porto", in 
Comemorações do Centenário da Faculdade de Letras da Universidade do Porto - Conferências, Porto, FLUP, 2020)
(Alina del Negro Coque era a sua filha e concluiu a licenciatura em Filologia Germânica em 02/08/1928) 

Deportado, em 04/05/1928, para São Tomé (Processo 3690), foi transferido para Angola e, em Janeiro de 1930, para a Madeira. Por ter participado na revolta de 04/04/1931, embarcou, em 13/05/1931, no vapor "João Belo", com destino a Cabo Verde, onde lhe foi fixada residência. Encontrava-se, em 1932, em Ponta do Sol, Ilha de Santo Antão, juntamente com o general Adalberto Gastão de Sousa Dias. Permaneceu em Cabo Verde, por não ter sido abrangido pela amnistia de 05/12/1932. O Tribunal Militar Especial, em ofício de 05/05/1933, informou a Polícia de que o processo, na parte que envolvia Carlos Alberto Coque, tinha sido arquivado, tendo sido autorizado a regressar por despacho do Ministro do Interior, de 06/05/1933: embarcou no vapor "Cabo Verde" em 08/06/1933 e apresentou-se na Polícia em 17/06/1933, regressando ao Porto, onde vivia. Esteve presente aquando da chegada a Lisboa dos restos mortais do general Sousa Dias (Dezembro de 1935).]

[João Esteves]

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