[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

[1723.] ABÍLIO GONÇALVES - "O GARRADAS" [I] || DEPORTADO PARA O TARRAFAL EM 1936

* ABÍLIO GONÇALVES - "O GARRADAS" || DEPORTADO PARA ANGRA DO HEROÍSMO E PARA O TARRAFAL *

Anarcossindicalista, Abílio Gonçalves, "O Garradas", foi preso e deportado para Angra do Heroísmo e para o Tarrafal por estar envolvido, no Barreiro, nos preparativos da Greve Geral de 18 de Janeiro de 1934.

Com 52 anos, foi o mais velho preso político a ser enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal.

["O Garradas" || ANTT || RGP/13]

Filho de Quitéria da Conceição e de José Gonçalves, Abílio Gonçalves nasceu em Silves, em 18 de Maio de 1884.

[Maria João Raminhos Duarte || Colibri, 2010]

"Anarco-Sindicalista desde muito jovem", "vestia-se de modo peculiar", "tinha dotes de orador" e "destacou-se no seio dos corticeiros e na sua Associação de Classe" [Maria João Raminhos DuarteSilves e o Algarve - Uma História da Oposição à Ditadura (1926-1958), Colibri, 2010].  No Barreiro, trabalhou na fábrica Cantinho & Marques, Lda, tal como José dos Reis Sequeira, seu conterrâneo, que o descreve «como “um tipo original”, o protótipo do anarquista clássico, infelizmente analfabeto” [in Maria João Raminhos Duarte].  

[José dos Reis Sequeira || A Regra do Jogo, 1978]

A viver e a trabalhar no Barreiro, amigo e correlegionário de João Montes, foi preso em 20 de Janeiro de 1934, à entrada de Alhos Vedros, acusado de participar em reuniões e ter na sua posse bombas de dinamite, recebidas de Bernardino Augusto Xavier, a utilizar no movimento revolucionário de 18 do mesmo mês.

Julgado no Tribunal Militar Especial de 5 de Fevereiro, foi condenado a dez anos de degredo, com prisão, multa de vinte mil escudos e perda dos direitos políticos por dez anos.

Embarcou, em 8 de Setembro de 1934, para Angra do Heroísmo e dois anos depois, em 23 de Outubro de 1936, integrou a primeira leva de presos políticos enviada para o Tarrafal, de cujo Campo só foi libertado em 16 de Novembro de 1945.

[Caminho, 1978]

O livro Tarrafal - Testemunhos refere-se a "O Garradas" como um velho militante das lutas sindicais", "rijo, vaidoso da bigodeira que penteava muitas vezes no espelho suspenso do apoio central da barraca" e que terá sido o primeiro preso a ser afectado pela biliosa, embora tenha recuperado [Caminho, 1978]. 

["O Garradas" || ANTT || RGP/13]

Cândido de Oliveira anotou, no livro Tarrafal - O Pântano da Morte, editado postumamente em 1974, que Abílio Garradas sobreviveu a três biliosas (10/01/1937, 18/02/1939, 30/11/1941).

[Cândido de Oliveira || Editorial República, 1974]

Por sua vez, Maria João Raminhos Duarte escreve, na magnífica obra Silves e o Algarve - Uma Historia da Oposição à Ditadura (1926-1958), que ele «dizia não gostar de “andar a toques”, pelo que diariamente se levantava antes do toque da alvorada e se deitava antes do toque de recolher». 

[Gilberto de Oliveira || Edições Avante!, 1987]

Gilberto de Oliveira, em Memória Viva do Tarrafal [Edições Avante!, 1987], incluiu-o na lista de cerca de três dezenas de “rachados”, aqueles que ganhavam alguns "benefícios" por transigirem com as autoridades salazaristas do Campo; José Correia Pires, em Memórias de um prisioneiro do Tarrafal [Ed. Déagá, 1975], "ao contrário deste, fala da invulgar irreverência de Abílio Gonçalves (o Garradas) e da sua fidelidade ao anarquismo" [Maria João Raminhos Duarte].

Regressou no paquete Guiné em 1 de Fevereiro de 1946, "com a saúde muito abalada" e "morreu triste e esquecido" [M. J. Raminhos Duarte].

Fontes: ANTT, Cadastro Político 8505 e RGP/13.

[João Esteves]
[alterado em 21/12/2022]

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