[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

sábado, 25 de maio de 2019

[2141.] LUÍSA TIAGO DE OLIVEIRA [I] || O ACTIVISMO ESTUDANTIL NO IST (1945 - 1980)

* LUÍSA TIAGO OLIVEIRA *
[ORGANIZADORA]

O ACTIVISMO ESTUDANTIL NO IST (1945 - 1980)

Edições Fénix || Abril de 2019

[Edições Fénix || 2019]

Tendo por organizadora Luísa Tiago de Oliveira, o livro O Activismo Estudantil no IST (1945 – 1980) desvenda 35 anos dos movimentos associativo e estudantil da Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST). Três décadas e meia compreendidas entre o pós-guerra e o derrubamento da Ditadura - construção da Democracia, correspondendo à «génese, afirmação e ocaso de um activismo estudantil de grande combatividade, culturalmente interveniente, com uma prática de resistência anti-Regime forte e uma hegemonia de esquerda» [Preâmbulo, p. 7].

A partir do cruzamento do Arquivo da AEIST, composto por 1735 caixas que, pela primeira vez, foram inventariadas e fichadas, com Arquivos Particulares de protagonistas, periódicos associativos, vinte e três entrevistas formais a presidentes e dirigentes da agremiação, das quais se publica a transcrição de dezanove, e «a observação participante […] nos encontros e actividades com antigos estudantes do IST», Luísa Tiago de Oliveira reconstrói os diferentes processos de mobilização e resistência estudantis num quotidiano condicionado, até 1974, por teias policiais e institucionais da Ditadura, num permanente equilíbrio entre «luta invisível e luta visível» [p. 16].

Da expulsão, por motivos políticos, de três docentes em Junho de 1947 à “despolitização” do movimento estudantil a partir de finais da década de 1970, a Autora considera possível repartir por cinco fases a mobilização e intervenção da AEIST: do pós-guerra até 1956/57; a luta contra o Decreto-Lei 40 900, datado de 12 de Dezembro de 1956, em defesa da autonomia associativa, e a grande mobilização pela realização do Dia do Estudante, em Março de 1962, culminando, em 11 de Maio, na prisão em massa de cerca de 1500 estudantes acantonados na Cantina da Cidade Universitária; o período que medeia entre esta crise e 1967/69, abarcando as prisões e expulsões de 1963 a 1965; a fase que culmina no 25 de Abril de 1974, com a crescente politização do Movimento Estudantil, o aparecimento das “Novas Esquerdas”, conceito algo ambíguo e generalista, a questão da Guerra Colonial e a contestação à institucionalização de “vigilantes”, rapidamente denominados “gorilas”, nos estabelecimentos do ensino superior; e, por fim, a época imediatamente subsequente à revolução, com a representação dos estudantes nos diversos órgãos de gestão e a «grande politização, partidarização e conflitualidade no activismo estudantil» [p. 169].

Pelas diferentes fases perpassa as sucessivas tensões entre a AEIST e os poderes políticos e académicos e, por outro lado, o agudizar das tensões subjacentes ao próprio associativismo estudantil em resultado das diferentes correntes político-associativas que se iam definindo e confrontando. 

Porque «os associativos preocupavam-se em manter a seu lado os não-associativos, ou seja, a maioria dos estudantes» [p. 64], este estudo dá destaque ao papel da AEIST na intervenção dos problemas quotidianos, desde a alimentação na cantina às questões pedagógicas; esmiúça a função específica de cada secção ou organismo; e explora os espaços, escolares e extra-escolares, das sociabilidades estudantis, fortemente marcadas pelos desporto, pelo convívio e debate, pela partilha e intenso envolvimento cultural – da literatura ao cinema, da música ao teatro e às artes plásticas. 

A relevância da AEIST no âmbito do associativismo estudantil da capital é reafirmada por muitos dos seus dirigentes, realçando-se as condições privilegiadas de espaço – talvez «a única Associação de Estudantes de Lisboa com edifício autónomo e destinado a actividades associativas, desde a fase do projecto do arquitecto Pardal Monteiro» [Mónica Maurício, p. 115], a capacidade económica e possuir máquinas de stencil e offset, para além da localização central.

O activismo estudantil marcou, cívica e politicamente, todos os que nele se envolveram, constituindo cada uma das dezanove entrevistas transcritas, todas datadas de 2010, um contributo essencial para a compreensão dos anos posteriores a 1950: João Cravinho (aluno entre 1953 – 1959); José Fernando Pinharanda (1954 – 1962); Heitor Santos (1956 – 1962); António Garcia (1959 – 1965 / 1969 – 1970); Jorge Dias de Deus (1958 – 1964); Fernando vicente (1960 – 1968); Mário Lino (1959 – 1965); António Mota Redol (1960 – 1967); Pedro Santos Coelho (1960 – 1967); Jorge Veludo (1962 – 1969); Paula Fonseca (1962 – 1969); José Mariano Gago (1965 – 1971); João Vieira Lopes (1964 – 1972 / 1978 – 1980); António Abreu (1965 – 1971); Fernando Valdez (1966 – 1974); Carlos Costa (1968 – 1976); Alfredo Gomes (1970 – 1979); Pedro Gonçalves Henriques (1971 – 1976); Carlos Pimenta (1972 – 1979).  

O livro contém, ainda, uma minuciosa Cronologia, com indicação da data, acontecimento e fonte, subdividida em três períodos (1911 – 1944; 1945 – 1980; 1982 – 2006) e, da autoria de António Mota Redol, uma primeira lista de 98 estudantes e/ou engenheiros do IST detidos pela PIDE ou pela DGS desde 1945, reconstituída a partir de diversas fontes, incluindo testemunhos orais. 

Embora Portugal vivesse em Ditadura, com as perseguições, a prisão e a tortura a recair sobre os que a combatiam, «os estudantes constituem um grupo que, enquanto tal, o Estado Novo reprimia, mas não da forma mais dura» [p. 62], sendo que «os estudantes do IST parecem ter sido mais poupados pela repressão do que outros grupos sociais» [p. 63]. 




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