* LUÍS FILIPE REIS CABRAL *
[Luís Filipe Reis Cabral || F. 10/04/1951 || ANTT || RGP/20234 || PT-TT-PIDE-E-010-102-20234]
Filho de Maria da Conceição Reis Calado Cabral e de Emílio Francisco António do Rosário Cabral, Luís Filipe Reis Cabral nasceu a 12 de Outubro de 1929, em Benguela - Angola.
Seria criado em Luanda, onde o seu pai trabalhava como médico no serviço colonial, e manteve contactos com os parentes paternos, que residiam em Goa, e os maternos, em Lisboa, tendo feito os estudos secundários nesta cidade.
Quando estudante da Faculdade de Ciências de Lisboa, aderiu, tal como muitos outros jovens, ao MUD Juvenil, e foi politicamente ativo em grupos de esquerda que se opunham ao regime de Salazar. Era, no ano letivo de 1950/1951, Presidente da Assembleia Geral da Casa dos Estudantes do Império.
Acusado de crimes contra a segurança do Estado, foi preso pela PIDE em 10 de Abril de 1951, juntamente com Carlos Hahnemann Saavedra Aboim Inglez (05/01/1930-13/02/2002).
Tinha, então, 22 anos e foi levado para Caxias, onde ficou em regime de isolamento.
Seria libertado em 23 de Junho, mediante termo de identidade e residência.
No entanto, dois dias depois, a 25 de Junho, foi entregue pela PSP de Lisboa à PIDE, recolhendo ao Aljube. Reingressou em Caxias em 29 de Junho e saiu em liberdade em 21 de Setembro de 1951, talvez devido à influência política do pai, que não era anti-salazarista, nem compartilhava as mesmas ideias do filho. Pelo mesmo motivo, não chegou a ser torturado fisicamente, apesar dos repetidos interrogatórios.
Consciente do perigo que corria, fugiu imediatamente do país, embarcando clandestinamente, mediante pagamento, em um navio a vapor com destino ao Reino Unido. Em Londres, aprendeu inglês, trabalhou em diversos empregos, escreveu artigos em português e francês e fez traduções para a BBC.
Estudou Ciência Política e Economia na Universidade de Glasgow, na Escócia, onde conheceu a sua colega Jean Irvine — que mais tarde viria a tornar-se sua esposa — e manteve o seu ativismo político de esquerda.
Concluído o curso, e sem documentos, apreendidos pela PIDE, partiu a 15 de outubro de 1957, a bordo do navio a vapor Rajendra da companhia Scindia, rumo a Bombaim, na Índia, destino influenciado pelas ligações familiares a Goa e porque tinha feito muitos contactos com alunos indianos quando era Presidente da Associação Internacional de Estudantes Universitários.
Obteve passaporte indiano, trabalhou como economista para a Air India até 1967 e viveu, com entusiasmo — mais tarde frustrado —, as esperanças numa nova nação progressista.
Casou, em 1959, com Jean Irvine, que havia conseguido emprego numa escola da Igreja Escocesa em Bombaim. O casal teve dois filhos, nascidos no início da década de 1960.
Entre 1967 e 1970, mudou-se com a família para o Kuwait, onde trabalhou na Kuwait Airways. Mais tarde, regressou à Índia para exercer funções na Indian Airlines, como Diretor de Planeamento Económico.
Colaborou com as Nações Unidas e, ao regressar à Índia em 1975, encontrou um país sob “estado de emergência”, onde intelectuais de esquerda eram vigiados e alvo de buscas policiais. Sem possibilidade de continuar a trabalhar no país, voltou a colaborar com as Nações Unidas como economista itinerante, prestando consultoria a companhias aéreas nacionais no Médio Oriente.
Trabalhou ainda, por um curto período, na sede da ICAO, em Montreal, no Canadá. Encontrava-se a trabalhar em Adis Abeba, Etiópia, quando faleceu de ataque cardíaco, a 27 de março de 1980.
Ainda pôde visitar Portugal após a revolução de Abril de 1974.
[NOTA: agradece-se ao filho as preciosas informações sobre a luta anticolonialista e internacionalista de Luís Filipe Reis Cabral, falecido com apenas 50 anos.]
[João Esteves]
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