* JOSÉ LEONEL MARTINS RODRIGUES *
[09/03/1926 - ]
Um ano mais velho do que o irmão Francisco Martins Rodrigues [1927 - 2008], José Leonel Martins Rodrigues foi preso aos 20 anos, na sequência dos preparativos para a celebração do 1.º de Maio de 1946 e, "muito maltratado pelos esbirros da Pide", "endoideceu e recolheu ao Júlio de Matos" [Júlia Coutinho, As Causas da Júlia], "nunca recuperando por completo" [Miguel Cardina, Margem de Certa Maneira. O maoismo em Portugal 1964 - 1974].
[José Leonel Martins Rodrigues || 02/05/1946 || ANTT || RGP 17068 || PT-TT-PIDE-E-010-86-17068]
Filho de Maria José Cuba Martins Rodrigues e de José Joaquim Clemente Rodrigues, José Leonel Martins Rodrigues nasceu em Moura, em 9 de Março de 1926.
Frequentou, em Lisboa, a Escola António Arroio e integrou, a partir de 1942, o grupo embrionário do movimento surrealista em Portugal que se reunia no Café Herminius, na Avenida Almirante Reis, constituído por António Domingues, Cruzeiro Seixas, Fernando de Azevedo, Fernando José Francisco, Júlio Pomar, Mário Cesariny, Pedro Oom e Vespeira [Maria de Fátima Aires Pereira Marinho Saraiva, O Surrealismo em Portugal e a Obra de Mário Cesariny de Vasconcelos, 1986].
Em 30 de Abril de 1946, quando era desenhador, vivia na Av. Almirante Reis 178 e se prepararia "para entrar na Escola de Belas Artes, foi apanhado pela Pide numa noite em Campo de Ourique onde, com outro, fazia pichagens nas paredes em vésperas do 1.º de Maio de 1946" [Júlia Coutinho, As Causas da Júlia]. Quem o acompanhava era o motorista Américo Dias Rocha, nascido em 1 de Dezembro de 1907 [Processo 469/946].
[José Leonel Martins Rodrigues || 02/05/1946 || ANTT || RGP 17068 || PT-TT-PIDE-E-010-86-17068]
Preso pela PSP, foi levado para o Aljube. Em 30 de Julho foi posto à disposição dos Tribunais Criminais de Lisboa e entregue às respectivas Cadeias Civis Centrais, provavelmente porque «escrevera: "Morte a Salazar" e isso era um crime gravíssimo. Indiciava-o como muito capaz de matar o chefe do Estado! A Pide tirou mesmo uma fotografia daqueles dizeres como prova do grave delito» [As Causas da Júlia, segundo entrevista dada pelo irmão Francisco Martins Rodrigues a Júlia Coutinho em 2006].
Libertado mais tarde sob caução, "nunca mais foi o mesmo. Nunca mais se dedicou à arte. Nunca mais conseguiu conviver com ninguém. Sempre assustado, sempre com medo, vendo polícias por todo o lado, desconfiando da própria sombra. Isolou-se e fechou-se num mutismo de que nunca mais se libertou" [Júlia Coutinho, As Causas da Júlia].
[José Leonel Martins Rodrigues || ANTT || RGP 17068 || PT-TT-PIDE-E-010-86-17068]
Voltou a ser preso em 1 de Junho de 1959, em Setúbal, «para averiguações - suspeita de actividades contra a Segurança do Estado», sendo libertado em 15 de Julho [Proc. 303/959].
Ainda segundo o precioso escrito de Júlia Coutinho: "Um dia desapareceu. Fugiu da própria família. Nunca ninguém o conseguiu encontrar. Já após a morte dos pais e de praticamente todos os irmãos, apareceu. Sem mais palavras. Creio que o irmão o foi buscar. E vivia com o Chico que tratou dele até ao fim. Foi o António Domingues, que fora seu colega na António Arroio, quem me alertou para o drama do José Leonel. Uma vítima da Pide de quem ninguém fala. Que ninguém conhece. De que não ficaram sequer registos gráficos. Apenas um eventual processo nos arquivos da Pide, como tantos outros" [Júlia Coutinho, As Causas da Júlia].
NOTA: Exactamente um mês antes de falecer, Francisco Martins Rodrigues escreveu uma nota referente ao irmão Leonel e que se encontra publicada em Os Anos do Silêncio, Dinossauro edições, 2008. Nela, revela o seu sofrimento em consequência do tempo que esteve preso [Aljube, Caxias] e dos tratamentos a que fora submetido por duas vezes no Hospital Júlio de Matos.
NOTA: Exactamente um mês antes de falecer, Francisco Martins Rodrigues escreveu uma nota referente ao irmão Leonel e que se encontra publicada em Os Anos do Silêncio, Dinossauro edições, 2008. Nela, revela o seu sofrimento em consequência do tempo que esteve preso [Aljube, Caxias] e dos tratamentos a que fora submetido por duas vezes no Hospital Júlio de Matos.
[João Esteves]
1 comentário:
Obrigada, João.
O José Leonel foi uma das minhas obsessões e felizmente consegui reunir todos os dados da sua vida, bem como algumas fotos inéditas.
Vou tentar fazer a biografia. Se não conseguir, passo-te os dados para poderes completar a tua.
Obrigada pela tua militância de investigador e recuperador da memória rigorosa dos seres e dos factos.
Abraço.
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