* ANTÓNIO MANUEL HESPANHA *
[1945 - 2019]
António Hespanha foi meu Professor de Mestrado de História dos Séculos XIX-XX no já longínquo ano lectivo de 1985-1986. Um Docente invulgar que abria horizontes (quando lhos tentavam fechar em anos difíceis e de incertezas para o seu futuro académico), proporcionava leituras multidisciplinares e transnacionais e fomentava a discussão, numa interrogação inacabada.
Mas era muito mais. Um Pedagogo preocupado com os jovens candidatos a mestres!
Já a leccionar, procurando conciliar a docência com o mestrado, chegava sistematicamente (muito) atrasado às suas aulas na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, esbaforido depois de apanhar o comboio, autocarros e de algumas caminhadas.
Nunca disse nada e, como por acaso, propôs que as aulas passassem para os sábados de manhã. Não poderia ser na instituição académica, por estar fechada nesse dia de semana, sugerindo um edifício a que todos os ex-directores gerais do Ministério da Educação ainda tinham acesso e que estava, na prática, vazio, ali para os lados da António Augusto Aguiar. As aulas passaram a decorrer na respectiva cozinha, à volta de uma mesa, sem mais atrasos deste aluno.
Mas, atento a quem o rodeava, certo dia pediu para me deslocar a sua casa. Recebido numa sala onde se trabalhava à volta de uma mesa com uma enorme tábua que, praticamente, ocupava o espaço, demonstrou preocupação com a investigação para a disciplina que ministrava: Metodologia de História Institucional e Política. Preocupação genuína que tinha toda a razão de ser, já que só durante os meses de Julho, Agosto e meados de Setembro seria possível avançar com aquela, aproveitando a interrupção lectiva.
O Verão foi, mais uma vez, passado na Biblioteca Nacional, o texto final - Legislação e Regulamentos Internos do Trabalho (1870-1910): a disciplina e regulamentação do e no trabalho como primeiro contributo para a sua organização racional e científica - entregue dentro do prazo e, um dia, cruzando-nos na Nova, informou-me, como se se tratasse de algo natural, que o tinha citado numa História do Portugal Contemporâneo.
Três "pequenos" exemplos que nunca esqueci e que me acompanham na minha própria docência junto dos mais novos.
Até sempre, Professor Hespanha!
[João Esteves]
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