[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

sábado, 13 de julho de 2019

[2159.] NINA PERDIGÃO [IV] || 1902 - 1988

* TOMÁZIA JOSEFINA HENRIQUES PERDIGÃO *
[02/05/1902 - 1988]

[Tomázia Josefina Henriques Perdigão || ANTT || RGP/5021 || PT-TT-PIDE-E-010-26-5021]

Mais conhecida por Nina Perdigão

Filha de Tomázia Alves de Azevedo Henriques [f. 24/08/1936], proprietária, e de Joaquim dos Santos Henriques, Nina Perdigão nasceu a 2 de Maio de 1902 na Freguesia de Cedofeita, Porto, cidade onde faleceu em 1988. 

Teve quatros irmãos, todos rapazes: Luís, Carlos, Joaquim e António Azevedo Santos Henriques

Casou com Licínio Pinheiro Perdigão [1905 - 1934], nascido em Manaus, Brasil, arquitecto que cursou a Faculdade de Belas Artes do Porto entre 23/09/1922 e 03/10/1929 e que faleceu muito novo em início de carreira, não voltando a contrair matrimónio. 

[Licínio Pinheiro Perdigão || Fotografia retirada do Blogue Família Perdigão da autoria da neta Manuela Perdigão]

Viúva muito nova e mãe de dois filhos pequenos (Rui e Gil Perdigão), ficou economicamente dependente dos pais que estavam ligados à indústria têxtil portuense e detinham inúmeras propriedades. A sua militância política iniciou-se na década de 30, no âmbito do Socorro Vermelho Internacional, vendendo o boletim Solidariedade e selos para angariar fundos para os presos políticos, militantes clandestinos e vítimas da Guerra Civil de Espanha. 

Com 34 anos e recém viúva, foi presa na residência da Avenida da Boa Vista, 341, Porto, em 22 de Outubro de 1936, acusada de fazer parte do Socorro Vermelho Internacional do Norte [ANTT-PIDE/DGS Proc. 122/37], só sendo libertada em 30 de Maio de 1937. 

[Rui Perdigão || O PCP visto por dentro e por fora || Fragmentos || 1988]

Novamente detida em 9 de Agosto deste ano a fim de ser submetida a julgamento, recolheu ao Aljube do Porto e saiu em liberdade em 26 de Agosto depois de ter sido condenada pelo Tribunal Militar Especial na multa de 2.400$00, que se substituía, quando não paga, por quatro meses de prisão correccional [Processo nº 39/937 do Tribunal Militar Especial de Lisboa, fl. 25].

A mulher do Presidente Óscar Carmona, Maria do Carmo Ferreira da Silva [1888 - 1956], procurou interceder por Nina Perdigão junto de Salazar, tendo este afirmado: «Será um bom exemplo para as mulheres portuguesas»! [Rui Perdigão, O PCP visto por fora e por dentro]. 

Cumpriu a sentença no Aljube do Porto, numa cela juntamente com Alice Pereira Gomes [1910 - 1983], irmã de Soeiro Pereira Gomes. 

Em 1944, aderiu, formalmente, ao Partido Comunista Português, tendo a sua insuspeitada casa na Rua do Breyner - 213 funcionado, durante  muito tempo, como ponto de apoio às actividades dos dirigentes, nomeadamente os do Secretariado. Passaram por lá, entre outros, Cândida Ventura [1918 - 2015], Joaquim Pires Jorge [1907 - 1984], Júlio Fogaça [1907 - 1980], Octávio Pato [1925 - 1999], Sérgio Vilarigues [1914 - 2007] e, no Verão de 1949, Soeiro Pereira Gomes [1909 - 1949], este na fase terminal da doença que o vitimou, levado por Pires Jorge

Apesar de gravemente doente, «a sua alegria, em geral, era esfusiante», «o riso contagioso» e, nessa casa, reencontrou Cândida Ventura, que usava o pseudónimo Carlota, e a quem dedicou o "Poema Único - Para a C...", datado de 20 de Julho de 1949. Foi, também aí, que Soeiro Pereira Gomes se inspirou para os últimos escritos, escondidos até ser possível recuperá-los mais tarde: «Foi minha mãe, Nina Perdigão, que com uma enorme paciência reconstruiu os textos, tendo sido em muitos sítios obrigada a dar uma versão sua de certas frases, totalmente desaparecidas. Foi este o texto que serviu à primeira edição dos Contos Vermelhos aparecida clandestinamente» [Rui Perdigão]. 

Na década de 50, Nina Perdigão, os dois filhos e a nora, Fernanda Maria Baía da Silva, casada com Rui Perdigão, montaram um "aparelho" de apoio técnico e logístico «altamente importante» de apoio ao seu Secretariado, «no qual se integram automóveis para deslocações dos seus membros pelo País, casas  de refúgio, apartamentos «legais» para reuniões, etc.». [Rui PerdigãoO PCP visto por dentro e por fora, 1988]. Envolvia, ainda, o serviço clandestino de fronteiras que permitia a saída do país de militantes na clandestinidade. 

[Rui Perdigão || O PCP visto por dentro e por fora || Fragmentos || 1988]

Além disso, Nina Perdigão tornou-se o seu principal sustentáculo económico durante a clandestinidade, envolvendo, segundo o filho Rui Perdigão, 150.000 contos, doados principalmente durante a década de 50: «Referindo-se à importância do aparelho e desta dádiva, Pires Jorge disse-me certa vez: Diz-se que o Partido é indestrutível, e é; mas nos anos 50, se não fosse a herança que Júlio Fogaça entregou, e a dádiva que a vossa família fez, assim como o apoio técnico que prestou, não sei o que teria acontecido ao Partido. Decerto teríamos voltado à situação dos anos que se seguiram à "reorganização"» [Rui Perdigão].  

Tomázia Perdigão foi, segundo o Diário de Maria Luísa Ribeiro de Lemos, uma das fundadoras da Delegação do Porto da Associação Feminina Portuguesa para a Paz, sendo a sócia nº 273 de acordo com o caderno de Irene [Fernandes Morais] Castro, a sua última presidente, com residência na Rua do Breyner [Lúcia Serralheiro, Mulheres em Grupo Contra a Corrente, 2011] . 

O investigador José Pacheco Pereira considera que foram duas as famílias do Porto que mais ajudaram o Partido Comunista na clandestinidade, a saber, a família de Guilherme da Costa Carvalho, cujos pais e irmã também pertenciam à AFPP, e a de Nina Perdigão.

Nina Perdigão, tal como o filho Rui e a nora, afastou-se do Partido Comunista após os acontecimentos da Checoslováquia: «Uma parte muito importante da sua fortuna deu-a ao PCP nos anos difíceis que se seguiram à prisão de Cunhal e Militão Ribeiro. Apesar da sua posição intransigentemente crítica, quanto à orientação do PCP nos últimos anos, Sérgio Vilarigues, do Secretariado, e Georgete Ferreira, do Comité Central, quiseram prestar-lhe homenagem, tendo ido visitá-la ao hospital onde morreu» [Rui Perdigão]. 

[Rui Perdigão || O PCP visto por dentro e por fora || Fragmentos || 1988]

Faleceu no Verão de 1988. 

Lúcia Serralheiro incluiu uma biografia de Tomázia Josefina Henriques Perdigão/Nina Perdigão no Dicionário no Feminino (séculos XIX-XX) [Livros Horizonte, 2005].

[João Esteves]

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