[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

sábado, 23 de novembro de 2019

[2196.] MANUEL PAULA VENTURA [I] || EXILADO, PRESO E DEPORTADO (1928 - 1935)

* MANUEL PAULA VENTURA *
[31/07/1885 - 03/08/1935]

Os dados biográficos que se seguem sobre Manuel Paula Ventura foram recolhidos no livro Vítimas da Ditadura no Algarve: três casos, três histórias subtraídas ao esquecimento [editora Sul, Sol e Sal, 2017, de Idalécio Soares, e no Cadastro Político que consta na Torre do Tombo [Cadastro Político 1350 da Secção Política e Social da PVDE].

[Manuel Paula Ventura || ANTT || ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-4-NT-8904]

Filho de Maria do Sacramento Ventura e do comerciante António Joaquim Ventura, Manuel Paula Ventura nasceu em 31 de Julho de 1885, em Olhão.

Conhecido advogado naquela terra algarvia, residindo na Avenida da República, estava filiado no Partido Democrático e fora eleito, no início de 1927, Presidente da sua Comissão Política Concelhia.

Republicano, o seu nome vai estar associado aos acontecimentos ocorridos em Moncarapacho em 17 de Fevereiro de 1928, quando uma violenta explosão matou Américo Vilar e António Calhabotas, dois anarcossindicalistas idos do Barreiro que se encontravam a preparar bombas num pardieiro, tendo o carro de Manuel Paula Ventura sido utilizado pelos envolvidos e servido para transportar e ocultar os corpos do local da tragédia.

Este caso "traduziu-se em prisões e operações de busca" e foi "causa de exílios" [Idalécio Soares, p  35], tendo a maioria dos envolvidos conseguido fugir para Espanha, incluído Manuel Paula Ventura. Chegado a Ayamonte, seguiu para Sevilha e, de Gibraltar, partiu para a Argentina, já que o irmão Cândido se encontrava a viver em Buenos Aires desde o início de 1927. Aqui, publicou artigos em "O Jornal Português".

[Idalécio Soares || Vítimas da Ditadura no Algarve: três casos, três histórias subtraídas ao esquecimento || Editora Sul, Sol e Sal || 2017]

Ao fim de alguns meses, instalou-se na Bélgica, em Anvers, à frente de uma firma de comissões e consignações e aí escreveu, em sua defesa, a "«declaração» (ou «argumentário») sobre a sua participação nos acontecimentos de Moncarapacho" [Idalécio Soares, p. 58].

Autorizado a regressar em 1929, um ano depois, em 19 de Julho de 1930, foi preso pela primeira vez e deportado, no dia seguinte, para os Açores, acusado de "prejudicar a acção da Ditadura Nacional, desenvolvendo ultimamente uma enorme actividade conspiratória na preparação de um movimento revolucionário no Algarve" [Processo  4658-A; Cadastro Político 1350].

Enviado para Cabo Verde em 1931, após a Revolta da Madeira, conseguiu fugir de barco para Espanha. Abrangido pela amnistia de 5 de Dezembro de 1932, voltou ao país, sendo novamente preso em 25 de Abril de 1934 por auxílio a dois exilados políticos não incluídos naquela [o Capitão Lapa e o Comandante Sebastião da Costa], tendo assegurado, em Dezembro de 1933, os meios para a sua vinda a Portugal por escassos dias.

Foi, então, proibida a sua residência em território nacional por dois anos por decisão do Conselho de Ministros de 11 de Julho de 1934, sendo Manuel Paula Ventura disso notificado em 18 do mesmo mês e "seguiu para a fronteira devidamente acompanhado" [Cadastro Político 1350] no dia 20. Inicialmente,  ficou em  Ayamonte e, depois, mudou-se para Huelva.

Obrigado, pelas autoridades portuguesas, a mudar-se para uma localidade mais afastada da fronteira, regressou a Huelva devido ao surgimento de graves problemas cardíacos. A esposa, Francisca Alves Ventura, requereu, então, autorização para regressar ao país, o que foi concedido em 1 de Agosto de 1935 pelo Presidente do Conselho de Ministros, Oliveira Salazar, desde que sob prisão. 

No entanto, Manuel Paula Ventura faleceria dois dias depois, em Huelva, disso dando conhecimento o jornal ABC de Madrid, de 4 de Agosto.  

[Idalécio Soares || Vítimas da Ditadura no Algarve: três casos, três histórias subtraídas ao esquecimento || Editora Sul, Sol e Sal || 2017]

Só em 1967, com o falecimento da mulher, o corpo seria trasladado para Portugal.

Fontes:
ANTT, Fotografia 2413[Manuel Paula Ventura / ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-4-NT-8904]

ANTT, Cadastro Político 1350 [Manuel Paula VenturaPT-TT-PIDE-E-001-CX13_m0906, m906a, m906b, m906c, m906d, m906e, m906f].

Idalécio SoaresVítimas da Ditadura no Algarve: três casos, três histórias subtraídas ao esquecimento, Editora Sul, Sol e Sal, 2017, pp. 15-80.

[João Esteves]

Sem comentários: