* JOSÉ RUAS FERREIRA *
[1908 ? - 04 ou 27/09/1932]
ASSASSINADO NO COMÍCIO-RELÂMPAGO DE ALCÂNTARA DE 4 DE SETEMBRO DE 1932
[Processo 52/1932 || Porto || ANTT || PT-TT-PIDE-DP-D-001-5232_m0248]
Um dos primeiros jovens a ser assassinado pela Polícia na via pública, quando participava num comício-relâmpago organizado pela Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas no Largo de Alcântara, em 4 de Setembro de 1932, para celebrar o Dia da Juventude.
Filho de Clara das Dores Ferreira e de Manuel Cerqueira [ou Sequeira, segundo o Processo 52/1932] Ruas, José Ruas Ferreira nasceu na Freguesia de S. Jorge - Arcos de Valdevez.
Referenciado como manipulador do pão ou padeiro, José Ruas Ferreira teria ligações ao Partido Comunista e ao Socorro Vermelho Internacional desde 1927, quando foi abordado pelo sapateiro e militante comunista José Silva [autor de Memórias de um operário publicadas no Porto em 1971 e que, significativamente, vivia no mesmo arruamento - Rua da Senhora das Dores - 45].
Em 15 de Abril de 1931, foi preso pela Delegação do Porto da Polícia Internacional Portuguesa, «por estar envolvido no movimento revolucionário e por ser revolucionário avançado» [ANTT, Cadastro 1053 que consta do Processo 52/1932], sendo libertado em 28 de Abril.
[Processo 52/1932 || Porto || ANTT || PT-TT-PIDE-DP-D-001-5232_m0244]
Já a residir na Rua de Santa Catarina 1022, foi preso pela Delegação da Polícia Internacional Portuguesa em 4 de Março de 1932, quando tinha 24 anos, «por pertencer ao Socorro Vermelho Internacional e Partido Comunista».
[Processo 52/1932 || Porto || ANTT || PT-TT-PIDE-DP-D-001-5232_m0243]
Interrogado em 9 de Março de 1932 por Joaquim do Passo, confirmou que tinha sido aliciado para o Partido Comunista pelo sapateiro José Silva, tendo participado em reuniões em que estiveram presentes, para além daquele, Adalberto Pinto de Oliveira, o alfaiate António de Carvalho, António Nunes, o padeiro Basílio Tavares, o sapateiro Benjamim Marques, o padeiro Manuel João, o ferroviário Maximiano Pires, morador em Campanhã, o tipógrafo Rodrigo Lopes, entre outros cujo nome desconhecia.
[Processo 52/1932 || Porto || ANTT || PT-TT-PIDE-DP-D-001-5232]
Referiu, ainda, que pagou sempre as quotas até Abril de 1931, quando foi preso, e depois de ter saído da prisão.
Em princípios de Julho ou Agosto de 1930, fora nomeado para uma comissão com o fim de organizar as Juventudes Comunistas no Porto, tendo participado em reuniões com Adalberto Pinto de Oliveira, José da Silva, que orientava os trabalhos, e o cortador de carnes Manuel da Silva. A organização não teria tido mais do que seis filiados - Adalberto Pinto de Oliveira, João Rodrigues Viegas, José Ruas Ferreira, Manuel de Oliveira e dois outros -, tendo as actividades ficado desorganizadas com a prisão de José Silva.
Por fim, em princípios de Agosto de 1931, fora contactado por Manuel Viana Ribeiro [ANTT, RGP/421] para organizar a Zona 2 do Socorro Vermelho Internacional, tendo aliciado o padeiro António Braga, trabalhador na Padaria Alemã, na Rua Mártires da Liberdade, o padeiro Constantino da Costa, residente em Pinhão, e o ferroviário Maximiano Pires.
[Processo 52/1932 || Porto || ANTT || PT-TT-PIDE-DP-D-001-5232_m0257]
Enviado preso para Lisboa em 14 de Abril de 1932, por despacho do Ministro do Interior, de 22 de Junho, foi-lhe fixada residência obrigatória em Peniche [Processo 52/Porto], para onde seguiu em 9 de Agosto e de onde se evadiu.
Pouco depois, em 4 de Setembro, José Ruas Ferreira participou no "comício-relâmpago" de Alcântara, tendo Francisco de Paula de Oliveira (Pável) sido o orador e estando presentes, entre outros, Domingos dos Santos - "O Calabrez", Manuel dos Santos e Pedro Batista da Rocha.
Do confronto com a polícia, resultou a morte do guarda António Trancoso e do manifestante identificado, inicialmente, como Alfredo Ruas. Alvejado e levado, sob prisão, para o Hospital de São José, aí faleceu, sendo que o inspector da PIDE Fernando Gouveia também o referencia, nas suas memórias, por José Ruas.
[José Ruas Ferreira || ANTT || Cadastro Político 3956]
Também na data do seu falecimento há disparidades, já que, primeiro, anotou-se no seu Cadastro que faleceu naquele Hospital em 27 de Setembro de 1932, «em virtude de ter sido ferido, quando da manifestação comunista em Alcântara, em 4 deste mês» [ANTT, Cadastro Político 3956; Processo 561].
Depois, acrescentou-se que «foi ferido quando dos tumultos que, neste dia, tiveram lugar em Alcântara, motivados pela manifestação ali levada a efeito pelas Juventudes Comunistas, comemorando a XVIII Jornada Internacional, tendo dado entrada, sob prisão, no Hospital de S. José, por haver suspeitas do epigrafado ter sido um dos provocadores dessa desordem e ter feito uso da sua arma de fogo» [ANTT, Cadastro Político 3956; Processo 558], constando como data do seu falecimento o dia 4 de Setembro.
Fonte:
ANTT, Processo Crime de António Domingues Ferreira, Fernando Alves de Sousa e Ângelo Alves Ribeiro [PT/TT/PIDE-DP/D/001/5232] [Processo 52/1932].
ANTT, Cadastro Político 3956 [José Ruas Ferreira / PT-TT-PIDE-E-001-CX12_m0689, m0689a].
[João Esteves]
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