* ALFREDO FERREIRA DIAS LIMA *
[1930/31 - 04/06/1950]
Alfredo Lima foi assassinado em 4 de Junho de 1950, quando os trabalhadores rurais de Alpiarça reivindicavam na "praça de jorna" um aumento do salário diário.
O texto que se segue baseia-se no fundamentado estudo de Ricardo Hipólito "A Praça de Jorna em Alpiarça - A saga do trabalho e da dignidade", assim como algumas das imagens utilizadas [Associação Independente para o Desenvolvimento Integrado de Alpiarça, Cadernos Culturais Nº 14, 2013].
[Alfredo Lima || 18 anos || Ricardo Hipólito, A Praça de Jorna em Alpiarça - A saga do trabalho e da dignidade || 2013]
Os acontecimentos que vitimaram Alfredo Lima deram-se em 4 de Junho de 1950, domingo, durante a realização de praças de jorna de homens e de mulheres, situadas a pouca distância uma da outra, reivindicando os dois grupos um aumento do salário diário de 20 para 30 e de 10 para 15 escudos, já que os homens ganhavam sempre o dobro das mulheres.
A conflitualidade começou por ser entre as trabalhadoras e os capatazes que recusavam qualquer aumento, tendo a GNR, mobilizada pelos agrários, procurado conter as exigências e dispersá-las. Os homens vieram em socorro daquelas, mobilizando-se muitos populares.
[Alfredo Lima || Ricardo Hipólito, A Praça de Jorna em Alpiarça - A saga do trabalho e da dignidade || 2013]
Foi nesse contexto repressivo que Alfredo Ferreira Dias Lima, com apenas 19 anos, recém militante do Partido Comunista e que estaria encostado a uma parede, foi assassinado com um tiro no ventre por uma praça da GNR. Outros ficaram feridos com tiros, nomeadamente Manuel da Silva Piscalho (Manuel Ganacho), Raúl Farroupo Casaca e Angelino Arraiolos.
[Angelino Arraiolos] [Raúl Farroupo Casaca] [Manuel da Silva Piscalho]
A notícia chegou ao Diário de Notícias através de um pronto telefonema de José Faustino Rodrigues Pinhão e ao Século, através de Jerónimo Reinaldo Bernardes (Jerónimo Nazaré), que viriam a ser presos por tal ousadia e o último muito torturado.
[José Faustino Rodrigues Pinhão]
Filho de Florinda Ferreira Dias e de Domingos de Almeida Lima, Alfredo Lima faleceu no Hospital de Santarém, tentando a PIDE impedir a mobilização popular para o funeral, sendo enterrado no cemitério de Santarém, perante muita gente ida de Alpiarça.
Na sequência dos acontecimentos, a GNR reforçou fortemente o seu contingente, fazendo se Alpiarça uma vila sitiada, e a PIDE instalou-se, mais uma vez na localidade, procedendo à prisão de dezenas de trabalhadores e trabalhadoras rurais.
No entanto, os trabalhadores conseguiram, ao fim de mais algumas dominicais praças de jorna, o valor reivindicado: 30 escudos para os homens e 15 para as mulheres, o que foi considerado uma grande vitória, embora o preço da féria voltasse a baixar em períodos posteriores.
Um ano após o ocorrido, três militantes comunistas - Chico Galiza (Francisco Presúncia Bonifácio), Chico Matias e Chico do Pombalinho - afixaram no local do assassinato um pano com a inscrição "Rua Alfredo Lima", que seria retirado pelas autoridades ao amanhecer do dia 4 de Junho de 1951. Aquele arruamento seria assim rebaptizado após Abril de 1974.
[Diário de Lisboa || 5 de Junho de 1974]
Só em 4 de Junho de 1974, os seus restos mortais de Alfredo Lima foram trasladados para o cemitério de Alpiarça.
[Alfredo Lima || 18 anos || Ricardo Hipólito, A Praça de Jorna em Alpiarça - A saga do trabalho e da dignidade || 2013]
[Nota: O meu obrigado a Isaura Madeira Lopes por, há mais de um ano, me ter facultado o acesso a este precioso livro]
Fonte:
Ricardo Hipólito, A Praça de Jorna em Alpiarça - A saga do trabalho e da dignidade, Associação Independente para o Desenvolvimento Integrado de Alpiarça, Cadernos Culturais Nº 14, 2013.
[João Esteves]
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