[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

[2725.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [CLV] || 1926 - 1933

* PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || CLV * 

01078. Ernesto Rodrigues da Cruz "Loubet" [1932]

[Lisboa, c. 1905, 2º sargento de manobras. Filiação: Saturnina da Silva, António Rodrigues da Cruz. Viúvo. Residência: Quinta de Santo António à Rua Castelo Branco Saraiva, 11. Preso em 30/08/1932, por ter pedido a Mário José Paninho que o apresentasse ao cunhado, José Avelar, a fim de estabelecer "ligações revolucionárias", e por poder estar implicado no movimento de 26/08/1931 (v. Processo 504). Recolheu, sob prisão, ao Comando Geral da Armada, ficando à ordem da Diretoria da SVPS/PIP; libertado em 08/09/1932.]

01079. Eduardo de Oliveira Marques [1932]

[Lisboa, c. 1885, fotógrafo desenhador da Escola Militar de Aeronáutica. Filiação: Maria Emília de Oliveira Marques, Manuel Augusto Marques. Casado. Residência: Rua Heróis de Quionga, 41. Preso na Escola Militar Aeronáutica de Sintra e entregue em 30/04/1932, "por estar comprometido na organização revolucionária que se estava a formar dentro daquela unidade". Por parecer do Diretor Geral da Segurança Pública e concordância do Ministro do Interior, foi-lhe aplicada a pena de quatro meses de prisão; libertado do Aljube em 30/08/1932.]

01080José Casimiro Brazão Gambôa [1932]

[Lisboa, 24/03/1896, 1º Sargento fotógrafo da Escola de Aeronáutica / fotógrafo. Filiação: Josefa de Jesus Gonçalves, Jorge Henrique Brazão Gambôa. Casado. Residência: Calçada da Penalva, 14 - Sintra / Rua Alfredo Costa, 25 - Sintra. Preso na Escola Militar Aeronáutica de Sintra e entregue em 30/04/1932, por estar implicado na organização revolucionária naquela unidade, estando em ligação com o ex-Capitão Carlos de Vilhena (Processo 414). Por parecer do Diretor Geral da Segurança Pública e concordância do Ministro do Interior, foi-lhe aplicada a pena de seis (?) meses de prisão, sendo libertado do Aljube em 30/08/1932. Preso em 24/07/1935, por aceitar estabelecer ligações no âmbito da Organização Revolucionária de Sargentos, devido às suas ligações à Escola Militar de Aviação. Manteve contactos com António Carlos Silva, António Cristina e furriel Armando de Oliveira Carvalho (Processo 1647). Levado para uma esquadra, foi transferido para o Aljube em 31/07/1935 e, em 22/08/1935, enviado para a enfermaria da Cadeia da Penitenciária. Libertado em 19-20/02/1936, por ter sido despronunciado pelo TME.] 

01081. Vítor Hugo Velez Grilo [1933, 1935, 1944]

[Vítor Hugo Velez Grilo || ANTT || PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903 || "Fotografia cedida pelo ANTT"]

[Ervedal - Avis, 22/04/1905, estudante de medicina / médico. Filiação: Rosa Maria Pires Foito ou Rosa Maria Pé Leve, José Velez Grilo. Solteiro / Casado. Residência: Lavradio - Barreiro / Guarda das Palmeiras - Barreiro / Rua António Granjo, 4. Matriculou-se na Faculdade de Medicina de Lisboa em 23/12/1926, tendo pertencido, até 1932, à Direção da sua Associação Académica, presidiu à Federação Académica de Lisboa no ano letivo de 1928-1929 e, em Janeiro de 1931, foi delegado ao Senado da Universidade. Participou, em 25/04/1931, na Assembleia Geral dos estudantes de medicina onde se declarou a adesão à greve académica de caráter político, visando o apoio à revolta das ilhas desencadeada na Madeira no dia 4. Içaram-se, então, bandeiras vermelhas na FML, gritou-se contra a Ditadura e, do confronto com a polícia, vários estudantes foram presos. Foi iniciado na Maçonaria, na loja Rebeldia, em 11/01/1930, ano em que se terá tornado militante comunista. Em Maio de 1931, por intermédio de António Bandeira Cabritapassou a integrar o Comité Regional de Lisboa, "ficando a seu cargo os trabalhos de agitação, propaganda e organização do meio académico e na região sul do Tejo" (Cristina Faria, As lutas estudantis contra a Ditadura Militar (1926-1932), Colibri, 2000, p. 280). Ainda em 1931, após as prisões efetuadas no âmbito do movimento revolucionário de 26/08/1931, passou a integrar, com Bernard Freund, José de SousaManuel Alpedrinha, o Secretariado Político do Comité Central Executivo do Partido Comunista. Procurado desde, pelo menos, Março de 1932, pelas suas ligações a Bernard Freund e militância na Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas (Processo 225) e no Partido Comunista, atuando com Jaime Tiago e Manuel Alpedrinha (Processo 460). Para além da atividade no meio académico, onde distribuía  literatura partidária clandestina, desenvolvia continuada militância no Barreiro, onde residia, centrando a intervenção no operariado dos Caminhos de Ferro e das fábricas da Companhia União Fabril. Colaborou, ainda, com Manuel Francisco Roque Júnior, entretanto preso, Francisco de Paula Oliveira e Miguel Wager Russell, assegurando traduções e artigos para o órgão "A Frente Vermelha". Em 01/09/1932, foi ordenada a sua captura, tendo sido enviada a sua fotografia à Delegação do Porto e postos policiais: era, então, também desertor do Exército, pois fora convocado no mês de Agosto para o Regimento de Infantaria 1, em Mafra, a fim de frequentar a Escola de Oficiais Milicianos. Chegou a estar escondido com Álvaro Duque da Fonseca num quarto da Avenida da República. Preso em 23/01/1933 (Processo 609) e levado para o Aljube, onde conseguiu influenciar politicamente os detidos João dos Reis Sampaio e Vicente Llavata Gil e concluir, em 21/11/1933, o curso, sendo-lhe permitido ir aos exames. Os processos 460, 609 e 784, onde constava como arguido, foram enviados ao TME durante o ano de 1933. Julgado em 24/02/1934, continuou preso por ter mais dois processos pendentes (Processo 12/933 - TME). No julgamento de 06/04/1934, foi despronunciado quanto ao processo 784 (Processo 79/933 - TME) e libertado em 14/04/1934. Em 17/07/1934, foi igualmente despronunciado quanto ao processo 460 (Processo 14/933 - TME). Retomou a militância ativa e era responsável pela ligação entre o Partido Comunista e a FJCP quando, em 21/03/1935, foi preso "para averiguações", levado para o Aljube e libertado em 23/03/1935 (Processo 1394). Neste mesmo ano seria afastado por trabalho cisionista e "expulso como trotsquista" por iniciativa de Francisco de Paula Oliveira. Médico no Lavradio, onde gozava de influência política e organizativa, continuou a manter importantes contactos partidários, opôs-se à reorganização de 1940/1941 do Partido Comunista e aproximou-se da Direção de Vasco de Carvalho. Após a prisão deste em 27/02/1942, Vítor Hugo Velez Grilo ganhou nova visibilidade, que se manteve até 1944/45, apresentando-se como seu Secretário-Geral e liderando o grupo que, durante alguns anos, coexistiu contra os reorganizadores. Opôs-se, então, às greves realizadas em Lisboa e na Margem Sul nesse período e aproximou-se das posições dos Aliados americanos e ingleses. 

[Vítor Hugo Velez Grilo || F. 30703/1944 || ANTT || RGP/670 || PT-TT-PIDE-E-010-4-670]

Preso em 29/03/1944, seguiu para o Aljube e foi libertado escassos dias depois, em 20/04/1944. Participou, em 08/10/1945, na sessão fundadora do Movimento de Unidade Democrática, realizada no Centro Escolar Republicano Almirante Reis e, no final da década, partiu para Moçambique onde, em 1951, tentou fundar um partido comunista. Na década seguinte, colaborou com as autoridades colonialistas na ação Psicossocial. Após o 25 de Abril de 1974, apoiou o movimento FICO - Frente Independente de Convergência Ocidental, depois  alterado  para Frente Independente para a Continuidade Ocidental e, por fim, denominado Ficar Convivendo -, fundado em 05/05/1974, que agrupava os setores mais conservadores e colonialistas da população branca. Na sequência da contestação ao Acordo de Lusaka, de 07/09/1974, foi um dos organizadores da revolta branca desencadeada neste mesmo dia em Lourenço Marques e que, entre outras ações, libertou cerca de 200 antigos agentes da polícia política. Faleceu em 11/07/1990, em Lisboa.]   

[João Esteves]

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