* PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || CCCLII *
02035. António Lopes de Araújo [1927]
[António Lopes de Araújo.
Marmeleira, 23/08/1897. Tenente de Artilharia. Filiação: Maria da Encarnação Araújo Lopes Pereira, Joaquim Lopes Pereira. Solteiro. Residência: anda fugido. Vigiado, estava referenciado em setembro de 1927 como fazendo parte do "comité revolucionário de Coimbra". Em novembro, é apontado como estando a conversar com os tenentes Alfredo da Silva Gomes, do Batalhão Caçadores 2, e Carlos Gomes dos Santos, da GNR. Preso pelo Comando Militar de Coimbra em 22/11/1927, "acusado de fazer parte do comité revolucionário daquela cidade". Deportado para as Ilhas, de onde se evadiu mais tarde. Preso em 15/11/1928, "por ter fugido das Ilhas onde estava deportado" e "ter tomado parte ativa na organização do movimento de 20 de julho de 1928", em Coimbra, mantendo contactos, entre outros, com o capitão Nuno Cruz, capitão Chaves, Dr. António Dias e Avelino Augusto da Silva Belo. Além disso, era acusado de ter vário material de guerra escondido no Choupal, o qual viria a ser apreendido. Evadiu-se, em 19/01/1929, da Casa de Reclusão de S. Julião da Barra. Encontrava-se, em novembro de 1930, no Porto, onde mantinha ligações com o estudante Silo Cal Brandão. Os dois terão entregado dois caixotes com bombas a Hermenegildo Gonçalves Granadeiro, de Coimbra, os quais seriam apreendidos nesta cidade em dezembro, sendo cúmplices Afonso de Moura e Henrique de Magalhães. Aparece referenciado, em março de 1931, no distrito de Leiria, com ligações a José Carlos Afonso, administrador gerente da Companhia Leiriense de Moagem, Joaquim Rebelo Alves, guarda-livros, e José Alves Pereira de Sousa, caixeiro-viajante. Nessa cidade, vivia também o irmão, o médico Serafim Lopes Pereira, com quem mantinha ligações revolucionárias. Nas Caldas da Rainha, relacionava-se com o farmacêutico Maldonado de Freitas. Continuou a ser vigiado em todos os seus contactos até ser preso em 26/08/1931, dentro do Regimento de Artilharia 3: foi o responsável pelo assalto à unidade, que comandou durante o movimento revolucionário. Deportado para Timor em 02/09/1931, evadiu-se do vapor "Pedro Gomes" em Port Said. Abrangido pela amnistia de 05/12/1932. Em 1934-1935, era procurado "por estar envolvido em manejos conspiratórios", acusado de fazer parte de uma organização revolucionária que assentou em Pinheiro da Bemposta, Ermesinde e Trofa e que prepararia uma revolução dirigida, no norte do país, por Camilo Zuzarte Cortesão. Julgado à revelia pelo TME de 02/05/1935, reunido no Tribunal Militar Territorial no Porto, seria condenado a seis anos de desterro, em local à escolha do Governo, e doze mil escudos de multa. O TME, em sessão de 20/07/1940, considerou que estava abrangido pela amnistia estipulada pelo Decreto-Lei de 30484, de 01/06/1940.]
02036. Fernando Pais Teles de Utra Machado [1931, 1939]
[Fernando Pais Teles de Utra Machado.
Lisboa, 16/05/1882. Tenente-coronel de Infantaria. Filiação: Maria José de Campos Pais, Alberto Teles de Utra Machado. Fez carreira militar, assentando praça em 1900: alferes (1904), tenente (1911), capitão (1914), major (1918), tenente-coronel (1928). Permaneceu em Angola entre 1906 e 1916, tendo sido governador distrital da Lunda (1911-1915) e governador-geral (1915-1916), substituindo Norton de Matos. Integrou, durante a I Guerra, o Corpo Expedicionário Português, tendo participado na Batalha de La Lys. Depois, entre 1919 e 1931, exerceu a docência na Escola do Exército, lecionando a cadeira de "Colonização". Militou no Partido Republicano Português, tornou-se Ministro das Colónias entre 8 de março e 26 de junho de 1920 e, finda esta experiência, aderiu à União Liberal Republicana. Revelou-se, em 1930, crítico do Ato Colonial, fazendo, em 29 de maio, uma declaração de voto no Conselho Superior de Colónias, que integrava. Foi um dos chefes do movimento revolucionário de 26/08/1931, tendo sido demitido do Exército e deportado para Timor em 02/09/1931. Fugiu, num barco holandês, a bordo do qual assinou, em 28/02/1932, o manifesto "Um Grupo de Deportados de Timor à Nação Portuguesa". Subscreveram-no outros deportados em fuga: Alfredo Marques Mendonça, Eduardo Carmona, Francisco de Oliveira Pio, Joaquim Ramos Munha, José Pereira Gomes, Manuel António Correia, Manuel Vireilha da Costa e Miguel de Abreu. Fez parte da lista dos banidos do território nacional, a que se refere o Decreto-Lei 21943, de 05/12/1932. Conheceu o exílio em Espanha, durante o qual morreu um filho, sendo considerado próximo do Grupo dos Budas. Por ter assinado um manifesto dos exilados portugueses contra Salazar, publicado no jornal "El Sol" em 04/10/1936, foi acusado de alta traição à pátria. Com a derrota republicana, seria entregue às autoridades portuguesas em Barcelona e preso na fronteira de Vilar Formoso em 30/03/1939.
Levado para Caxias, seria deportado, em 23/04/1939, para os Açores / Depósito de Presos de Angra do Heroísmo. Julgado pelo TME de 24/07/1939, seria condenado a quatro anos de desterro. Abrangido pela amnistia de 01/06/1940, regressou de Angra do Heroísmo em 24/06/1940, saiu em liberdade e foi residir na Rua Augusto Gil, 39 - Lisboa. Faleceu em Lisboa, em 25/09/1949. A revista "Seara Nova" dedicou-lhe, em setembro de 1950, um número, com textos de Norton de Matos, João de Barros, Augusto Casimiro e Sant'Ana Dionísio. Também inseriu um texto seu: "Origem do topónimo Moçâmedes". Seria reintegrado no Exército e promovido a coronel, a título póstumo, em 25/10/1976.]
02037. João Roque [1927, 1930, 1931]
[João Roque.
Tenente do QAA. Preso em 10/02/1927, "por suspeita de tomar parte no movimento revolucionário"; libertado em 13/02/1927. Esteve envolvido no movimento revolucionário de 20/07/1928. Vigiado em 1930, foi-lhe fixada residência nos Açores, para onde seguiu em 08/08/1930, "por estar implicado no movimento revolucionário" que esteve para eclodir em julho. Procurou regressar ao Continente em dezembro, mas a informação da Polícia de Informações do Ministério do Interior, em ofício confidencial enviado ao Ministério da Guerra, em 05/01/1931, foi desfavorável. Depois de nova insistência, foi autorizado a regressar por ofício datado de 02/02/1931. Por estar implicado no movimento de 26/08/1931, seria deportado para Timor em 02/09/1931. Abrangido pela amnistia de 05/12/1932, regressou em 09/06/1933, apresentou-se em 12/06/1933 e declarou ir residir na Rua de Santa Marta, 80 - Lisboa.]
[João Esteves]
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