* OLÍVIA DE VASCONCELOS RODRIGUES *
- AVEIRO || 5 DE OUTUBRO DE 1956 -
[Papiniano Carlos e Olívia, pormenor de uma fotografia retirada de Alberto Castro Ferreira]
Reconstituir e recuperar o papel e trajetos que muitas mulheres ousaram ter na oposição ao fascismo é tarefa morosa, faltando acrescentar múltiplas peças a cada um dos puzzles.
A parteira Olívia Vasconcelos Rodrigues [1922/23 - 2015], casada com o poeta Papiniano Carlos [1918-2012] e ativista da Delegação do Porto da Associação Feminina Portuguesa para a Paz é um desses cassos cujas vivências urge recuperar.
Em 5 de Outubro de 1956, aquando das Comemorações da revolução republicana em Aveiro, o seu nome consta entre os inscritos para intervir na sessão pública no Cine-Teatro Avenida, a par dos de Almirante Tito de Morais, Alcides Strech Monteiro, Alfredo Coelho de Magalhães, Álvaro Seiça Neves, Armando Bacelar, Augusto Arala Chaves, Cibele da Silva Carvalho, Heliodoro Caldeira, João Sarabando, José Rodrigues, Júlio Calisto, Manuel da Costa e Melo, Manuel das Neves, Virgílio Pereira da Silva [Fernando Madaíl, Fernando Valle - Um aristocrata da esquerda, Âncora Editora, 2004].
Segundo Fernando Mdaíl, "o poeta Papiniano Carlos, no programa das comemorações, inscreve o seu poema Aos mortos da República":
“Que vos dizer, ó companheiros mortos,
Ó mestres queridos, ilustres ou anónimos?
Que palavras incolores, que rosa desfolhada
para dar-vos? Não, a terra não ficou
por semear, nem o navio abandonado,
a tarefa inacabada.
Mesmo que vós nos dissésseis: “Estamos mortos!
Que esperais de nós ainda?”, nós sabemos
que é a vosso lado que atravessaremos as sombras
destes terríveis tempos. Convosco viajaríamos
através da morte, da peste e dos infernos
se preciso fosse. A liberdade escreve-se
com sangue, estrelas e raízes, e é no meio
das trevas e dos cárceres que floresce
Assim vós a amastes e nos ensinaste.
Assim a amamos e, em seu nome,
havemos de chegar ao fim
da áspera jornada:
Com o exemplo da vossa união,
com vossa fé, vosso amor ao Povo, vossa verdade,
vosso navio,
vossa inesquecível voz.”
[Papiniano Carlos]
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