* MÁRIO EMÍLIO DE MORAIS SACRAMENTO *
[1920-1969]
|| A PRIMEIRA PRISÃO || 1938 || PORTO - RUA DO HEROÍSMO ||
[Mário Sacramento || Limiar || Junho de 1975]
Um dos nomes mais destacados da oposição ativa ao fascismo, embora nem sempre devidamente valorizado, Mário Sacramento foi contactado para a militância clandestina com apenas 16 anos, tendo-lhe sido entregues vários papéis e selos do Socorro Vermelho Internacional, e foi preso pela primeira vez pela polícia política (PVDE) aos 17 anos, em 10 de junho de 1938, detenção que o marcou de forma indelével, tendo o seu Diário sido iniciado exatamente 29 anos depois [e não 30 como pensara], a 10 de junho de 1967.
A sua precoce prisão revela não só o quão cedo começou a sua luta contra o regime que quis combater em cada um dos dias que viveu, mas também a crueldade e ausência de escrúpulos da PVDE e dos seus mentores.
Como descreveu no seu Diário, frequentava o 7.º ano do Liceu de Aveiro, onde era o presidente da Academia, preparava-se a comemoração do Dia de Camões quando, às cinco horas da manhã, os agentes policiais [entre os quais constava Henrique de Sá e Seixas e o chefe de brigada Leitão], fazendo-se passar por estudantes, deslocaram-se à residência dos pais e prenderam-no, provocando na mãe, Rita de Morais Sarmento e Sacramento, uma grave crise cardíaca, e o pai, Artur Rasoilo Sacramento, “pôs-se aos murros na parede até ficar com os punhos em sangue” [Diário, p. 17].
A caminho do Porto, ainda pararam num pinhal deserto para queimarem um ou dois dos livros apreendidos.
Chegados à prisão da Rua do Heroísmo, cujo Diretor era, então, o tenente Soares, o agente Seixas, numa postura de amedrontar o jovem, mostrou-lhe corpos de jovens seviciados naquele antro por não terem confessado a “verdade”.
Foi, então, instalado no “célebre 5, cochicho situado num desvão de escada”: “era um pequeno vão de escada, com uma tarimba de madeira e um balde por único mobiliário. Só junto à porta, onde havia um respiradouro ínfimo, do diâmetro duma tangerina, era possível estar de pé. A creolina do balde impregnava o ar de tal modo que era penoso respirar. Ali estive uns dias ao desamparo, roído por mil ansiedades. Só via a luz do dia quando ia ao pátio, de manhã, despejar o balde e refrescar a cara e as mãos na torneira da água. Dormitava apenas, e nunca de noite, pois esta passava-a sempre atento à possibilidade dum novo interrogatório e aos movimentos do corredor, bem como aos gritos surdos que, volta e meia, vinham lá do fundo” [Diário, p. 18].
Não obtendo do jovem Mário Sacramento o que entendiam que devia confessar, tentaram a tortura psicológica ao solicitarem a escrita de um bilhete para a mãe, pois estaria a morrer, tendo, por fim, sido colocado num quarto e libertado.
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