[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

sexta-feira, 8 de abril de 2016

[1425.] OSVALDO SANTOS SILVA [I]

* OSVALDO SANTOS SILVA *
[1913-1951]

[Fotografia retirada de Gaspar Martins Pereira, Eduardo Santos Silva – Cidadão do Porto (1879-1960), Campo das Letras, 2002]

Engenheiro civil. 

Quinto filho de Ernestina Cândida Martins Morgado e do conceituado médico republicano e oposicionista Eduardo Ferreira dos Santos Silva [18/03/1879 – 14/09/1960], Osvaldo Santos Silva nasceu em 1913 e faleceu a 1 de julho de 1951. 

[Osvaldo Santos Silva e a Mãe - Fotografia retirada da obra de Gaspar Martins Pereira dedicada a Eduardo Santos Silva]

Considerado “muito culto e generoso – o pai chamava-lhe «filósofo» e «poeta»" [Gaspar Martins Pereira], Osvaldo dos Santos Silva foi, desde muito novo, um lutador ativo contra a ditadura, com relevante intervenção cultural e política no Porto, estando conotado com o Partido Comunista, de que seria militante desde o início da década de 1940. 

Por isso, nunca conseguiu, até à prematura morte, com apenas 39 anos, em resultado de uma intervenção cirúrgica mal sucedida, exercer a sua profissão ou lecionar devido às constantes perseguições da PIDE [Gaspar Martins Pereira]. 

Participou no Movimento de Unidade Democrática; foi sócio auxiliar da Delegação do Porto da Associação Feminina Portuguesa para a Paz, sendo casado com Maria Luísa de Lemos, uma das suas fundadoras e principais dirigentes; interveio na campanha presidencial de Norton de Matos; e, em 1951, apoiou a candidatura de Ruy Luís Gomes. 

Em 1949, aquando da prisão de Álvaro Cunhal no Luso e sua transferência para a prisão da Rua do Heroísmo, no Porto, integrou o grupo dos quatro responsáveis, juntamente com António Lobão Vital, o jornalista Manuel de Azevedo, também sócio auxiliar da AFPP, e Virgínia Moura, pela publicação do anúncio de 30 de março em O Primeiro de Janeiro, onde se publicita a detenção do principal dirigente comunista, evitando possíveis consequências mais graves para o detido. 

[Retirado, com a devida vénia, do Blogue Parem as Máquinas!, de Gonçalo Pereira Rosa]

Foi um dos fundadores da Sociedade Editora Norte (SEN) que editou, em 1950, o livro póstumo de Soeiro Pereira Gomes Refúgio Perdido, com Nota Prévia de Manuel de Azevedo. 

O seu nome foi dado à Biblioteca da SEN e em 21 novembro de 1959, aquando da celebração aniversário da Sociedade Editora Norte, o exemplo de Osvaldo Santos Silva foi evocado pelo Presidente da Direção e por Victor de Sá perante uma sala repleta e onde se encontravam seus pais e demais família: 

[“17.º aniversário da Sociedade Editora Norte”, Boletim Cooperativista, n.º 75, dezembro, 1959, pp. 5 e 7]

“A cerimónia de homenagem póstuma em honra do saudoso Eng.º Osvaldo dos Santos Silva, patrono da Biblioteca da S.E.N., realizada na sua sede, no dia 21 de Novembro, redundou num ato impressionante e comovedor para quantos a ele assistiram. 
A esta sessão de homenagem assistiu o venerando pai do homenageado, o antigo Ministro da Instrução Pública, sr. dr. Eduardo dos Santos Silva, que se encontrava rodeado de sua esposa, filhos e netos. 
A sede da S.E.N. encontrava-se repleta vendo-se na assistência muitas senhoras. O presidente da Direção abriu a cerimónia convidando o sr. dr. Santos Silva a tomar a presidência e iniciou as suas considerações propondo um minuto de concentração espiritual pela memória do homenageado, que foi observado num silêncio impressionante. 
Disse a seguir que os atos comemorativos do 17.º aniversário da fundação da cooperativa Editora Norte não ficariam completos se neles fosse esquecido o seu grande amigo, que tão novo for a arrebatado pela morte e que era u m dos seus melhores e mais entusiastas quadros de trabalho, que sempre sonhara transformar a S.E.N. num grande baluarte da cultura popular. Terminou a sua curta intervenção informando que para orador oficial daquela homenagem fora convidado o estimado consócio sr. dr. Victor de Sá, que propositadamente se deslocara de Braga à S.E.N. para se desempenhar de tão nobre missão. 
E foi perante um ambiente profundamente emocional, em que havia lágrimas em muitos olhos, não só de senhoras mas também nos de cavalheiros, que o prestimoso dr. Victor de Sá iniciou a sua intervenção. 
Falou da amizade, do respeito e carinho que tinha pelo sr. dr. Eduardo dos Santos Silva, venerando pai do jovem bom e generoso que naquele momento era evocado com profunda saudade. 
Disse dos sonhos dos jovens da sua geração que fundaram a S.E.N., numa época em que pela cultura queriam elevar o nível moral e intelectual do nosso povo, enquanto lá fora os senhores da guerra soltavam a «Besta do Apocalipse» para retalhar o mundo e os povos que nele viviam.
Falou das aspirações da juventude e dos seus anseios no final da guerra, em que lançaram mão de simpáticas iniciativas que concretizavam as suas aspirações, sendo uma delas a fundação da S.E.N, que no meio de tremendas dificuldades pôde sobreviver e chegar viva a este final do ano de 1959.
Evocou em seguida os laços que o ligavam ao saudoso Osvaldo dos Santos Silva, jovem da sua geração, que em vida tão bem soube traduzir os anseios que moviam e agitavam a juventude da época contemporânea, afirmando que até na escolha da sua profissão - a de engenheiro - o homenageado fora fiel à juventude do seu tempo, que bem adivinhava a época da técnica que definiria o mundo dos nossos dias. Terminou a sua belíssima intervenção com um apelo aos novos para que fossem consequentes com o espírito da época em que vivem e que tomassem o saudoso Eng.º Osvaldo dos Santos Silva como o mais objetivo dos exemplos, que foram os de dar toda a sua vida aos mais nobres e fecundos ideais. 
O dr. Victor de Sá foi premiado com uma interminável salva de palmas, enquanto o dr. Eduardo dos Santos Silva, erguendo-se da cadeira, o abraçou e beijou profundamente emocionado, até às lágrimas. 
Seguidamente, com a voz embargada pela emoção, o velho ministro da primeira República agradeceu a homenagem feita a seu saudoso filho. 
Assim terminou esta bela e emocionante jornada que a Direção da S.E.N. levou a efeito e que enquadrou nos atos comemorativos do seu 17.º aniversário, ligando para sempre a figura do saudoso Eng.º Osvaldo dos Santos Silva aos destinos da S.E.N. 
À noite, no restaurante «Porto», cerca de oitenta associados da S.E.N. reuniram-se num jantar de confraternização, que foi muito animado e onde se fizeram interessantes declarações sobre os progressos da S.E.N., que devem ser intensificados no próximo ano por numerosas atividades culturais.”

[João Esteves]

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