[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

segunda-feira, 2 de abril de 2018

[1783.] VIRGÍLIO FERREIRA [I]

* VIRGÍLIO FERREIRA (1902 - 1975) || DEPORTADO PARA ANGRA DO HEROÍSMO (1934 - 1937) || PRESO EM CAXIAS (1938-1947) || ALJUBE (1947) || PENICHE (1947-1949) *

[Virgílio Ferreira || 1934 || ANTT || RGP/171]

Filho de Felícia Rosa Ferreira e de Artur Ferreira, Virgílio Ferreira nasceu em Alfama, em 28 de Dezembro de 1902.

Torneiro de metais, foi preso em 1 de Maio de 1934, acusado de integrar o grupo que, na madrugada de 22 de Abril, participou na inutilização de cartazes de propaganda da Acção Escolar Vanguarda (AEV), colou selos de propaganda do Partido Comunista e ter na sua posse uma pistola "F.N.". Foi, ainda, acusado de distribuir impressos clandestinos e venda daqueles selos.

[Virgílio Ferreira || 1934 || ANTT || RGP/171]

Durante os interrogatórios, negou que fizesse parte do Partido Comunista, apesar de manter contactos conspirativos com, entre outros, Alberto Mateus Guerreiro, Carlos Varela, Delfim Ferreira, Francisco Miguel Duarte, Francisco Xavier da Silva, Joaquim Gamito, Mário Teixeira e Orlando José Bernardino, reunindo-se, por vezes, nos cafés Alvarez e Marcial [Processo 1188]. 

Julgado no Tribunal Militar Especial em 31 de Agosto de 1934, foi condenado a três anos de degredo [Processo 197/934, do TME] e, em 23 de Setembro, embarcou para Angra do Heroísmo, a fim de ser encarcerado na Fortaleza de São João Baptista.

Regressou de Angra em 8 de Novembro de 1937.

Novamente preso em 14 de Abril de 1938, recolheu à 1.ª Esquadra e, em 13 de Maio, passou para Caxias, sendo libertado em 24 de Junho [Processo 383/938]. 

Em 9 de Abril de 1947, quando era estivador, foi detido pela terceira vez e enviado para o Aljube. 

[Virgílio Ferreira || 1947 || ANTT || RGP/171]

Transferido, em 27 de Junho, para Caxias, seria libertado em 2 e Setembro por ter pago uma caução de trinta mil escudos. Cumpriu a pena em Peniche, de onde só saiu em 13 de Abril de 1949 [Processo 505/947]. 

O seu filho, nascido do segundo casamento, recorda-se de o ter visitado no Forte de Peniche quando teria quatro/cinco anos

[Virgílio Ferreira || 1947 || ANTT || RGP/171]

Em liberdade, "dedicou-se à vida  sindical, tendo sido dirigente eleito do Sindicato dos Estivadores e, posteriormente, já próximo da idade da reforma, funcionário do mesmo Sindicato" [informação de José Ferreira, filho de Virgílio Ferreira].

Virgílio Ferreira foi, ainda, um cantador de fados reconhecido, "artista honesto a quem vaidades tolas não ofuscam" [Guitarra de Portugal, 12/02/1933], estando proibido de "cantar em público". Talvez por "preferir versos que falem à minha alma de homem consciente e de trabalhador. Gosto muito de bons versos, mas prefiro os de combate e crítica à desigualdade social"[Guitarra de Portugal, 12/02/1933].  


[Guitarra de Portugal || 12/03/1933 || Documento gentilmente disponibilizado pelo filho]

Faleceu depois do 25 de Abril de 1974, em 28 de Novembro de 1975, "na sequência de um AVC, dias após ter lido [...] uma entrevista de Silva Pais" [José Ferreira].

O nome consta do Memorial de Homenagem aos Ex-Presos Políticos, inaugurado na Fortaleza de Peniche em 9 de Setembro de 2017.

Fontes:
ANTT, Cadastro Político 5199 [Virgílio Ferreira / PT-TT-PIDE-E-001-CX15_m0663, m0663a, m0663b].
ANTT, Registo Geral de Presos / 171 [Virgílio Ferreira / PT-TT-PIDE-E-10-1-171_c0372, c0373].
ANTT, Fotografia 2407 / ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-4-NT-8904_m0005.
José Ferreira: mensagem por email, datada de 3 de Abril de 2018.

NOTA: O meu muito obrigado à extraordinária amabilidade do filho, Sr. José Ferreira, ao fornecer elementos que permitiram rectificar incorrecções, evocar recordações familiares e acrescentar dados.

[João Esteves]

Sem comentários: