[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

[2283.] ANTÓNIO PEREIRA LOPES [I] || DA MILITÂNCIA COMUNISTA À GUERRA CIVIL DE ESPANHA

* ANTÓNIO PEREIRA LOPES *
[28/07/1915 - ?]

Militante do Partido Comunista, António Lopes foi um dos muitos portugueses anónimos que combateram em defesa da Espanha Republicana.

[António Pereira Lopes || 1934 || ANTT || RGP/300 || PT-TT-PIDE-E-010-2-300]

Filho de Maria da Conceição Pereira, vendedeira, e de António Lopes, fundidor, António Pereira Lopes nasceu em 28 de Julho de 1915, em Lisboa. Nascido e criado em Alcântara, começou a trabalhar quando concluiu a 4.ª Classe.

Caldeireiro de ferro, trabalhava nas Oficinas da Sociedade de Construções e Reparações Navais, na Rocha de Conde de Óbidos, quando terá sido aliciado pelo colega Zé Ruço, mais velho, a aderir às Juventudes Comunistas. 

Integrava a Célula N.° 41, onde era o Secretário responsável pela Comissão Sindical, quando foi preso, em 23 de Setembro de 1934, pela PSP de Lisboa e entregue à Secção Política e Social da PVDE, «por fazer parte das Juventudes Comunistas Portuguesas» e «afixar panfletos subversivos pelas paredes», juntamente com Sérgio de Matos Vilarigues, nos bairros de Campo de Ourique, Fonte Santa, Necessidades e Avenida 24 de Julho [Cadastro Político 5451]. Também distribuía publicações clandestinas no local de trabalho [Processo 1238].

Depois de submetido a interrogatórios, foi levado para o Aljube em 8 de Novembro de 1934 e julgado pelo Tribunal Militar Especial em 20 de Março de 1935, sendo condenado em 12 meses de prisão e perda de direitos políticos por cinco anos [Processo 219/934 do TME].

[António Pereira Lopes || 1934 || ANTT || RGP/300 || PT-TT-PIDE-E-010-2-300]

Permaneceu em Peniche entre 5 de Abril e 15 de Setembro de 1935, data em que foi libertado.

[Peniche - Páscoa de 1934 || Diário de Lisboa de 7 de Março de 1984]

Impedido de regressar ao estaleiro, empregou-se como pasteleiro, mantendo amizade com Alípio dos Santos Rocha e o aprendiz de traçador Manuel Almeida Costa, também militantes das Juventudes Comunistas.

Juntamente com aqueles dois, decidiu ir defender a República Espanhola e, em Dezembro de 1936, introduziu-se clandestinamente no navio francês "Lipari", desembarcando em Bordéus três dias depois. Confiante, declarou-se às autoridades como voluntário internacionalista, acabando por ficar dois meses presos.

Em liberdade, o cônsul espanhol arranjou aos três um passaporte colectivo, onde constavam como naturais da Galiza, entrando, então, em Espanha por Perpignan. Ao declararem-se como portugueses, foram novamente presos, já que o passaporte os referia como galegos. Libertado ao fim de quinze dias por intervenção de Mário Reis, ligado aos antifascistas portugueses de Barcelona, António Lopes filiou-se no Partido Socialista Unificado Catalão.

Recebeu instrução durante um mês num Centro da Juventude do PSUC e seguiu para a frente de Aragão como miliciano, integrando a 122.ª Brigada Mista da 27.ª Divisão, no sector de Rober, perto da serra de Alcubierre, na margem esquerda do Ebro: permaneceu naquela frente defensiva até Novembro de 1937.

Seguidamente, participou na batalha de Teruel, integrado na 27.ª Divisão comandada por José del Barrio Navarro  [divisão Karl Marx], sendo preso na zona de Alfambra em 18 de Fevereiro de 1938. Nesse mesmo período, foi preso o major médico Inocêncio de Vasconcelos da Câmara Pires [não confundir com o familiar Inocêncio Matoso da Câmara Pires que se exilaria em Paris], chefe dos serviços de saúde da 27.ª Divisão, tendo assistido ao seu fuzilamento pelos franquistas.

Para escapar ao mesmo fim, António Lopes fez-se passar pelo catalão Juan Pujol Toés. Percorreu, então, por vários campos de prisioneiros, ficando cerca de um ano no de Orduña, no País Basco. Em meados de 1939, estava no de Jaén, norte da Andaluzia, incorporado numa brigada de trabalhos forçados.

Conseguiu fugir, com mais dois espanhóis: atravessou a nado o rio Guadalquivir, passou a serra Morena e chegou a Jerez de los Caballeros, já próximo de Portugal. Preso, declarou-se português, sendo levado para Badajoz, onde o espancaram. Novamente internado num campo, desta vez perto de Burgos, no mosteiro de São Pedro de Cardeña, e entregue, em 26 de Dezembro de 1940, às autoridades portuguesas no Posto da Beirã [Processo 2262/940].

[António Pereira Lopes || 28/10/1941 || ANTT || RGP/300 || PT-TT-PIDE-E-010-2-300]

Seguiu para Peniche e, por ter sido indultado, saiu em liberdade condicional em 10 de Janeiro de 1943.

Segundo Varela Gomes, que recolheu o seu depoimento em 1983 ou 1984 e publicou-o no Diário de Lisboa, António Lopes, conhecido por "O Espanhol", trabalhou uns sete ou oito anos na Sociedade Geral, na reparação de navios, e continuou a militar no Partido Comunista.

[Diário de Lisboa || 7 de Março de 1984]

Denunciado, tentou emigrar para França, país onde estavam Alípio Rocha e Manuel da Costa, seus antigos companheiros de Alfama, da Guerra Civil e do Partido. No entanto, segundo o Registo Geral de Presos, foi preso no Funchal, em 4 de Janeiro de 1953, por tentativa de emigração clandestina, tendo sido entregue pelo Capitão do navio Vera-Cruz.

[António Pereira Lopes || 17/01/1953 || ANTT || RGP/300 || PT-TT-PIDE-E-010-2-300]

Enviado para o continente, esteve detido no Aljube e foi entregue ao Delegado do Procurador da República de turno nos Tribunais Correccionais de Lisboa [Processo 25/953].

[Diário de Lisboa || 7 de Março de 1984]

Acabou por ir mesmo para França, de onde só regressou definitivamente após Abril de 1974.

[Diário de Lisboa || 7 de Março de 1984]

Fontes:
ANTT, Cadastro Político 5451 [António Pereira Lopes / PT-TT-PIDE-E-001-CX06_m0922, m0922a].

ANTT, Registo Geral de Presos 300 [António Pereira Lopes, PT-TT-PIDE-E-010-2-300].

Varela Gomes, "Portuguesas na Guerra de Espanha - Terceiro depoimento", Diário de Lisboa, 07/03/1984.

[João Esteves]

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