* PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || LX *
0527. Eugénio Rodrigues Aresta [1927]
Moura, 23/05/1891, militar, político, professor e filósofo. Filho de Inácia Rodrigues Acabado e de Manuel Aresta Jorge, era casado com Adélia Emília Borges [nalguns registos, o nome próprio é referenciado por Adelina], nascida em 1899.
Fez o ensino primário em Moura; continuou os estudos secundários em Évora; frequentou o curso preparatório para a Escola do Exército na Academia Politécnica do Porto onde, em 1908, foi condiscípulo de Leonardo Coimbra em Física; e, finalmente, tirou o Curso de Infantaria em Lisboa, concluído em 1913, prosseguindo a carreira militar: praça (1909); alferes (1914); tenente (1917); capitão (1919).
Em 1915, sob o comando do general Pereira de Eça Coutinho, fez parte da Coluna Expedicionária enviada a Angola, tendo recebido um louvor, datado de 28/10/1915, e mantido contacto com o, então, tenente-coronel Adalberto Gastão de Sousa Dias. Voltou à metrópole em 1916 e, no ano seguinte, integrou o Corpo Expedicionário Português, seguindo para França em 22/02/1917: permaneceu em Flandres até ao fim da Guerra, recebendo importantes distinções e louvores militares. Regressou em 21/02/1919, sendo colocado no Estado-Maior de Infantaria.
Neste mesmo ano, iniciou a intervenção política activa: militou na União Republicana, de Manuel Brito Camacho; no Partido Republicano Liberal (1919), em cujas listas foi eleito deputado por Beja (legislaturas de 1921, 1922); e no Partido Republicano Nacionalista (1923). Na sequência do falecimento da sua única filha, renunciou ao mandato de deputado em 20/11/1923. Manteve colaboração nos jornais A Luta e República, assim como em periódicos do Baixo Alentejo.
Integrou a Loja Progredior, onde chegou a Mestre Maçon em 1926, e combateu a Ditadura Militar, participando na preparação e execução da revolta de 3 de Fevereiro de 1927, no Porto. Preso na sequência do seu fracasso, havendo uma fotografia a ser levado de olhos vendados, seguiu para a Casa de Reclusão da 1.ª Região Militar e enviado, de seguida, para o paquete Infante de Sagres. Separado do serviço e deportado para S. Tomé, terá desembarcado nesta ilha, juntamente com outros militares envolvidos no movimento, por volta de 12/03/1927. Nesse mesmo ano, foi redactor do jornal clandestino O Constitucional e, aquando do regresso, no início do ano seguinte, esteve com residência obrigatória fixada fora do Porto, embora no norte do país.
Em 19/07/1928, concluiu a licenciatura em Ciências Filosóficas da Universidade do Porto, defendendo uma dissertação sobre o método filosófico de Bergson, com a qual obteve a classificação de 20 valores. Manteve colaboração activa com a Renascença Portuguesa, chegando a ser Vogal do Conselho de Administração e a colaborar na revista A Águia [1925, 1928, 1932], e exerceu, entre 1928 e 1932, a docência no ensino secundário.
Amnistiado nos termos do decreto n.º 21.140, de 9 de Abril de 1932, foi reintegrado no Exército em 1933, como capitão no Quartel-General da 1.ª Região Militar. Esteve, em 1934, na organização do 1.º Congresso Militar Colonial, enviuvou em 20/02/1936 e passou, voluntariamente, à reserva em 31/12/1937, enveredando pela docência liceal nos Colégios Almeida Garret e João de Deus, já que estava impedido de leccionar nos estabelecimentos oficiais, liceais e universitários, apesar de recomendado por Aarão de Lacerda.
Figura muito enraizada e conceituada no meio cultural e filosófico do Porto, conviveu e manteve colaboração, entre outros, com Agostinho da Silva, de quem foi professor, Álvaro Ribeiro, Augusto Saraiva, Delfim Santos, José Marinho, Leonardo Coimbra e Sant'Anna Dionísio.
Maçon, participou no Movimento de Unidade Democrática (MUD) e, em 1949, na campanha presidencial do general Norton de Matos, estando para ser um dos oradores do comício de 23/01/1949, realizado no Centro Hípico da Fonte da Moura, Porto, o que não sucedeu «devido ao adiantado da hora».
Autor dos manuais liceais Noções de Filosofia (1933) e Primeiras Noções de Filosofia (1941), publicou um romance sobre a participação portuguesa na 1.ª Guerra (A Guerra de Sempre, 1920) e escreveu para diversas revistas e jornais.
Faleceu na sua residência, no Porto, em 24/08/1956, em consequência dos gaseamentos sofridos na 1.ª Guerra, encontrando-se sepultado no Cemitério de Valongo. Tinha 65 anos de idade. Deixou, entre outros inéditos manuscritos, “Diário da Deportação – revolução de 3 de Fevereiro de 1927” e “Discurso no Comício no Centro Hípico da Fonte da Moura \ candidatura do general Norton de Matos à presidência da República”.
[João Esteves]
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