* PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || LXXXIV *
[O Rebate || 08/06/1928]
00672. Luís da Costa Figueiredo [1928, 1928, 1929, 1930, 1932, 1935, 1936, 1942]
[Luís de Figueiredo || ANTT || PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]
[Entre 1928 e 1942, Luís da Costa Figueiredo foi preso oito vezes, deportado quatro e conseguiu fugir de três dos locais de deportação. Passou por S. Tomé, Ponta Delgada, Angra do Heroísmo, Ilha Graciosa, Aljube e Campo de Concentração do Tarrafal. Filho de Virgínia de Sousa Figueiredo e de Francisco da Costa Figueiredo, nasceu em 25 de Junho de 1897, em Sátão - Ferreira das Aves. Advogado, foi preso, pela primeira vez, em Maio de 1928, «por fazer parte do comité revolucionário de Viseu e Coimbra» e deportado, em 7 de Junho, para S. Tomé, de onde se evadiu em 1 de Julho. Terá regressado a Lamas de Ferreira de Aves, onde nascera, e no âmbito da "Revolta do Castelo" de 20 de Julho de 1928, participou activamente, juntamente com Aquilino Ribeiro, que vivia próximo, em Soutosa, nas movimentações efectuadas pelo regimento de Pinhel, tendo sido presos em Contenças na sequência do assalto ao comboio da Beira Alta. Levado, juntamente com os outros implicados, nomeadamente Aquilino Ribeiro e o médico António Gomes Mota, para o Presídio Militar de Fontelo, os três evadiram-se na noite de 15 de Agosto, pelas 21 horas e 15 minutos, após terem serrado o soalho da casa onde se encontravam e passado através de uma abertura de cerca de 0,55m por 0,40m, descido para uma loja com o auxílio de uma escada e, uma vez livres da prisão e da loja, saltaram o muro da vedação que rodeava o edifício. Os encontros conspirativos de Luís Figueiredo com Aquilino Ribeiro repetiram-se, tendo-se, também, reencontrado em Paris. No ano seguinte, o informador Trovão detectou-o na região de Viseu, segundo comunicação feita em 27 de Junho de 1929, sendo preso dois dias depois «por se ter evadido de S. Tomé». Deportado, em 22 de Julho de 1929, para Ponta Delgada (Processo 4350), onde se reencontrou com o tenente Manuel António Correia. Segundo este, no livro Memórias de um Resistente às Ditaduras [Temas e Debates, 2011], os dois fugiram juntos em Agosto de 1929, num pequeno veleiro. Daí, com várias interrupções para contactarem com outros republicanos na mesma situação, passaram pela Ilha do Pico; Horta, onde embarcaram num transatlântico com destino a Marselha, mas com o objectivo, falhado, de saírem em Lisboa; Palermo; Nápoles; Marselha; La Guardia, onde se encontrava Bernardino Machado; e Tui, onde fizeram a travessia do rio Minho, separando-se em Braga. Sempre vigiado, as informações de Abril e Junho de 1930 referiam que Luís da Costa Figueiredo fornecera bombas a Eleutério Santa Cruz Barbeitos, reunia-se no escritório da Rua dos Fanqueiros e mantinha ligações conspirativas com o aspirante da Marinha Alexandre Rodrigues, capitão Jaime Baptista e tenentes Francisco de Oliveira Pio, Moura e Quilhó. Novamente preso em 15 de Junho de 1930, «por se ter evadido de Ponta Delgada, onde se encontrava com residência fixa» e continuar a conspirar, com o ex-tenente Manuel António Correia e o ex-aspirante da Marinha Alexandre Rodrigues, entre outros, contra a Ditadura. Estava, então, envolvido na revolta reviralhista preparada para 21 de Junho. Deportado, em 8 de Agosto de 1930, para Angra do Heroísmo (Processo 4600), passou para o Depósito de Deportados Políticos de Santa Cruz, na Ilha Graciosa, de onde escapou em 4 de Novembro dentro de um cesto de vime levado para o navio Carvalho Araújo, juntamente com outro deportado político de apelido Gonçalves. Chegou a desembarcar em Ponta Delgada e no Funchal para contactar outros deportados políticos e, depois, seguiu para Vigo a bordo de um barco estrangeiro. Entrou em Portugal por Monção e preso, pela quinta vez, em 26 de Julho de 1932, «por andar fugido», tendo-se «evadido da Ilha Graciosa, onde se encontrava com residência fixa, por motivos políticos, em 1930»; levado, incomunicável, para uma esquadra. Segundo os informadores policiais, continuava a conspirar, reunindo-se, entre outros, com o ex-capitão Jaime Baptista, José Lopes Soares, José Severo dos Santos, Sarmento de Beires e Utra Machado. Era ainda apontado como tendo participado na revolta de 26 de Agosto de 1931. Por estar tuberculoso, em 7 de Setembro de 1932 foi-lhe fixada residência obrigatória em Sátão, de onde era natural, tendo seguido do Aljube para aí no dia 10, em regime de liberdade condicional (Processo 485). Abrangido pela amnistia de 5 de Dezembro de 1932, foi restituído à liberdade definitiva. Poucos meses depois, em 15 de Julho de 1933, quando estava novamente para ser detido, Luís da Costa Figueiredo escapou à prisão ao manter-se escondido na casa dos pais, em Sátão, com a cumplicidade da irmã Amélia, conseguindo iludir a GNR quando esta revistou a casa, concluindo-se que teria fugido. Sempre vigiado, preso, pela sexta vez, em 21 de Maio de 1935, «por haver conhecimento nesta polícia de que andava desenvolvendo uma grande actividade revolucionária», sendo considerado «um elemento perigoso dentro do País» (Processo 1486). Preso pela Secção Política e Social da PVDE e levado para uma esquadra, foi transferido para o Aljube em 6 de Junho. Libertado em 19 de Outubro de 1935, voltaria a ser detido em 24 de Novembro de 1936, «por manter ligações político-revolucionárias», directa ou indirectamente, com alguns dos arguidos no processo do assalto ao cobrador da Alfândega de Lisboa (Processo 2410), nomeadamente com Maria do Rosário Campos, ex-tenente Manuel António Correia e António Joaquim. Transferido para o Aljube em 11 de Janeiro de 1937, em Maio desse ano foi, ainda, acusado de estar envolvido, juntamente com Manuel António Correia e Abílio dos Reis Morais, então já no Brasil, num movimento revolucionário em preparação (Processos 3362/SPS e 390/38). Em 5 de Junho de 1937, integrou a 2.ª leva de presos políticos que embarcou para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde chegou no dia 12. Por ter sido autorizado a viver no estrangeiro, embarcou, em 20 de Abril de 1939, no vapor Guiné de forma a aguardar, em S. Vicente, um transporte para o Rio de Janeiro. Por despacho do Ministro do Interior de 3 de Março de 1940, «foi deferido o requerimento de Miguel de Sousa Figueiredo, em que solicitava autorização para o epigrafado, seu irmão, regressar ao País por se encontrar em estado precário de saúde». Seria preso pela oitava, e última, vez em 9 de Junho de 1942 e libertado dois dias depois. Segundo Manuel António Correia, Luís Figueiredo, aquando da terceira ou quarta prisão, em Junho de 1929 ou Junho de 1930, teria sido ferozmente torturado pela Polícia de Informações, tanto na sede da Rua da Leva da Morte, como na Serra de Monsanto, para onde fora levado, salvando-se ao ser socorrido por uma patrulha da GNR. Ainda segundo o mesmo autor: «O Luís de Figueiredo, extremamente valente, a quem os maus tratos da Polícia de Informações não conseguiram arrancar os nomes dos seus camaradas, era bastante acanhado» [Manuel António Correia, Memórias de um Resistente às Ditaduras]. Segundo o Filho, aquando da Segunda Guerra Mundial, esteve envolvido, juntamente com os irmãos, na extracção e processamento de volfrâmio que era vendido aos ingleses. Luís da Costa Figueiredo ainda pôde assistir ao 25 de Abril de 1974 e ao fim da ditadura. Faleceu em 24 de Junho de 1974 e foi sepultado no dia seguinte, dia em que completaria 79 anos. Na maior parte da documentação, o nome próprio aparece com z (Luiz), tal como tinha sido registado.]
0673. Mário Ferreira da Silva [1928, 1939 (?)]
[Mário Ferreira da Silva || 11/05/1928 || ANTT || ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-1-NT-8902 || "Imagem cedida pelo ANTT"]
["O Mário Pitosga". Lisboa, 07/02/1897, pedreiro - Lisboa. Filiação: Albina Rosa Ferreira. Preso em 07/05/1928, "por ser bombista e fazer parte dum complot para assassinar Sua Ex.ª o Presidente da República" (Processo 3686), e deportado para Angola em 07/06/1928. Transferido para a Madeira em 20/10/1930 e, em 12/11/1930, seguiu para Ponta Delgada. Em Dezembro de 1932, estava com residência fixada em Cabo Verde, não tendo sido abrangido pela amnistia de 05/12/1932. Em 1939, continuava em Cabo Verde, tendo embarcado, em 09 de Agosto, para Luanda, a fim de cumprir quatro anos de degredo.]
0674. Carlos Luís Paula [1928, 1928, 1934]
[Filho de Leonor da Conceição e de António Luís Paula, Carlos Luís Paula nasceu em Lisboa, provavelmente em 1899. Pintor da construção civil, terá casado aos 18 anos com Luísa da Conceição, tecedeira da indústria têxtil e ambos trilharam o mesmo caminho em defesa dos trabalhadores, participando em lutas comuns. Em 1918, nasceu na Rua de Campo de Ourique, 75, onde o casal residia, a filha Aida da Conceição Paula. Com o advento da Ditadura Militar, Carlos Luís Paula sofreu várias perseguições, passou pelos calabouços do Governo Civil de Lisboa e, em 14 de Abril de 1928, foi preso acusado de "ser fabricante de explosivos" (Processo 3676). Deportado para Angola em 7 de Junho, evadiu-se em 9 de Junho, quando o vapor "Moçambique" aportou no Funchal, e foi recapturado em 27 de Julho de 1928. Cerca de dezoito meses depois, Luísa da Conceição e Aida Paula partiram para Angola tendo, posteriormente, Carlos Luz Paulo regressado à metrópole por pressão dos médicos já "que o clima lhe fora adverso e ele estava em perigo de vida" [depoimento de Aida Paula em Mulheres Portuguesas na Resistência, 1975]. De regresso a Campo de Ourique, aproximou-se do Partido Comunista e começou a levar o Avante! para casa, lendo-o em voz alta à esposa, que não sabia ler. Em 24 de Julho de 1934, na sequência da prisão do ourives Armando Alves de Castro, que já estivera deportado em Timor e era procurado por se ter evadido, em 6 de Junho, do Hospital de S. José, foi novamente detido e libertado em 8 de Agosto (Processo 1197). Em 26 de Junho de 1936 andava fugido à polícia, "acusado de suspeita de ter feito alguns dizeres e desenhos de carácter comunista nas guaritas das novas instalações da Esquadra dos Caminhos de Ferro" (Processo 1839). Durante a Guerra Civil de Espanha, o casal Carlos e Luísa acolheu quatro refugiados espanhóis, enquanto a mulher continuava a trabalhar numa fábrica. Deve ter falecido pouco tempo depois, já que quando a mulher foi presa pela primeira vez numa tipografia clandestina do Partido Comunista, em Maio de 1939, foi registada como viúva.]
0675. José Gomes [1928, 1928, 1937]
["O José Dourador". Palmela, 05/12/1893, pintor - Lisboa. Filiação: Gertrudes de Jesus e Manuel Gomes. Preso em 14/04/1928, por ser "agitador e fabricante de explosivos", e deportado para Angola em 07/06/1928 (Processo 3676). Evadiu-se em 9 de Junho, com Carlos Luís Paula, quando o vapor "Moçambique" aportou no Funchal, e foi recapturado em 22 de Julho de 1928. Apresentou-se, em 20/10/1930, no Quartel General do Governo Militar da Madeira, teve residência fixada nos Açores e, em Março de 1931, embarcou para Cabo Verde. Abrangido pela amnistia de 05/12/1932, regressou de Cabo Verde, apresentou-se em 26/04/1933 e saiu em liberdade. Preso em 17/04/1937, "para averiguações", recolheu a uma Esquadra. Em 07/05/1937 foi levado para a 1.ª Esquadra, passou pelo Aljube em 02/06/1937 e seguiu, em 05/06/1937 para o Tarrafal. Abrangido pela amnistia de 1945, foi libertado em 16/11/1945, aguardando o regresso a Lisboa.]
[alterado em 27/12/2022]
00676. Raul de Sousa [1928, 1931]
[Industrial. Deportado para África em 07/06/1928, juntamente com António da Silva/Domingos da Silva, Carlos Luís Paula, José Anacleto, José Gomes, Luís da Costa Figueiredo, Mário da Silva e Mário Ferreira da Silva. Estava na Madeira quando eclodiu a revolta de 04/04/1931, a que aderiu. Com o seu fracasso, foi enviado em maio para Cabo Verde. Pode tratar-se de Raul Rodrigues de Sousa (01377.)]
[alterado em 31/05/2024]
0677. António da Silva ou Domingos da Silva [1928]
[António da Silva ou Domingos da Silva || 11/05/1928 || ANTT || ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-1-NT-8902 || "Imagem cedida pelo ANTT"]
["O Violas". Lisboa, 1907 (?), carpinteiro - Lisboa. Filiação: Maria José Amparo. Preso em 05/05/1928, "por fazer parte do complot que devia atentar contra a vida de Sua Excelência o Senhor Presidente da República e ainda por ser um elemento avançado e perigoso", mantendo ligações com António de Magalhães, Carlos Luís Paula, José Gomes e Raul Guitarrista. Deportado para Angola em 07/06/1928, em 21/08/1930 embarcou com destino ao Funchal, onde chegou em 10/09/1930 e ficou a a guardar instruções da Metrópole.]
0678. José Anacleto [1928]
[José Anacleto || 11/05/1928 || ANTT || ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-1-NT-8902 || "Imagem cedida pelo ANTT"]
["O Olho de Vidro". Deportado para África em 07/06/1928, juntamente com António da Silva/Domingos da Silva, Carlos Luís Paula, José Gomes, Luís da Costa Figueiredo, Mário da Silva, Mário Ferreira da Silva e Raul de Sousa.]
[João Esteves]
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