[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

quarta-feira, 9 de março de 2022

[2750.] ALBERTO ALEXANDRINO AUGUSTO DOS SANTOS || DO 3 DE FEVEREIRO DE 1927 À GUERRA CIVIL DE ESPANHA E À RESISTÊNCIA FRANCESA

 * ALBERTO ALEXANDRINO AUGUSTO DOS SANTOS *

[1891 - 1969]

Alexandrino dos Santos foi, entre 1926 e 1969, um ativo opositor da Ditadura portuguesa, combateu na Guerra Civil de Espanha (1936-1939) onde, devido às suas qualidades de disciplina, de organização e de estratega, se tornou o português com a posição mais alta na hierarquia militar leal à República Espanhola e, a partir de novo exílio, integrou a Resistência em França (1942-1944) contra a ocupação nazi. 


[Alberto Alexandrino dos Santos || c. 1937 || in Les Portugais et la guerre d'Espagne - Engagement militant, solidarités et mémoires || Riveneuve Continents 29-30 || 2020]

Filho de Maria Augusta dos Santos e de João Alexandrino dos Santos, nasceu em Cedofeita - Porto, em 4 de Julho de 1891, e era casado com Maria do Carmo Vieira dos Santos. 

Militar de carreira, integrou, no ano letivo de 1915/1916, o corpo docente da Escola Prática Comercial Raul Dória, no Porto, sendo, tal como o pai, professor efetivo. De seguida, combateu como voluntário na 1ª Guerra, tendo sido ferido. 

Foi, entre 1926 e 1969, um ativo opositor da Ditadura portuguesa, combateu na Guerra Civil de Espanha (1936-1939) onde, devido às suas qualidades de disciplina, de organização e de estratega, se tornou o português com a posição mais alta na hierarquia militar leal à República Espanhola e, a partir de novo exílio, integrou a Resistência em França (1942-1944) contra a ocupação nazi. 

Tenente, participou na revolta que eclodiu no Porto em 3 Fevereiro de 1927 e, devido ao seu fracasso, exilou-se, primeiro, na Galiza, em Vigo, juntamente com Amadeu FernandesCésar de Almeida, Jaime Cortesão, Jaime de MoraisJoão Aires TorresJoão Carlos Lopes MartinsMiguel Augusto Alves Ferreira e Raúl Proença, entre outros. 

De seguida, fixou-se em Madrid e, em 1928, entrou clandestinamente em Portugal na sequência de tentativas de movimentações revolucionárias, nomeadamente na região do Minho, sendo vigiado desde, pelo menos, 12/07/1928, quando é referido que esteve em contacto com o capitão médico Canário e Joaquim da Silva, da Fábrica de Barcarena. 

Ao contrário de outros dirigentes, escapou à prisão em massa de 1 de Maio e integrou, com o capitão-tenente Aragão e MeloJoão Lopes Soares (ex-capelão milita), coronel José de Mascarenhas, o tenente-coronel Norberto Guimarães e o major Sarmento de Beires, o comité da chamada Revolta do Castelo, desencadeada em 20/07/1928, a qual provocou divisões entre si e outros militares intervenientes. 

Mais uma vez, conseguiu não ser detido e refugiou-se, inicialmente, no interior do país, mantendo-se na clandestinidade durante alguns anos. 

Vigiado pelos informadores "Marítimo", "General", "Ave", "Trovão" e "24", as suas movimentações eram relatadas, dando-se conta dos encontros que manteve, entre Outubro de 1928 e Maio de 1930, com, entre outros, Aires Torres, tenente-coronel (António Germano Guedes) Ribeiro de Carvalho, tenente Araújo (José Maria de?), Armando Agatão Lança, capitão Carlos Chaves Costa, aspirante Gois Mota, tenente de infantaria Joaquim Videira, sargento da Armada José Severo dos Santos, coronel de infantaria Mendes Cabeçadas, tenente-coronel Norberto Guimarães

Segundo informações que constam do seu Cadastro Político, teria ido, em 1930, à Holanda comprar armamento, o qual veio a ser apreendido posteriormente. 

Em Fevereiro de 1931 andava fugido à Polícia (v. Processo 4735). Preso em 06/09/1932, em Lisboa, juntamente com o filho, Henrique Alexandrino Vieira dos Santos (estudante). Enviado, em 07/09/1932, à Polícia Internacional Portuguesa - Porto, a fim de lhe ser organizado o processo. Regressou a Lisboa em 14/09/1932, apurando-se que mantinha ligações revolucionárias com Alfredo FernandesArtur Francisco do CoutoEmídio Guerreiro e capitão Nuno Cruz

Em 22/10/1932, foi-lhe fixada residência obrigatória em Cabo Verde (Processo 114/PortoProcesso 573/PI), o que não aconteceu por ter sido banido, por despacho do Ministro do Interior, do território nacionalSeguiu, em 05/01/1933, para a fronteira de Elvas. 

Julgado à revelia pelo TME em 02/06/1934 (Processo 9/934 - TME). 

Instalou-se, então, a Madrid, onde passou a ser proprietário de uma garagem, e integrou o grupo dos Budas, juntamente com Alberto Moura PintoJaime de Morais e Jaime Cortesão, entre outros. 

[c. 1937 || in Les Portugais et la guerre d'Espagne - Engagement militant, solidarités et mémoires || Riveneuve Continents 29-30 || 2020]

A sua permanência em Espanha e, depois, em França é escalpelizada por Robert Duró Fort no artigo "Alberto Alexandrino dos Santos, un révoltionnaire ibérique pendant la guerre civile espagnole, 1936-1939" (in Les Portugais et la guerre d'Espagne - Engagement militant, solidarités et mémoires, Riveneuve Continents 29-30, 2020, pp.107-138). 

Na sequência do envolvimento no caso das armas do navio "Turquesa", foi preso em outubro de 1934, em Madrid, e saiu em liberdade condicional em 09/03/1935. Relacionado com o mesmo processo, seria novamente preso em 15/04/1935, desconhecendo-se a data da libertação

Com o triunfo da Frente Popular em Fevereiro de 1936, foi aprovada uma amnistia para os presos políticos e Alexandrino dos Santos persistiu nas suas atividades revolucionárias: continuou a acompanhar a situação portuguesa e, em Espanha, mantinha contactos com elementos da Federação Anarquista Ibérica, intelectuais e com o comunista José Luis Terry, com quem partilhava o apartamento em Madrid. 

Com o início da insurreição militar franquista em 17 de Julho de 1936, muitos militares republicanos portugueses ofereceram a sua colaboração ao governo legítimo de Espanha. Alexandrino estava, então, em Barcelona e aí vai ficar com o único filho, Henrique, sendo associado ao Partido Socialista Unificado da Catalunha, criado em 23/07/1936 na sequência da fusão de várias organizações políticas locais. 

Liderou, desde o início, colunas de voluntários em defesa da República, sendo comandante, ao mesmo tempo que reforçou a sua posição no PSUC enquanto dirigente das milícias socialistas naquela região. 

Participou na frente de Aragão (Tardienta, Vicién e Sangarrén) e, esteve, ainda em 1936, na defesa de Madrid, evidenciando, progressivamente, as capacidades de organização, de disciplina e de estratega. 

No início de Outubro, assinou o manifesto "Mensaje del verdadero Portugal", onde era condenada a aliança entre o Portugal de Salazar e os fascistas espanhóis, subscrita, também, por Alberto de Moura PintoArmando Zuzarte Cortesão, Fernando de Utra Machado, Gonçalo de ReparazIsrael Anahory, Francisco de Oliveira PioJaime de Morais, Júlio César de Almeida, Manuel Firmo e Jaime Zuzarte Cortesão. Publicado em 4 e 5 de Outubro na imprensa espanhola, nomeadamente no diário madrileno El Sol, coincidiu com a morte, em 05/10/1936, do filho Henrique Alexandrino, com 23 anos, no âmbito da defesa da República Espanhola, havendo versões contraditórias quanto ao realmente sucedido. 

Em Novembro de 1936, estava como segundo chefe do Estado Maior do exército na Catalunha e, em Dezembro, tornou-se, por nomeação oficial de o Ministro das Finanças, Juan Negrín, Comandante dos Carabineros, mudando-se para Valência, então capital da República. 

Promovido, em 02/04/1937, a tenente-coronel dos Carabineros, o que corresponderá à graduação militar mais elevada conseguida por um português nesse conflito. O empenho na sua reorganização e enquanto chefe da base de Castellón de la Plana, culminando na inauguração da Academia dos Carabineros, reforçou a sua importância no desenrolar dos acontecimentos militares durante a Guerra e o reconhecimento das qualidades militares de liderança

Com o avanço franquista, a base passou para a Catalunha, nas proximidades de Barcelona. Simultaneamente, associou-se ao plano L, de Lusitânia, que visava derrubar Salazar através de uma invasão de portugueses por via marítima a partir de Espanha. 

Em Janeiro de 1939, com a ocupação da Catalunha pelas tropas de Franco, partiu com os seus homens para França através dos Pirenéus e ficou, temporariamente, confinado num campo em Prats-de-Mollo-la-Preste. Seguiu, depois, para Marselha, onde vivia, desde finais de 1938, Moura Pinto

Num novo exílio, instalou-se, em Setembro de 1939, em Montauban, e integrou a resistência dos antifascistas espanhóis naquele país. 

Em 18/04/1942, foi internado no campo de refugiados de Judes, em Septfonds, onde participou na reorganização do Partido Comunista de Espanha. Libertado em 27/05/1942, seria novamente preso em 08/07/1942 e internado, desta vez, no campo de Le Vernet d'Ariège. 

Libertado em 7 de Agosto, entrou na Resistência sob o nome de Alex, desempenhando, novamente, funções militares relevantes na zona de Tarn-et-Garonne, no âmbito da formação e instrução de militares. Membro das Forças Francesas do Interior, abandonou a Resistência em 26/08/1944, regressando, com os republicanos espanhóis, à luta activa contra o regime franquista, integrando a União Nacional. 

Instalou-se, em 1950, em Toulouse, onde faleceu em 1969, com a graduação de General. Admirado e reconhecido pelos espanhóis, lutou, até ao fim da vida, pela liberdade nos dois países. Os autores Pere Calders  e Jean Morgades, que com ele conviveram no âmbito militar, dedicaram-lhe, respetivamente, os livros Unitats de xoc (1938, 1984) e Vers l'entente ibérique (1945).

[in Les Portugais et la guerre d'Espagne - Engagement militant, solidarités et mémoires || Riveneuve Continents 29-30 || 2020]

[João Esteves]

Sem comentários: