[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

sábado, 12 de março de 2022

[2755.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [CLIX] || 1926 - 1933

 * PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || CLIX *

01095. Cassiano Nunes Diogo [1932, 1932, 1934]

[Lisboa, c. 1910, caldeireiro de cobre. Filiação: Maria Ribeiro, Manuel Nunes Diogo. Solteiro. Residência: Rua Elias Garcia, 53 - Amadora. Preso em 05/09/1932 pelo Administrador do Concelho de Oeiras, acusado de, na madrugada do dia 4, fazer com Pedro Batista da Rocha e outros indivíduos, pinturas nas paredes da Amadora, Cacém e Queluz ("Viva o Comunismo", Viva a URSS", "Viva a Juventude Comunista", a foice e o martelo) e hastear, nos fios telefónicos da Amadora, a bandeira comunista. Recolheu, incomunicável, a uma esquadra. Era já procurado há vários meses por ligações a uma célula comunista da Amadora da qual faziam parte cabos do Grupo de Esquadrilhas de Aviação República: teria sido o organizador e controleiro da Célula 33 das Juventudes Comunistas, da qual faziam parte Domingos Pedroso, Elias Gomes, Ferrer Pedroso e Sérgio Simões da Costa, este último eletricista das Esquadrilha de Aviação República (Processo 560). Quando preso, integraria a Célula 32 o Comité de Zona 3, sendo o encarregado da cobrança do Socorro Vermelho Internacional, relacionando-se, então, com os primos Álvaro Duque da Fonseca e Carolina Loff da Fonseca (a camarada "Vera"), detida no mesmo dia. Na atividade partidária, também colaborou com Armando Ducla Soares, Pedro Batista da Rocha, do Secretariado Político, e Silvino Leitão Fernandes Costa (Processo 568). Levado, em 08/10/1932, da 32ª Esquadra para o Hospital de  Santo António dos Capuchos, "para tratamento", "devido à doença do epigrafado", de onde se evadiu, com a colaboração da mãe, em 16 ou 17/11/1932. Preso na fronteira de Vilar Formoso, quando tentava fugir para Espanha, em 30/11/1932 (Processo 595). Enviado, em 06/05/1933, para a enfermaria da Cadeia do Limoeiro; em 31/05/1933, a Direção das Cadeias Civis, por indicação médica, aconselhou a sua entrada num Sanatório ou Hospital especializado por "se encontrar atacado de tuberculose pulmonar". O TME, de 02/06/1933, ordenou a sua libertação a fim de entrar, imediatamente, na Estância Climatérica do Caramulo, o que sucedeu em 05/6/1933. Julgado pelo TME em 16/12/1933, foi considerado abrangido pela amnistia de 05/12/1932. Preso em 13/05/1934, em Forcalhos, junto à fronteira com Espanha, por receber de Madrid correspondência via Manuel Gonzalez Martin: através dela, Francisco Paula de Oliveira procurava que Cassiano Diogo regressasse à atividade política em Lisboa, em virtude das recentes prisões de jovens comunistas, passando a fazer a ligação entre aquele e os membros do Comité Central Executivo das Juventudes (Processo 1147). Libertado em 30/05/1935. Exilou-se, então, em Espanha, onde chegou a estar ligado ao PCE e a participar na Guerra Civil, apesar da sua doença, na sequência da revolta dos militares franquistas contra o governo legítimo da República. O seu nome aparece no volume 1 da Biografia de Álvaro Cunhal, da autoria de José Pacheco Pereira, como Cassiano Diogo das Neves, fuzilado em Espanha em finais de 1937.]
[alterado em 25/03/2022]
[alterado em 06/09/2022]

01096. Carolina Loff da Fonseca [1932, 1940]

[Carolina Loff da Fonseca || F. 01706/1940 || ANTT || RGP/12045 || PT-TT-PIDE-E-010-63-12405]

[Cidade da Praia (Ilha de Santiago) - Cabo Verde, 12/11/1911, s/profissão / doméstica. Filiação: Ida Loff Fonseca. Solteira. Residência: Rua Pinheiro Chagas, 47 - Lisboa. O percurso político de Carolina Loff é um dos mais polémicos e intrigantes, já que destacada militante e dirigente comunista na década de 30, com passagens pela União Soviética e missões da Internacional Comunista na Espanha Republicana durante a Guerra Civil, envolveu-se emocionalmente, depois de ter sido presa pela segunda vez, em 1940, com o inspetor da PVDE responsável pelo seu processo. Apesar de expulsa do Partido Comunista, está por apurar o seu real envolvimento com os serviços de espionagem soviética, já que se revelara um quadro ao serviço da Internacional Comunista com tarefas atribuídas em Espanha e Portugal e que continuou, depois disso, a entrar e sair da URSS com enorme facilidade. Filha de Ida Loff Fonseca, "jovem destemida e moderna, de uma família abastada" (Anabela Natário, "Carolina Loff", Portuguesas com História - Século XX, Temas e Debates, 2008) nasceu em Cabo Verde (Praia, Santiago) em 12/11/1911 e faleceu em 06/03/1999, com 87 anos. O pai, Carlos Eugénio de Vasconcelos (1883-1928), seria natural da Madeira e os bisavós, "um ucraniano de apelido Loff e a belga Lídia Léger", emigraram para Cabo Verde em meados do século XIX, dando "início a um futuro próspero" (A. Natário). Aos 15 anos partiu, com a mãe, para Lisboa e estudou no Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho, a funcionar no Largo do Carmo, onde concluiu o Curso Geral dos Liceus. Prima dos ativistas comunistas Álvaro (1910-1975) e Dalila Duque da Fonseca (15/01/1911-1992), era, tal como aqueles, originária de Cabo Verde e dirigente da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas nos primórdios da década de 30, depois de ter aderido por intermédio de José Grácio Ribeiro (n. 1910), estudante de Direito mais tarde afastado e que enfileirou na União Nacional. Integrou a primeira célula feminina comunista, organizada por Wilma Freund, cedo se notabilizou pela dedicada militância e enquanto autora de parte dos artigos da imprensa da FJCP. Presa, pela primeira vez, em 06/09/1932, quando estava grávida do seu companheiro Carlos Matoso e andava a colar propaganda, sendo levada, incomunicável, para uma esquadraPassou pela Cadeia das Mónicas e, embora detida e sob vigilância da Polícia e Vigilância e Defesa do Estado (PVDE), o parto ocorreu na Maternidade Bensaúde, onde a filha Helena nasceu em 1933. O companheiro, Carlos Luís Correia Matoso (n. 15/07/1908-03/03/1959), dirigente do Partido Comunista, não terá chegado a conhecer a filha Helena: julgado à revelia em 20/10/1934 e condenado a 10 anos de degredo, foi preso em 11/05/1938, passou sucessivamente por diversas esquadras, Cadeia do Aljube, Forte de Caxias e de Peniche, até ser enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde entrou em 20/06/1939. Solto em 20/12/1945, regressou em 10/01/1946 e emigrou para o Brasil, onde se suicidou “passado pouco tempo, em condições misteriosas” (Edmundo PedroMemórias. Um Combate pela Liberdade, I Volume, Âncora Editores, 2007). Em Março de 1935, Carolina Loff partiu para a União Soviética com a bebé, a convite de Francisco Paula de Oliveira, frequentou a Escola Leninista, da Internacional Comunista, com o pseudónimo Ana Marta, e quando Bento Gonçalves e Álvaro Cunhal foram a Moscovo, nesse mesmo ano, reencontraram-na a trabalhar “como intérprete e tradutora nas edições em língua estrangeira” (José Pacheco PereiraÁlvaro Cunhal – Uma Biografia Política, Vol. 1 – “Daniel”, O Jovem Revolucionário (1913-1941), Lisboa, Temas e Debates, 1999), destinadas, sobretudo, ao Brasil. Aí, lidou com alguns dos nomes importantes da Internacional Comunista que, em 1937, a enviaram para Espanha com a finalidade de montar uma emissora clandestina do Comintern para Portugal (mais conhecida por rádio do PCP) que passasse por funcionar em Lisboa e denunciasse o apoio do governo aos revoltosos espanhóis, o que sucedeu: a emissão “era feita a partir do próprio edifício da sede do PCE em Valência e transmitida pela Telefónica para Madrid”, fazendo quase tudo sozinha – “era a locutora e redigia grande parte do material que era transmitido”. Além disso, “lidava diretamente com os mais altos responsáveis do PCE” e intervém "junto da comunidade portuguesa exilada em Espanha, informando sobre o seu comportamento político quer o PCE, quer os serviços de informação associados ao secretariado de Togliatti /«Alfredo»” (JPP, vol. 1), usando um passaporte belga em nome de Berthe Mouchet. Nesse ano de 1937, o seu nome surgiu como possibilidade para substituir Armando Magalhães em Paris, o quadro mais influente naquela cidade e em rota de colisão com as orientações de Francisco  Paula de Oliveira, então o principal dirigente do PCP, numa tentativa de solucionar conflitos internos que se arrastavam sem solução a contento deste. Em 1938, fez parte da direção da União Antifascista dos Portugueses Resistentes em Espanha, sediada em Madrid, trabalhou no Comité da Frente Popular em Barcelona e manteve-se naquele país até ao fim da Guerra Civil, tendo sido presa e torturada pelos franquistas, afirmando-se então como jornalista belga. As autoridades espanholas entregaram-na na fronteira portuguesa em Outubro de 1939, “acompanhada por um personagem misterioso [Nikolas Gargoff], suposto delegado da IC, e que vai ter um papel igualmente obscuro no processo da «reorganização»” (JPP, vol. 1) do Partido Comunista Português em 1940-1941.Ao não ser, estranhamente, detida, regressou à luta política dentro do núcleo dirigente daquele. Até ser presa em 30/05/1940, viveu clandestina, usou o nome de Maria Luísa, manteve estreita colaboração com Álvaro Cunhal no Secretariado, contribuiu para a redacão de documentos políticos e de textos sobre a política internacional do movimento comunista, bem como interveio na sua distribuição. Depois de levada para uma esquadra, incomunicável, foi transferida, em 06/07/1940, para a Cadeia das Mónicas. Julgada pelo TME em 16/11/1940 e condenada na pena de prisão de cinco meses, foi libertada nesse mesmo dia. Devido ao comportamento na prisão, chegando a ser acareada com Álvaro Cunhal e Francisco Miguel, e ao facto de se ter ligado ao subinspetor da PIDE Júlio de Almeida, com quem viveu cerca de dez anos e que, depois, partiu para Angola, viria a ser expulsa do Partido na década de 40, estando por apurar o real envolvimento com os serviços de espionagem soviética, já que se revelara um quadro ao serviço da Internacional Comunista com tarefas atribuídas em Espanha e Portugal e que continuou sempre a entrar e sair da URSS com enorme facilidade. O seu nome, a par do de Helena [Vieira] Faria, constou como exemplo nefasto nas primeiras edições do importante manual político de conduta em caso de detenção pela polícia política Se Fores Preso, Camarada..., bem como no Lutemos contra os espiões e provocadores – Breve história de alguns casos de provocação no PCP,  da autoria do Secretariado do CC do PCP e saído em 1952. Usou, ainda, os pseudónimos “Berta”, “Marta da Costa” e “Sylvie”. Edmundo Pedro manteve relações de amizade com Carolina Loff, que lhe apresentou a filha, então já sexagenária e mãe de um casal de gémeos, criada e educada na União Soviética, sendo uma dos muitos estrangeiros, incluindo filhos de portugueses, que passaram pela escola internacional de Ivanovo. O percurso intrigante e enigmático de Carolina Loff saiu reforçado por se ter recusado sempre, apesar da sua longevidade, a esclarecer episódios dessa vivência, originando, entre outras, as obra de ficção O Enigma de Zulmira, de Vasco Graça Moura, e Cartas Vermelhas, de Ana Cristina SilvaSegundo Anabela Natário, "Carolina afastou-se da política activa, mas nunca deixou de contribuir para as causas antifascistas, inclusive para o Partido Comunista". Feminae - Dicionário Contemporâneo (Lisboa, CIG, 2013) incluiu uma nota biográfica de Carolina Loff da Fonseca. 

[João Esteves]

Sem comentários: