[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

domingo, 2 de janeiro de 2022

[2666.] PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO [CXXXIII] || 1926 - 1933

 * PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || CXXXIII *

00999Mário Diamantino Azevedo Ferreira ou Mário Ferreira [1932]

[Porto, 14/02/1901, eletricista na Companhia Carris do Porto - Massarelos. Filiação: Maria da Assunção Ferreira, João Azevedo Ferreira. Casado. Residência: Rua das Campinas, 604 - Porto. Anarquista do Porto, integrou, desde o início da década de 20, várias agremiações, editou e escreveu em publicações periódicas, pertenceu às Juventudes Sindicalistas e desenvolveu atividade sindical, nomeadamente do Sindicato dos Metalúrgicos do Porto, do qual foi Secretário. Vigiado em 1930, por ser "aderente da Federação Anarquista do Norte", é referido, em 23/04/1930, como sendo o "Delegado da Carris do Porto ao Congresso Nacional de Trabalhadores de Transportes no Norte". Preso no Porto em 19/07/1932, "por ser um elemento avançado", já que era o tesoureiro da Federação Anarquista da Região Norte e relacionava-se com os anarquistas António Inácio Martins e António Carlos de Linhares de Campos, constituindo os três "o Comité de Propaganda Anarquista do Norte", reunindo-se no Sindicato da Construção Civil. Enviado para Lisboa em 31/07/1932, recolheu, incomunicável, a uma esquadra e, em 11/08/1932, foi determinado que lhe fosse fixada residência obrigatória em Cabo Verde, ficando a aguardar a deportação na Penitenciária de Lisboa (Processo 99/Porto, Processo 480). Por despacho do Ministro do Interior, de 20/10/1932, a deportação foi substituída por pena de prisão, dada como expiada, sendo libertado em 27/10/1932. Eleito, em assembleia geral de  30/01/1943, Presidente da Direção substituto do Sindicato Nacional dos Eletricistas - Secção Regional do Norte, não foi empossado por o seu nome não ter sido confirmado pelo Subsecretário de Estado das Corporações e Previdência Social. Faleceu em 24/09/1945.]

01000. António Gomes [1932]

[Turcifal - Torres Vedras, c. 1899, camponês. Filiação: Maria da Nazaré, António Gomes. Casado. Residência: Cova da Piedade. Preso pelo Administrador do Concelho de Almada em 30/07/1932, "como suspeito de fazer parte de um grupo de indivíduos com ideias bolchevistas, entre eles Manuel Paiva" (v. Processo 475). Levado, incomunicável, para uma esquadra; libertado em 22/08/1932.]

01001. Manuel Quintas Aleixo ou Manuel Ferreira [1932]

[Pontevedra, c. 1891, cortador. Filiação: Generosa Aleixo, Camilo Quintas. Solteiro. Calçada do Desterro, 10 - Lisboa. Preso em 30/07/1932, "por suspeita de estar em contacto com elementos comunistas espanhóis, servindo de agente de ligação entre estes e os portugueses" (v. Processo 463); libertado do Aljube em 05/08/1932.]   

01002. Silvestre de Melo e Albuquerque [1931, 1932]

[Lisboa, c. 1897, vendedor ambulante. Filiação: Maria das Dores Melo, Joaquim Melo e Albuquerque. Casado. Residência: Estrada da Portela - Barraca 24. Preso em 26/08/1931, por ter tomado parte no movimento revolucionário desse dia, levado para a Cadeia Nacional e deportado para Timor em 02/09/1931 (Processo 326). Seguiu, em 16/02/1932, de Timor para Macau, a fim de regressar a Lisboa por indicação da Junta de Saúde, e apresentou-se, em 14/06/1932, no Ministério do Interior. Detido em final de Julho de 1932 para ser internado, sob prisão, no Hospital Militar Principal, juntamente com Alberto Tavares de MagalhãesLuís Humberto da Guerra Quaresma, também ex-deportados políticos regressados de Timor, por ordem do Ministério do Interior datada de 20 daquele mês. Por não haver vaga no HMP, terá sido libertado em 04/08/1932, declarou ir residir para a Azinhaga do Cavaco, 45, ao pote de Água.]

01003. António Lino Franco [1932]  

[Em 01/08/1932, teve alta do Hospital Militar Principal e recolheu ao Aljube; libertado do Aljube, provavelmente, em 19/08/1932. Pode ser o figueirense António Lino Franco (1887-1949), farmacêutico republicano que colaborou em vários periódicos locais, foi orador nas celebrações da implantação da República em 06/10/1910 e nomeado Administrador substituto do Concelho por despacho de 08/03/1913, tendo, ainda, estado ligado ao Ginásio Clube Figueirense e sido, em Dezembro de 1925, presidente da Federação Portuguesa do Remo. Frequentou, na primeira década do século XX, a Universidade de Coimbra e era sócio da Renascença Portuguesa.]
[alterado em 10/02/2022]

01004. Leonido ou Leonildo da Assunção Felizardo [1931, 1932]

[Leonildo da Assunção Felizardo || F. 08/08/1932 || ANTT || PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903]

[Belém - Lisboa, 27/03/1910, eletricista - Lisboa. Filiação: Leonilde Felizardo, Alfredo Felizardo. Solteiro. Residência: rua Morais Soares, 76 - Lisboa. Preso pela primeira vez em 1931, por denúncia feita por carta anónima enviada à Polícia Política, esteve preso cerca de 16 anos consecutivos, apesar de ter sido condenado, depois de recurso, a 4 anos de degredo. Permaneceu dois anos em Angra do Heroísmo, cerca de oito no Campo de Concentração do Tarrafal e três nas Cadeias Civis Centrais de Lisboa. Preso em 12/06/1931, por ter sido denunciado e acusado, mediante carta anónima, de estar envolvido com bombistas presos; libertado em 13/06/1931 (Processo 4999-C). No ano seguinte, quando era o filiado 147 da Célula N.º 8 do Comité de Zona N.º 4 do Partido Comunista, esteve envolvido nos preparativos da jornada de luta a ocorrer no dia 29 de Fevereiro e que implicava o recurso a engenhos explosivos, a qual acabou por não se realizar devido à prisão dalguns dos implicados. Colaborou, no âmbito daquela ação, com Álvaro Augusto Ferreira, Francisco de Campos, José Duarte (1.º), Manuel Alpedrinha e Manuel Francisco da Silva ("O Manuel Pedreiro" que faleceu em 24 de Agosto de 1941, quando detido na Fortaleza de Angra do Heroísmo). Falhada aquela jornada, terá sido abordado, em Março de 1932, para transportar Manuel Alpedrinha até à fronteira, a fim deste participar no IV Congresso do Partido Comunista Espanhol que se realizava em Sevilha. Também foi contactado por Francisco Campos para a agitação prevista para o 1.º de Maio de 1932, não tendo anuído, segundo as suas declarações, às duas solicitações. No entanto, o facto de manter ligações com Manuel Alpedrinha e, entretanto, estar como aluno de uma Escola Comercial e Industrial foi o suficiente para ser considerado um "elemento perigoso" (Processos 452 e 465). Preso em 04/08/1932, foi julgado pelo Tribunal Militar Territorial em 18/07/1934 e condenado a 10 anos de degredo (Processo 16/933 - TME). Interpôs recurso e o TME, de 25 de Julho, reduziu a pena para 4 anos de degredo, ficando, em seguida, à disposição do Governo. 

[Leonido da Assunção Felizardo || ANTT || RGP/134 || PT-TT-PIDE-E-010-1-134]

Embarcou para a Fortaleza de São João Baptista, em Angra do Heroísmo, em 23/09/1934 e, dois anos depois, em 23/10/1936 de Outubro, seguiu para o Campo de Concentração do Tarrafal, integrando o grupo de presos que o foi inaugurar. No Tarrafal, de onde só regressou em 20/02/1945, assistiu à morte de Mário Castelhano e integrou a Organização Comunista Prisional do Tarrafal (OCPT): na sequência de divergências no seu seio, formou, com Álvaro Duque da Fonseca, Boaventura Gonçalves, Fernando Macedo, Fernando Quirino, Jaime Tiago, José de Sousa e Virgílio de Sousa, o Grupo dos Comunistas Afastados, sendo todos expulsos do Partido Comunista em 1943 (José Pacheco PereiraÁlvaro Cunhal - Uma Biografia Política, Vol. I, 1999). Apesar de já há muito ter cumprido a pena a que fora condenado, não saiu em liberdade aquando do regresso do Tarrafal. Levado para o Aljube em 20/02/1945, foi entregue às Cadeias Civis Centrais de Lisboa em 03/03/1945 e libertado em 21/06/1948, ao fim de quase dezasseis anos de cativeiro. O seu nome próprio tanto aparece grafado como Leonido ou Leonildo.]

[João Esteves]

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