[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

sábado, 23 de abril de 2022

[2800.] RESISTÊNCIA NO FEMININO || FAMILIARES DOS OPOSITORES À DITADURA DO ESTADO NOVO

 RESISTÊNCIA NO FEMININO *

 FAMILIARES DOS OPOSITORES À DITADURA DO ESTADO NOVO

ORADORES

Isabel Soares || Conceição Matos || Levy Baptista || Marianela Valverde

Fundação Mário Soares e Maria Barroso || 21 de Abril de 2022 || 18 horas


EVOCAR A RESISTÊNCIA NO FEMININO NESTE 25 DE ABRIL!

Não há resistência sem mulheres, sem as mulheres. Muito menos quando a luta contra a ditadura fascizante se prolongou por 48 anos.

Na legalidade.

Na luta semilegal.

Na clandestinidade.

Em organizações unitárias, oposicionistas e femininas.

Nas lutas de trabalhadores, de operários e estudantis.

Nas sociabilidades insuspeitas.

As mulheres estiveram, sempre, presentes!

No dia 21 de Abril aconteceu, na Fundação Mário Soares e Maria Barroso, a primeira sessão do projeto Resistência no Feminino, coordenado por Fernanda Rollo.

Dedicada aos Familiares dos Opositores à Ditadura do Estado Novo, preservou-se, em momentos de enorme “intensidade dramática”, proporcionados por quem viveu e sofreu situações únicas prolongadas num tempo sem final com data marcada, a Memória, Memórias de quem soube resistir ou teve de lidar com situações não escolhidas ditadas pelas circunstâncias.

No âmbito do trabalho de investigação de Marinela Valverde, foi um privilégio atentar, num primeiro momento, nas palavras de Isabel Soares sobre a mãe, Maria Barroso; escutar, sempre, Conceição Matos, conhecedora de tantos e tantos episódios que necessitam de ser preservados; ouvir Levy Baptista falar da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos e, como reflexão, a banalização da atribuição da Ordem da Liberdade a quem nunca lutou por esta.

Num segundo momento, igualmente marcado pela emoção de episódios dolorosos, atenuados pelo orgulho de quem esteve do lado certo da História, outros fizeram História ao exporem sentimentos e desocultarem vivências únicas, pessoais e familiares.

Humberto Madeira lembrou o percurso de Manuel Madeira, o pai, e o que foi pressentido do que viveu, sendo que esta memória pode ser traiçoeira.

Carlos José Vitoriano, cujo pai, José Vitoriano, esteve mais de 16 anos preso, falou da cumplicidade e confiança que se foi  estabelecendo entre ambos.

Adelino Pereira da Silva evocou o pai, um mineiro que teve de sair do seu Alentejo para não ser preso, envolvido como estava nas lutas dos operários, e lembrou o percurso de Alice Capela, sua companheira, presa com o filho pequeno. Também ela era filha de pais que conheceram por anos as prisões políticas.

José e Mário Rui Sena Lopes evocaram o passado militante do pai, Mário Victor, e da mãe, Alice, e como foram marcados pelas sucessivas detenções do primeiro e pela clandestinidade da segunda.

Todos ganharam outras famílias e conheceram a solidariedade de anónimos e de outros familiares, transformados, não raras vezes, involuntariamente, em "pais" e "mães".

Todos visitaram os seus entes queridos nas diferentes prisões, ficando marcas para todo o sempre.

Para muitos, o tempo não suavizou a dureza desse vivido.

E quão importante foi a evocação de Albina Fernandes, tantos anos presa e com um desfecho trágico; de Belmira Cruz, cuja casa acolheu ex-presas políticas e seus filhos; de Flora Magro e de Maria da Conceição Rodrigues Pato, três  décadas a percorrer as masmorras do fascismo para visitar filhos, genros ou netos; de Cecília Simões Areosa Feio, de Maria Eugénia Varela Gomes e de Sophia de Mello Breyner, enquanto ativistas da CNSPP e que, no dia 25 de Abril, tiveram como principal preocupação salvaguardar o futuro dos que estavam presos em Caxias e Peniche; ou da coragem de manifestações despoletadas por mães, companheiras e filhos em defesa dos seus presos. Nos anos cinquenta, em Peniche; em 1962, em Caxias; ou no Barreiro, em Maio de 1970, quando mais de sete mil pessoas protestaram contra a prisão de antifascistas locais.

Outros depoimentos aconteceram, sem que tivesse sido possível escutá-los.

Projeto de inegável relevância, deseja-se a sua continuidade!

[João Esteves]

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