* PRESOS POR MOTIVOS POLÍTICOS: DA DITADURA MILITAR AO INÍCIO DO ESTADO NOVO || CCCXCVII *
02193. Artur de Oliveira Santos [1928, 1940]
[Artur de Oliveira Santos || F. 04/09/1928 || PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903 || "Imagem cedida pelo ANTT"]
[Artur de Oliveira Santos.
Republicano prestigiado em Ourém, Artur de Oliveira Santos testemunhou, em Lisboa, a Revolução de 5 de Outubro de 1910. Foi Administrador do Concelho de Vila Nova de Ourém quando do fenómeno de Fátima e combateu a Ditadura Militar desde o seu início. Participou na Revolta de 20 de Julho de 1928, esteve preso e exilou-se em Espanha em 1931, onde interveio na Guerra Civil, aí permanecendo até finais de 1939.
Vila Nova de Ourém, 22/01/1884. Operário funileiro / escriturário. Filiação: Maria da Conceição Pereira, Acácio de Oliveira. Casado. Residência: Rua António Pedro, 74 - Lisboa. Operário funileiro, abriu, no início do século XX, uma oficina de latoaria denominada "A Social". Foi, ainda, escritor e jornalista. Fundou os periódicos "Voz de Ourém" e "Povo de Ourém" e colaborou nos jornais "O Baluarte", "A Capital", "O Debate" (Santarém), "O Mundo", "O País", "O Povo", "A Razão", "O Rebate", "A República" (dirigido por Artur Leitão), "A República Portuguesa", "A Resistência" (Coimbra), "O Século", "A Vanguarda" e "A Voz da Justiça" (Figueira da Foz). Iniciado na Maçonaria em 1907, esteve associado à criação, em 03/11/1907, do Centro Republicano Democrático e, no mesmo ano, integrou, como Vogal, a Comissão Municipal de Ourém do Partido Republicano Português. Fundou, em 1909, o Centro Republicano Dr. António José de Almeida, o qual se manteve até 1913. Em 2 de Outubro de 1910, deslocou-se a Lisboa para presenciar a revolução republicana, sendo uma das suas testemunhas oculares. Aí permaneceu até ao dia 7, regressando a Ourém para içar, com Álvaro Mendes, a bandeira republicana no castelo da velha Ourém [José Poças, Artur de Oliveira Santos e a implantação da República]. Exerceu, entre 1910 e 1913, cargos na vereação da Câmara Municipal de Vila Nova de Ourém: Vogal (1910); Presidente, Vice-Presidente e Vereador (1911); e Vereador (1913). Na sequência da revolução de 14 de Maio de 1915, foi nomeado, interinamente, Administrador daquele concelho, cargo que exerceu até 08/12/1917. Coube-lhe, então, a decisão de inquirir as crianças que diziam ter visto e falado com a Virgem Maria. Voltou a ser seu Administrador, sendo demitido do cargo após o 28 de Maio de 1926. Com o advento da Ditadura Militar, foi demitido, por motivos políticos, das funções que exercia no Ministério das Colónias e, em 01/09/1928, "foi preso por estar implicado nos acontecimentos revolucionários de 20 de Julho". Libertado em 28/05/1929, foi-lhe imposta a proibição de regressar a Santarém. Vigiado pela Polícia de Informações de Santarém, foi assinalada a sua presença em Chão de Maçãs em 07/05/1930. No ano seguinte, na noite de 1 para 2 de Maio, atribuiu-se a Artur de Oliveira Santos, em colaboração com João Violante, Manuel Rodrigues Antunes e Sebastião Anastácio Júnior, a responsabilidade pelo levantamento das linhas do caminho-de-ferro e corte das comunicações telefónicas e telegráficas junto do Túnel de Albergaria. Nesse mesmo ano de 1931, exilou-se em Espanha e manteve contactos com os grupos oposicionistas à Ditadura, encontrando-se documentação no Arquivo Casa Comum, da Fundação Mário Soares. É possível ler as missivas para Bernardino Machado no Blogue do Dr. Manuel Sá Marques.
[Artur de Oliveira Santos || Fotografia retirada do Blogue Bernardino Machado]
Com a Guerra Civil, trabalhou como maqueiro e prestou serviço em diversos hospitais. Expulso de Espanha, foi entregue no Posto de Elvas em 05/01/1940 e levado para a Cadeia Civil. Transferido para a Diretoria da PVDE no dia seguinte, foi levado para o Aljube e, em 13/02/1940, seguiu para Caxias, de onde foi libertado em 16/03/1940. Utilizou o pseudónimo "João de Ourém" e casou com Idalina de Oliveira Santos, de quem teve vários filhos.
Faleceu em 27/06/1955, em Lisboa, com 71 anos de idade.
Tomás da Fonseca dedicou-lhe o seu livro Fátima (cartas ao Cardeal Patriarca de Lisboa): "À memória do íntegro cidadão Artur de Oliveira Santos – que, no exercício das suas funções de Administrador do Concelho de Vila Nova de Ourém, muito se esforçou para evitar o embuste de Fátima – principal origem do descrédito e falência moral da Igreja, que perfilhou e explora com a repulsa dos cidadãos verdadeiros" [Rio de Janeiro, Editorial Germinal, 1955].
Sérgio Ribeiro, em declarações ao Diário de Notícias de 5 de Maio de 2017, considera Artur Oliveira dos Santos "inesquecível" e "um amigo excepcional": "Era um homem de raiz operária. Depois era um homem culto, da propaganda republicana. E era um ativista político".
[João Esteves]
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