«Feminismo
Porque não se haveria de dar às mulheres uma instrução geral, exactamente igual à que recebem os homens? // A mulher, como membro da humanidade, tem o direito de adquirir os conhecimentos científicos que a habilitem a cumprir os seus deveres humanos. Para que servem essas distinções vãs e arbitrárias, entre a instrução que é dada aos homens e a que tão parcamente é reservada às mulheres. Pode também ser aplicado à mulher o axioma de Terêncio: nada do que é humano pode, em virtude de velhos preconceitos, ser-lhe estranho. Mas ao lado da instrução geral, será necessário criar uma educação feminina especial com um duplo objectivo: a aprendizagem profissional em vista do ganha-pão e a aprendizagem caseira em vista da família. Trata-se de desenvolver a habilidade, os talentos das nossas filhas para que elas possam seguir uma carreira honrosa e remunerada, visto que milhões de mulheres se vêem obrigadas a trabalhar para viver.
Enfim, devemos pensar em preparar seriamente todas as mulheres para a sua missão familiar, porque nas diferentes classes da sociedade toda a mulher tem as maiores probabilidades de vir a ser esposa e mãe.
Aqui se concentra o problema feminista traduzindo-se na conciliação destes dois princípios: o reconhecimento da liberdade do trabalho para todas as mulheres e o cumprimento dos deveres domésticos que são impostos à maior parte delas.
Certa escola social pretende que, a título de beneficiar o lar doméstico se recuse à mulher o direito ao trabalho. Bonita moral que sob o pretexto de restituir as mulheres à família, poderia atirá-las à miséria e à perdição.
Não o esqueçamos nunca, a vida social e mesmo a natureza criaram uma estratificação de interesses, de necessidades e de funções. Já antes de ser esposa e mãe a mulher é um ser humano com individualidade própria. Como todo o ser físico, ela sente a necessidade da conservação, a primeira e a mais imperiosa das necessidades.
O interesse social exige que a mulher seja educada de modo que possa, pelo seu trabalho, obter os recursos necessários à vida. Na realidade é bem triste para a inteligência humana, que no estado actual da nossa civilização, haja homens que contestem um princípio de uma tão elementar justiça.
O trabalho das mulheres, longe de ser incompatível com os interesses domésticos, concilia-se pelo contrário com eles, porque é para a mulher uma fonte de dignidade, e para todos os lares um elemento de força moral e uma poderosa garantia de segurança.
Além disso, há causas múltiplas, factores de uma inevitável evolução social, que impuseram às mulheres a fatal necessidade do trabalho. O industrialismo com as suas forças motoras, suas máquinas e seus capitais absorvem as indústrias domésticas do passado. Por outro lado a educação dos filhos deixou de ser nas famílias uma ocupação absorvente. Com o alargamento e socialização do serviço de ensino diminuiu a importância e o peso das responsabilidades maternais. Enfim, a estatística prova que nas sociedades condenadas há milhões de mulheres condenadas ao celibato.
Esses milhões de mulheres excluídas da vida conjugal e privadas para todo o sempre do que se costuma chamar o apoio do homem, devem ter o direito de, pelo seu trabalho, prover às necessidades da vida.
Mostra-nos a estatística, com o rigor dos algarismos que nos países civilizados a parte da actividade feminina na produção representa um terço da mão de obra total. Donde se vê a utilidade de tornar a mulher independente e apta a obter pelo trabalho os meios de subsistência. O que não obsta a que todas as mulheres devam ser iniciadas na ciência do governo doméstico. Enquanto cursam a escola, nenhuma mulher pode prever se o futuro lhe reserva os encargos do lar ou se pelo contrário lhe virá a impor os deveres do trabalho fora de casa.»
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