* CÂNDIDO AUGUSTO NAZARÉ *
[1867 - 1948]
PARTIDO REPUBLICANO DE COIMBRA || COMISSÃO PAROQUIAL DE SANTA CRUZ || 1910
[1910]
Cândido Augusto Nazaré [Nazareth] foi um dos muitos cidadãos que, em 6 de Outubro de 1910, assinou o Auto de Proclamação da República em Coimbra elaborado na sede do Município.
O Blogue Bibliófilos Portugueses reproduz o seguinte perfil de Cândido Augusto Nazaré da autoria do Dr. Octaviano Sá e que, com a devida vénia, aqui reproduzimos:
O Blogue Bibliófilos Portugueses reproduz o seguinte perfil de Cândido Augusto Nazaré da autoria do Dr. Octaviano Sá e que, com a devida vénia, aqui reproduzimos:
«Cândido Augusto Nazaré, falecido em Coimbra no dia 28 de Fevereiro de 1948, realizou a completa personalidade de bibliófilo.Desde o profundo amor aos livros, inteligente conhecimento das suas páginas, apreço do mérito dos autores, valor das espécies no mercado, até à figura singular no aspecto físico e no trajar, tudo nele denunciava a perfeita e característica individualidade do amador de velhos e novos livros. Toda a sua vida, fora da família, andou à volta de dois grandes enlevos espirituais - os livros e as arreigadas convicções políticas.Cândido Nazaré, como era geralmente referenciado, alcançou autoridade em assuntos bibliográficos. Conseguiu-a, à própria custa de um trabalho de largos anos, sempre carreando exemplares para a sua famosa biblioteca. Viveu absorvido das muitas obras que continuamente colocava nas estantes da sua famosa livraria, naquela modesta casa, à rua Direita, da cidade de Coimbra.Convivendo com os mais ilustres autores do nosso país, por si e pela sua situação, durante largos anos, como chefe das oficinas da Imprensa da Universidade de Coimbra, Cândido Nazaré, com tal aproximação, não só procurava fortalecer os seus conhecimentos, mas também prestar a tantos, valioso auxílio, e até, por vezes, o informador a merecer justificada citação quer no texto de obras, quer a indicação, em notas, do seu nome. Dessa aproximação deixa largo testemunho em admiráveis autógrafos,Cândido Nazaré, poderá dizer-se, nasceu com marcada vocação para assuntos literários. Escolhendo a profissão de tipógrafo, ainda em princípios da sua carreira, destacava-se no muito interesse pela arte que abraçara, desejando elevá-la e dignificá-la com a cultura procurada.. Alcançando, por direito próprio, o lugar de mestre da Escola Tipográfica na Imprensa da Universidade de Coimbra, aos seus discípulos ministrou, com especial competência, o ensino profissional bastante, ao mesmo tempo que diligenciava interessá-los pela cultura literária.Foi no tempo da sua direcção técnica que na oficina preparatória de compositores dessa imprensa, saíram, compostas e impressas como exercícios, pequenas obras e, entre elas, os discursos de Guerra Junqueiro, na Câmara dos Deputados, que pelo reduzido da tiragem, e fora do mercado, são verdadeiras raridades bibliográficas. Saído da direcção dessa escola para a das oficinas gerais, a acção de Cândido Nazaré manifestou-se por forma a ficar ligado ao mérito de algumas obras da Imprensa da Universidade. Ao lado do profissional distintíssimo, vivia o carinhoso e entusiasta bibliófilo. Esta feição meritória de Cândido Nazaré influiu poderosamente no exercício das suas funções técnicas.Foi o melhor, o mais dedicado colaborador dos administradores desse departamento do Estado. Com o Dr. Joaquim Martins de Carvalho, 'Quim Martins', arqueólogo, crítico de arte, e jornalista, tornou-se o auxiliar precioso da erudita obra de investigações, principalmente realizada por aquele e vinda a público por essa Imprensa. Falecido o seu chefe e amigo, Cândido Nazaré, com superior critério, organiza a publicação de vários volumes contendo o que o Dr. Teixeira de Carvalho deixara disperso em revistas e jornais. Essa tão simpática iniciativa revela inteiramente a sua grandeza de espírito e cultura.O professor Dr. Joaquim de Carvalho, na direcção da Imprensa da Universidade vai encontrar no seu chefe de oficinas, o realizador ideal para a sua notável obra publicitária, das Colecções saídas sob as designações - Scriptores rerum Lusitanarum, Subsídios para a História de Arte, e outras. Cândido Nazaré era o 'anterianista' fervoroso, conhecedor na intimidade da obra do consagrado Poeta, o bibliógrafo apetrechado com os maiores e melhores elementos para a reconstituição de tantos volumes em reedição. A estreita aproximação de ambos - num, o erudito professor literato e filósofo, noutro o distinto profissional e o inteligente bibliógrafo - conduziu a Imprensa da Universidade à efectivação de uma obra cultural que ficará a perdurar.Mas observe-se mais de perto o bibliógrafo que deixa uma biblioteca preciosa, indicada a seguir nas páginas deste, e mais catálogos (Nota: trata-se, como é óbvio, do leilão da Livraria do bibliófilo, organizado por Arnaldo Henriques de Oliveira, a 10 de Março de 1049), de um leilão verdadeiramente rico de espécies livrescas.Cândido Nazaré, está inteiramente na definição do professor Dr. Vitorino Nemésio, na sua apreciada secção no Diário Popular - 'Leitura Semanal' de 21-4-1948 - 'Ele além de ter sido durante anos e anos, o claviculário dos prelos da antiga Real Imprensa, e assim o cérebro dos tratados e dissertações da Alma Mater, era o detentor, por excelência, de um dos maiores saberes bio-bibliográficos do Portugal de oitocentos-novecentos. Porque este bibliófilo e bibliógrafo não era um trapeiro de livros, mas exactamente um coleccionador consciente e entusiasta da produção literária sob o signo da qual o seu espírito desabrochou, e das coisas respeitantes aos homens espirituais que se acostumou a admirar desde moço'. Recorria-se á biblioteca deste bibliófilo e bibliógrafo, tantas vezes aberta a estudiosos, como se procurava, na sua memória felicíssima, a informação de certos factos ligados com a vida literária. Cândido Nazaré era um livro aberto, para todas as consultas a tal respeito. Pode dizer-se que não passou por Coimbra, investigador ou literato, que não se tivesse socorrido das suas magníficas estantes pejadas de livros. E havia razão para isso. Desfolhando-se as páginas dos Catálogos referentes a essa magnífica biblioteca, encontra-se justificação bastante para o interesse dos eruditos ou curiosos de assuntos livrescos.Conheci de perto a autêntica Catedral dos livros de Cândido Nazaré, aquelas estantes por onde as sua mãos marinhavam agilmente em busca de qualquer exemplar, ou tomavam o aspecto de guardião de joia entesoirada, e de cada vez tinha maior surpresa ao soltar-se o volume pretendido. O seu catálogo era verdadeiramente a sua memória, e ao mesmo tempo o seu fiel ficheiro. Admiro, por isso mesmo, o trabalho exaustivo de Arnaldo Henriques de Oliveira, para coleccionar e pôr em ordem essa biblioteca de tantos, soberbos volumes, numerosos e despidos de certas referências, que proficientemente veio completar com as rubricas ou anotações nos respectivos Catálogos.E a dificuldade tornou-se maior se verificarmos que a biblioteca de Cândido Nazaré não é somente a excelente anteriana, largamente tratada em lugar próprio, com todas as espécies, raridades, e curiosidades de apurado bibliógrafo, mas bibliografias inéditas de autores, desde os consagrados, os maiores das letras pátrias, ao literato com um só volume publicado. Na biblioteca de Cândido Augusto Nazaré, encontra-se, ainda, tudo, absolutamente tudo, que possa interessar aos dedicados à vida literária e artística da Lusa-Atenas.É que, como muito bem se escreveu no Diário de Coimbra, de 1-3-1948 - 'Cândido Nazaré era uma figura de Coimbra. Pertencia à cidade pelo nascimento e pelo coração. Pertencia-lhe pelos seus dotes de inteligência, pela nobreza das convicções, pela altivez do carácter' (...)In, 'Primeira parte do// CATÁLOGO// da magnífica e curiosa livraria// que pertenceu ao ilustre bibliófilo conimbricense// CANDIDO AUGUSTO NAZARÉ// organizado por// Arnaldo Henriques de Oliveira// prefaciado pelo ilustre advogado e publicista coimbrão// DR. Octaviano Sá// descrevendo a mais completa colecção da obras //sobre Coimbra, edições de luxo, livros ilustrados, etc., //de quase todos os escritores portugueses dos fins// do século XIX e dos princípios do presente século' , Lisboa, 1949».
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