* JOSÉ FERREIRA DA SILVA *
[29/09/1933 - 15/04/1986]
Este esboço biográfico de José Ferreira da Silva, preso por ter participado, na madrugada de 1 de Janeiro de 1962, no Assalto ao Quartel de Beja, só foi possível a partir do rigoroso livro José António Cabrita A PIDE em Pinhal Novo. Para que a memória não esmoreça [Câmara Municipal de Palmela, 2017], sendo que as informações apresentadas e documentação referida têm por suporte aquela obra.
[José Ferreira da Silva || 13/03/1965 || ANTT || RGP/25059 || in José António Cabrita, A PIDE em Pinhal Novo]
Filho de Inês Soares Ferreira da Silva e de João Ferreira da Silva Júnior, José Ferreira da Silva nasceu na Guiné, em 29 de Setembro de 1933, onde o pai trabalhava como agricultor.
[José António Cabrita || 2017 || Câmara Municipal de Palmela]
A família fixou-se em Pinhal Novo, tendo a mãe trabalhado no consultório do médico Manuel Veríssimo da Silva, também ele preso pela PIDE na sequência dos acontecimentos de 1 de Janeiro de 1952.
Ainda não tinha 15 anos quando foi admitido nas oficinas do Barreiro da CP como aprendiz eventual. Quase a completar os 22 anos, quando cumpria o serviço militar no Batalhão de Sapadores de Caminhos-de-ferro, concluiu o Ensino Primário Elementar (Agosto de 1955).
Regressado à CP, foi despedido em 3 de Junho de 1958, acusado de se ter ausentado sem motivo.
Desempregado, foi aliciado, pelo amigo José Artur dos Santos Cardoso, para participar no assalto ao quartel de Beja no último dia do ano de 1961.
Conheceu, nesse mesmo dia, Manuel Serra, Edmundo Pedro e Gualter Basílio, tendo partido num carro para Beja juntamente com os dois últimos e João Manuel da Silva Martins, primo de José Artur.
Durante o tiroteio ocorrido durante o assalto, fugiu do quartel com outros e encontrou uma furgoneta onde já estavam Amadeu Gonçalves de Almeida Ferrão, António Vieira Franco e outro indivíduo, todos implicados no caso. Sem ninguém que lhes prestasse apoio no Algarve, o grupo dirigiu-se para Beja e, perante o fracasso da acção, todos regressaram a casa, tendo José Ferreira da Silva saído em Setúbal e apanhado o comboio para Pinhal Novo.
[José Ferreira da Silva || 13/03/1965 || ANTT || RGP/25059 || in José António Cabrita, A PIDE em Pinhal Novo]
Preso em 11 de Abril de 1962, metido nos curros do Aljube e interrogado, em 3 de Maio por Álvaro Pereira de Carvalho e Sílvio Mortágua, foi levado para Caxias no dia 4.
[José Ferreira da Silva || 13/03/1965 || ANTT || RGP/25059 || in José António Cabrita, A PIDE em Pinhal Novo]
Em 25 de Maio, foi posto à ordem do Tribunal Militar Territorial de Lisboa, sendo julgado só no ano seguinte, em 29 de Julho.
Casou na prisão de Caxias, em 3 de Dezembro de 1963, com Palmira da Silva Reis Neto, com quem já vivia.
Julgado em 29 de Julho de 1964, tendo por advogado Eduardo Fernandes, foi condenado a dois anos de prisão maior, suspensão de direitos políticos por 15 anos e medida de segurança de liberdade vigiada durante 2 anos. Saiu em liberdade condicional em 12 de Março de 1965, por decisão do 2.º Juízo Criminal de Lisboa A liberdade definitiva só chegaria em 25 de Maio de 1970.
Segundo testemunho de sua mulher a José António Cabrita, «ele não sabia ao que ia» tendo sofrido muito na prisão: «não o deixavam dormir e que o metiam numa sala com água a cair» [p. 115].
Libertado, trabalhou em Torres Vedras, na Fábrica Hipólito e, depois, no Hotel da Ericeira. Após 25 de Abril de 1974, o casal regressou ao Pinhal Novo, trabalhando na Setenave.
Faleceu aos 52 anos, em 15 de Abril de 1986, no Hospital de S. José.
Fonte:
José António Cabrita, A PIDE em Pinhal Novo. Para que a memória não esmoreça, Câmara Municipal de Palmela, 2017, pp. 109-117.
[João Esteves]
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