[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

domingo, 19 de janeiro de 2020

[2258.] ÁLVARO DA COSTA RAMOS [I] || PRESO 4 VEZES - DEPORTADO PARA ANGOLA E MADEIRA

* ÁLVARO DA COSTA RAMOS *
[1895/6 - 1948]

Anarquista, Álvaro da Costa Ramos foi preso por quatro vezes entre Maio de 1927 e Julho de 1934, sendo deportado para Angola e, depois, transferido para a Madeira. 

[Álvaro da Costa Ramos || 1934 || ANTT || Livro de Cadastrados 4 || ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-4-NT-8904_m0008 || "Imagem cedida pelo ANTT"]

Filho de Carlota Enes Costa Ramos e de Adriano Augusto da Conceição Ramos, Álvaro da Costa Ramos terá nascido em 1895 ou 1896, em Lisboa, Freguesia de Santa Catarina.

Viveu com a família na Ilha do Faial, onde o pai era o director da Alfândega. Com o seu falecimento, mãe e filhos regressaram a Lisboa, indo viver para Campo de Ourique, provavelmente para a Rua 4 de Infantaria, 62 -2.° Esquerdo.

Integrou, segundo o filho Moisés Silva Ramos, os Batalhões da República formados em 1919 para combater os monárquicos em Monsanto.

Despenseiro, pertenceu, ainda antes do 28 de Maio de 1926, ao Sindicato do Pessoal de Câmaras da Marinha Mercante. Aquando da revolta de 7 de Fevereiro de 1927, terá participado na tentativa de assalto ao Quartel de Sapadores de Caminhos-de-Ferro, em Campo de Ourique.

Preso, pela primeira vez, em 27 de Maio de 1927, acusado de anarquista e bombista [Processo 3117], foi libertado em 9 de Junho. 

[Álvaro da Costa Ramos || 15/09/1927 || ANTT || Livro de Cadastrados 3 || ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903_m0015 || "Imagem cedida pelo ANTT"] 

Novamente preso em 30 de Agosto do mesmo ano, por estar na posse de três exemplares do jornal A Luta [Processo 3192]. Levado para os calabouços do Governo Civil, integraria o grupo de presos que foram, em 18 de Setembro de 1927, deportados para Angola.

Permaneceu algum tempo em Sá da Bandeira. Por por motivos de saúde, foi-lhe fixada residência na Madeira, juntamente com Arnaldo Simões Januário, de onde fugiu com a ajuda de militantes anarquistas que trabalhavam a bordo dos barcos que aportavam na ilha.

A viver clandestinamente em Lisboa, na zona das Janelas Verdes, Álvaro da Costa Ramos voltaria a ser preso em 6 de Dezembro de 1929, próximo do Teatro Nacional, «por se ter evadido da Madeira, onde se encontrava deportado, e por ter em seu poder documentos que o comprometiam» [Processo 4468]. Levado para o Aljube, seria libertado em 29 de Abril de 1930.

Pertencendo ao Sindicato do Pessoal de Câmaras dos Navios de Longo Curso, esteve envolvido na Greve Geral Revolucionária de 18 de Janeiro de 1934. Responsável pela compra da tipografia e sua instalação na Ramada, por incumbência de Mário Castelhano, coube-lhe a impressão da respectiva propaganda, em colaboração com José Severino de Melo Bandeira.

Fracassada a Greve, transferiu a tipografia da Ramada para a Rua Fidié, onde procedeu à impressão e composição do primeiro número clandestino do jornal A Batalha, em Abril de 1934, com uma tiragem de milhares de exemplares.

Referenciado pela Secção Política e Social da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado em Fevereiro de 1934, acusado de estar envolvido no 18 de Janeiro através de ligações a Custódio da Costa, Manuel Augusto da Costa [faleceu no Tarrafal em 3 de Junho de 1945], Manuel Henriques Rijo e Mário Castelhano, da Confederação Geral do Trabalho, e procurado pela polícia por ser «um dos mais antigos agitadores revolucionários», estando «preso várias vezes e deportado para as Colónias» [Processo 1011], só seria preso em 27 de Julho de 1934. Estava, também, indiciado por ter assistido a reuniões de anarquistas em Almada [Processo 1237].

[Álvaro da Costa Ramos || ANTT || RGP/526 || PT-TT-PIDE-E-010-3-526_m0257]

Levado para o Aljube em 23 de Agosto de 1934 e julgado pelo Tribunal Militar Especial em 23 de Março de 1935, Álvaro da Costa Ramos foi acusado de actividade revolucionária e propaganda subversiva, sendo condenado a 360 dias de prisão correccional e perda de direitos políticos por cinco anos [Processo 218/934].

Libertado em 23 de Julho de 1935, por ter terminado a pena imposta pelo TME.

Expulso da Marinha Mercante, Álvaro da Costa Ramos montou uma pequena oficina, enquanto a mulher abriu um pequeno ateliê de costura.

Integrava, em 1946, o Grupo Anarquista "Os Iconoclastas", de Lisboa, e faleceu em 1948.

Pai do militante libertário Moisés Silva Ramos, falecido em 21 de Outubro de 2000, entrevistado por António Candeias em Abril de 1989, aquando do estudo Educar de Outra Forma - A Escola Oficina N.° 1 de Lisboa, 1905 - 1930 [Volume II - Anexos, Porto, 1992]. Moisés Silva Ramos expôs, então, relevantes informações sobre o pai.

NOTA: Atenção ao uso indevido das imagens sem a devida autorização do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

Fontes:
ANTT, Livro de Cadastrados 3 [Álvaro da Costa Ramos / ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-3-NT-8903].

ANTT, Livro de Cadastrados 4 [Álvaro da Costa Ramos / ca-PT-TT-PVDE-Policias-Anteriores-4-NT-8904].

ANTT, Cadastro Político 1585  [Álvaro da Costa Ramos / PT-TT-PIDE-E-001-CX05_m0783, m0783a, m0783b].

ANTT, Registo Geral de Presos 526 [Álvaro da Costa Ramos / PT-TT-PIDE-E-010-3-526_m0257].

António CandeiasEducar de Outra Forma - A Escola Oficina N.° 1 de Lisboa, 1905 - 1930, Volume II - Anexos, Porto, 1992.

[João Esteves]

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