* POLÉMICA MARIA VELEDA / VIRGÍNIA QUARESMA, A PROPÓSITO DO "JORNAL DA MULHER" *
RÉPLICA DE VIRGÍNIA QUARESMA || 06/08/1906
Virgínia Quaresma replica na Vanguarda ao escrito de Maria Veleda, com o artigo “Ainda as pseudo-feministas”:
«Ainda as pseudo-feministas
Sempre divertida e, sobretudo, comodista, aquela sr.ª D. Maria Veleda!... Só hoje tivemos conhecimento da réplica que nos faz, escrita num maravilhoso esforço de engenho, de aparente tranquilidade, fornecendo-nos, simultaneamente, o veneno e o antídoto e revestindo-se, sempre, ao julgar-nos, daquela mesma “pose” autoritária que a caracteriza nas conspícuas leis que edita sobre literatura e nos nobres princípios com que faz reclamo aos “códigos de civilidade”. // Não nos apanhou, porém, de surpresa esse artigo. Era bem assim que já o esperávamos – sem uma ideia, sem um argumento, sem um vislumbre de discussão!... As pseudo-feministas, graças à audácia com que intrepidamente o seu “leader” nos atacou, começaram, felizmente, a fazer-se conhecer do público inteligente que ainda podia estar deslembrado com os múltiplos e vistosos cambiantes das “bolas de sabão” com que têm intentado seduzi-lo e cegá-lo. // Satisfaz-nos plenamente o artigo da sr.ª D. Maria Veleda e é quase um atestado, em forma, que a nossa “perspicácia infantil” lhe obrigou a passar da sua incapacidade em discutir e argumentar. Notem bem que foi assim, exactamente, que o prevemos quase linha a linha, palavra por palavra... // Conhecemos de há muito os estribilhos e as escassas armas de combate de que dispõe a sr.ª D. Maria Veleda e esse epíteto de “criança” com que me classifica, não nos causa nenhuma estranheza: é sempre o mesmo de que se tem servido para astuciosamente nos vencer e ficar na doce convicção que não é vencida. // Quando nos conceder em devido papel selado, com o respectivo reconhecimento consagrado pelas praxes legislativas, a nossa “maioridade”, teremos então muito que lhe dizer em expressões sinceras, mas que se hão-de sempre ressentir – prevenimo-la já – daquela franqueza rude que hoje nos censura. // Viemos ontem dos bancos das escolas e uma coisa, sobretudo, aprendemos lá, eterna e sagrada: a evangelização da verdade e o amor pela justiça; a não nos disfarçarmos com máscaras hipócritas para a proclamarmos bem e a termos a mão sempre limpa e leal para não necessitar de luva que a esconda. // Sempre divertida, e, sobretudo, comodista a sr.ª D. Maria Veleda!... // Decididamente, as pseudo-feministas são obrigadas a confessar que erraram na confiança cega que, sem dúvida, depositavam no seu “órgão oficioso”... Palavras, só palavras acasteladas à laia de espaventosos fogos de artifício, que só servem para explorar a boa fé dos ingénuos. // Causam-nos pena, muita pena – creiam, porque esta “criança” saiu agora do generoso convívio académico com um coração amigo que as compreende, que as sente, que as lamenta e que só as combate e lhe assiste o direito de as esmagar quando, numa guerra calma na aparência, mas repugnante de pedantismo e insolência no fundo, intentam ferir e amesquinhar o valor de mulheres que são nossas irmãs queridas e carinhosas no estudo, no trabalho, na escravatura e no sofrimento. // A nossa estreia de polemista foi, na verdade, um desastre – e é a sr.ª D. Maria Veleda que o diz e tem muita razão em o dizer. É-se sempre infeliz quando se encontra um adversário fraco que sacrifica a lógica ao artifício da forma e que só lhe chega a temeridade para se afastar, por caminhos sofismados, do campo da discussão. // Sempre divertida e, sobretudo, cómoda aquela sr.ª D. Maria Veleda!... // Virgínia Quaresma.».
[Vanguarda, p. 2, col. 5]
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