[Cipriano Dourado]

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[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

[2483.] POLÉMICA MARIA VELEDA / VIRGÍNIA QUARESMA [IV] || 10/08/1906

 * POLÉMICA MARIA VELEDA / VIRGÍNIA QUARESMA, A PROPÓSITO DO "JORNAL DA MULHER" *

MARIA VELEDA || 10/08/1906

Maria Veleda encerra a polémica com Virgínia Quaresma através de uma “Carta aberta” dirigida ao director da Vanguarda

«Carta aberta

Vejo com desprazer que a ex.ma sr.ª D. Virgínia Quaresma se obstina em hostilizar-me. // Entre outras coisas, diz sua excelência, “que não sei discutir”... É possível. Pelo menos, com a sr.ª D. Virgínia Quaresma não sei fazê-lo, porque acho deprimente, para nós ambas, que nos digladiemos com epítetos injuriosos, como aqueles com que sua excelência me tem brindado, e que a eu entendo não dever responder.

Que sei discutir, demonstrei-o, reptando a sr.ª D. Virgínia Quaresma a provar como e quando tivesse eu agredido a Liga Portuguesa da paz. Mas, a sr.ª D. Virgínia, que me apoda de “comodista” entendeu que era mais “cómodo” para si, injuriar-me e não levantar a luva que lhe lancei.

Lamento que as réplicas de sua excelência, sigam sempre, tão de espaço, os meus artigos modestíssimos. No entanto, se a opinião pública quiser julgar uma causa tão frívola, decerto me não condenará – porque em toda esta deplorável questiúncula nunca desci ao doesto, à insídia nem à calúnia.

Se sua excelência esperava que eu continuasse a discutir o ‘Jornal da Mulher’, enganou-se. Em primeiro lugar – repito o que já afirmei noutro artigo – eu nunca pretendi hostilizar aquela secção do ‘Mundo’ nem a sua directora. Fez umas apreciações, que, parece, foram descabidas. Não mudei de opinião; mas, entendo, que não devo insistir, desde que a minha desaprovação levanta tamanha celeuma e provoca tanta inimizade.

Tudo quanto não é útil é inútil; e tudo quanto é inútil deve banir-se. Assim, prefiro retirar-me da arena vencida, mas não convencida. E – vencida – porque não sei combater com armas desiguais – porque não quero nem sei injuriar.

Posto isto, resta-me agradecer a vossa excelência, ex.mo sr. Director da ‘Vanguarda’, a sua generosidade, mais uma vez evidenciada, consentindo nas colunas do seu apreciável jornal, polémicas estranhas à sublime causa por que vossa excelência tão nobremente se devota. É quase um crime de leso-patriotismo, isto de entreter-se alguém, na imprensa, com discussões estéreis e desvaliosas. Disso me penitencio, pedindo a vossa excelência mil desculpas, com a afirmação do meu perdurável reconhecimento.

Com ilimitada consideração – de v. ex.ª

Maria Veleda.» 

[Vanguarda, 10/08/1906]

[Vanguarda || 10/08/1906]

[João Esteves]

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