[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

[2511.] DEODATO RAMOS [I] || 1909 - 1958

* DEODATO MEDEIROS RAMOS *

[5/12/1909 - 20/07/1958] 

[Deodato Ramos || 05/05/1947 || ANTT || RGP/17565]

Filho de Beatriz Aldina Medeiros Ramos e de António Gonçalves Ramos, Deodato Medeiros Ramos nasceu em 5 de Dezembro de 1909, em Ponta Delgada.

Quando ainda residia em Ponta Delgada, onde era empregado de escritório, integrou o Socorro Vermelho Internacional, tendo sido responsável pela organização de um grupo de contribuintes, recebendo e distribuindo o seu material. 

Daí, transitou para o Partido Comunista, cabendo-lhe criar uma célula e a incumbência de contactar os deportados em outras ilhas, alguns deles filiados, recebendo, para isso, nomes e endereços. Entre esses deportados, encontravam-se Anastácio Ramos, Bento Gonçalves, Domingos Lopes Bibi e Manuel Francisco Roque Júnior. Além de distribuir material da organização, enviava correspondência partidária através de deportados que regressavam ao Continente e cujos barcos atracavam em Ponta Delgada. 

Em simultâneo com as ligações partidárias, relacionou-se com outros deportados políticos, como Álvaro de Castro (filho) e Basílio Lopes Pereira

Participou, em Ponta Delgada, no movimento revolucionário despoletado em Abril de 1931, secundando o da Madeira, encarregando-se do jornal Correio dos Açores. Durante o processo de rendição da ilha de S. Miguel, integrou o grupo de revoltosos civis e militares, quase todos deportados, que se dirigiu para Madeira no vapor Pero de Alenquer, constituído por Álvaro Garrido Castro (segundo-sargento cadete), António Mendes, António Silva Reis, Augusto César Loureiro (capitão), Bartolomeu Severino, Basílio Lopes Pereira, Francisco da Conceição Rodrigues, Francisco Violante, Joaquim Pinheiro Vila, Joaquim Pinto de Lima, José Filipe Piçarra (tenente), Leonel Ferro Alves, Luís Emílio Seca (tenente), Manuel Alegria Vidal e Teotónio Malta Jota (tenente). 

No Funchal, encarregou-se das comunicações telefónicas entre o Quartel-General dos revoltosos e as diferentes posições de combate. 

Após a rendição, escapou à prisão e embarcou, clandestinamente, no vapor alemão Madrid, com destino a Lisboa. Na capital, manteve contactos com Álvaro de Castro, embora este se viesse a exilar em Madrid, e Basílio Lopes Pereira, estando encarregue, quando foi preso, de enviar documentação, para ser divulgada, ao médico Manuel Figueiredo, de Estarreja. 

Manteve a militância comunista, nomeadamente através das ligações a Manuel Francisco Roque Júnior. Passou a trabalhar no Comité Local do SVI, juntamente com António Bandeira Cabrita, Carlos Pereira, César Maurício e Malaquias

Com a prisão e deportação de António Bandeira Cabrita, César Maurício e Malaquias, na sequência do envolvimento na Revolta de 26/08/1931, passou a trabalhar com os arsenalistas Manuel da Costa e um Vítor, distribuindo, por ser desconhecido da polícia já que era novo em Lisboa, os donativos do SVI aos presos que se encontravam no Aljube.

As reuniões do Comité Local eram controladas por Rodrigo Ollero das Neves, do Comité Central Executivo do SVI, estando Deodato Ramos encarregado do controlo dos Comités das Zonas B e C. Era, ainda, secretário da Zona A e assegurava a cobrança entre alguns sindicatos que apoiavam o SVI, tendo um papel de destaque enquanto “contabilista” informal. A partir de certa altura, a sede clandestina do Comité Local do SVI passou a funcionar num quarto alugado por Deodato Ramos no 1.º andar da Rua do Bemformoso - 364. Antes de ser detido, era o responsável pela distribuição de subsídios aos comunistas presos na Penitenciária e que aguardavam a deportação. 

Por convite de Manuel Francisco Roque Júnior, passou a integrar o Comité Regional de Lisboa do Partido Comunista, então em reorganização devido a prisões. 

Preso em 17/09/1932, quando se dirigia para uma reunião daquele Comité, foi-lhe apreendida a quantia de 119$65, do SVI, e considerado «um elemento perigosíssimo, não só pela actividade que desenvolveu na organização do Socorro, como na do Partido, trabalhando nas suas reorganizações, mas ainda pelas suas ligações político-revolucionárias e com elementos fugidos à acção desta polícia.» 

Libertado em 10/12/1932, por ter sido abrangido pela amnistia de 05/12/1932, foi julgado pelo TME em 16/12/1933, confirmando-se que estava abrangido pela amnistia do ano anterior. 

Quando era guarda-livros, foi preso em Mortágua, onde residia, em 02/05/1947, recolheu a Caxias no dia seguinte e foi libertado em 27/05/1947. Esta segunda prisão deveu-se à sua ligação ao MUD e à subscrição de um documento que reivindicava melhores condições de assistência aos presos no Tarrafal [Museu do Aljube Resistência e Liberdade].

Provavelmente, um dos poemas dedicados a Deodato Ramos, assinado por M. Leiria, datado de Novembro de 1932 e oferecido pelas filhas ao Museu do Aljube, será da autoria do escrivão tavirense Manuel Wenceslau Leiria, preso em inícios do mês de Outubro e também levado para a mesma prisão do Aljube.

Faleceu em 20 de Julho de 1958, com apenas 48 anos, informação amavelmente disponibilizada por Maria Rosalina Ramos, sua filha.

[João Esteves]

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