[Cipriano Dourado]

[Cipriano Dourado]
[Plantadora de Arroz, 1954] [Cipriano Dourado (1921-1981)]

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

[2480.] POLÉMICA MARIA VELEDA / VIRGÍNIA QUARESMA [II] || 30/07/1906

 * POLÉMICA MARIA VELEDA / VIRGÍNIA QUARESMA, A PROPÓSITO DO "JORNAL DA MULHER" *

RESPOSTA DE MARIA VELEDA || 30/07/1906

Na sequência da polémica entre Virgínia Quaresma e Maria Veleda, por esta ter tecido comentários à secção “Jornal da Mulher” que não foram do agrado da jornalista, que as considerou ofensivas para aquela secção e respectiva directora, a professora responde no jornal Vanguarda com o texto “Bagatelas...”: 

[NOTA: a colecção da Biblioteca Nacional do jornal Vanguarda não contém a página do texto de Maria Veleda que deu origem às subsequentes reacções]

«Bagatelas...

Naquele estilo conciso e brilhante que a caracteriza, responde a sr.ª D. Virgínia Quaresma ao meu desataviado artigo, sobre o ‘Jornal da Mulher’. // Perfeitamente escrito, como era de esperar, visto como quem o subscreve é uma das primeiras intelectuais portuguesas, uma das primeiras, indubitavelmente, entre as que se têm elevado pelo estudo e pelo trabalho perseverante, - perfeitamente escrito o artigo da sr.ª D. Virgínia Quaresma, ressente-se, contudo, de uma acentuada acrimónia, deveras lamentável, e que prejudica a réplica de sua excelência. // As insinuações pessoais que o esmaltam, se bem que representem estocadas que não me ferem, que não podem ferir-me, de todo o ponto inutilizam o paladinismo da sr.ª D. Virgínia Quaresma, cujo carácter, que julgo conhecer, altivo, digno e honesto, se rebaixou a uma calúnia, imprópria da sua alta craveira de intelectual. // Não consente a minha dignidade que responda a essas insinuações pequeninas, que não são da sr.ª D. Virgínia Quaresma – a escritora – mas de uma criança que vem para a arena, com as mãos cheias de poeira e se entretém a atirá-la aos olhos dos espectadores. // Não respondo a essas bagatelas. Isto são apenas duas palavras de desafronta: nada mais! // Diz a sr.ª D. Virgínia Quaresma, com uma inconsequência perfeitamente infantil – que “quem fere hoje o ‘Jornal da Mulher’ é a mesma pessoa que feriu ontem na sombra a secção feminista da Liga Portuguesa da Paz e a perseguiu com um ódio mortal”, etc., etc. // Ora isto é absolutamente falso. E quando se fazem insinuações de tal ordem, de um carácter todo pessoal, tem-se a coragem de provar o que se insinua. // Mas a sr.ª D. Virgínia Quaresma, no seu papel de paladino, entusiasmou-se ao ponto de ficar cega e não duvidou esgrimir contra os moinhos... // Sua excelência sabe tão bem como eu que nunca hostilizei a Liga Feminista da Paz, nem à luz nem à sombra... Não a hostilizei, porque não queria hostilizá-la, desde que a sua presidente  era D. Olga Sarmento da Silveira e a sua secretária D. Virgínia Quaresma – senhoras a quem, por vários motivos, eu não pretenderia jamais agredir. // E seja dito de passagem: nem o meu artigo sobre o ‘Jornal da Mulher’ representa uma agressão, ainda menos uma agressão pessoal, sabido que seja, como posso provar, que à data em que o escrevi, eu ainda ignorava quem fosse a directora dessa secção do simpático e intrépido ‘Mundo’. // O que eu não fiz, fê-lo, porém, a sr.ª D. Virgínia Quaresma, respondendo com um artigo, que é um doesto, a uma apreciação aliás muito natural, muito familiar e muito desapaixonada, que eu fiz ao ‘Jornal da Mulher’. // Bagatelas... criancices... // Não me incomodou o artigo da sr.ª D. Virgínia Quaresma; mas faz pena que sua excelência inicie por tal forma a sua carreira de polemista. // De resto, posso responder ao desafio formulado no antepenúltimo período do cartel, que a sr.ª D. Virgínia me arroja – que... até ver, nunca é tarde... // E, sem agredir ninguém, sem molhar a pena no líquido intoxicado da insídia, é possível que um dia eu possa responder com factos a quem me exige mais do que retóricas... // Mas os meus processos de polémica serão sempre os mesmos por que me tenho guiado até aqui. Se a um homem cumpre não descalçar a luva, quando esgrime na imprensa, uma mulher deve fazer mais: - deve calçar luva até ao cotovelo. // No entanto, é preciso sermos indulgentes com a mocidade. E no caso a que venho aludindo... Criancices... bagatelas... // Maria Veleda.». 

[Vanguarda, p. 2, col. 2]

[Vanguarda || 30 de Julho de 1906]

[João Esteves]

Sem comentários: