* FEMINISMO *
"JORNAL DA MULHER" || 08/08/1906
Texto do “Jornal da Mulher” [O Mundo] sobre “Feminismo - Os direitos da mulher”:
«Feminismo - Os direitos da mulher
Já tivemos ensejo de provar, com dados históricos, num artigo feminista que recentemente publicámos, que o feminismo tem acompanhado, intimamente, todos os grandes impulsos de evolução social, e que nunca se pensa numa reivindicação de direitos democráticos que não se atenda à grave questão dos direitos e interesses da mulher.
O que se infere, portanto, logicamente disto? Que o feminismo, tal como deve ser compreendido e tratado, é um produto natural da civilização, das altas aspirações intelectuais e morais que a humanidade lentamente se esforça por concretizar e que a sua vitalidade, portanto, obedecendo a leis orgânicas, há-de acabar por vir a ser uma verdade evidente para todos os espíritos e uma necessidade eficaz para todos os meios sociais.
A França na nova câmara que organizou há dias, impôs-se uma grande obra democrática e social e, imediatamente, como parte integrante no seu programa, assim concisamente expresso nesta divisa, se alvitrou o lugar importante que nele devia ter a defesa dos direitos da mulher.
Foram os próprios deputados do actual governo que vieram para a imprensa sustentá-la.
Mostraram, energicamente, o direito que lhe assiste em dispor o seu salário, de forma que não continue a dizer-se, hoje, como Stuart Mill o proclamou cheio de indignação: “O casamento é presentemente a única escravatura reconhecida pela lei”. Discutiram, com entusiasmo, a sua situação económica e social, provando o direito e a necessidade que tem em se indicar e angariar meios de subsistência, em condições similares às do homem.
Declaram que é uma honra para a república democrática francesa interessar-se e defender os problemas feministas, como merecem.
E o “Grupo parlamentar de defesa dos direitos da mulher” termina por dizer: “Seremos felizes se não se puder continuar a dizer que os homens fazem as leis unicamente para si. Em democracia é preciso que se façam para todos, sobretudo, para vós, minhas senhoras, que há tanto tempo estais a obedecer e a sofrer”.
São estas as palavras proferidas pelos membros dum governo que se diz democrático, liberal e justo. Poderíamos agora perguntar, oportunamente, em nome da liberdade, da democracia e da justiça que o novo governo português traça, em caracteres berrantes, nos seus cartazes de recomendação, se já alguma vez pensou em estudar e defender a grave e desgraçada situação da mulher portuguesa?
Não pensou nem se tem lembrado dela no seu programa e o motivo é simples: - não pode contar com o seu concurso para os actos eleitorais e, portanto, seria supérfluo o trabalho de a deslumbrar com um engodo...».
[O Mundo, 08/08/1906]
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